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Veja publicação original: As perturbadoras acusações de assédio sexual contra o produtor Harvey Weinstein
Reportagem de Ronan Farrow na ‘New Yorker’ traz 13 relatos de mulheres sobre agressão sexual por parte do produtor.
A New Yorker publicou um artigo, na última terça-feira, detalhando acusações de agressão sexual e estupro feitas contra o executivo de cinema Harvey Weinstein. “Poucas mulheres se dispuseram a abrir a boca, muito menos permitir que um repórter as identificasse por nome, e Weinstein e seus associados usaram acordos extrajudiciais de sigilo, pagamentos em dinheiro e ameaças legais para suprimir esses múltiplos relatos”, escreve Ronan Farrow.
Farrow diz em seguida que ao longo de dez meses, ouviu “de 13 mulheres que, entre a década de 1990 e 2015, Weinstein as assediou ou agrediu sexualmente – alegações que corroboram e coincidem com as revelações feitas pelo ‘New York Times’ e que também incluem acusações muito mais graves”.
Sallie Hofmeister, uma porta-voz de Weinstein, divulgou um comunicado à New Yorker em resposta às alegações. “O sr. Weinstein nega inequivocamente quaisquer alegações de sexo não consensual”, diz o comunicado.
Leia na íntegra:
“O sr. Weinstein confirmou também que nunca houve atos de retaliação contra qualquer mulher que tivesse rejeitado seus convites. Evidentemente o sr. Weinstein não pode comentar alegações anônimas, mas, com relação às mulheres que fizeram as alegações abertamente, o sr. Weinstein acredita que todos esses relacionamentos foram consensuais. O sr. Weinstein começou a buscar ajuda psicológica, deu ouvidos à comunidade e está procurando seguir um caminho melhor. O sr. Weinstein espera que uma segunda chance lhe seja dada, se ele fizer progresso suficiente.”
As acusações incluem:
1) Áudio de Weinstein “gravado durante uma operação de grampeamento da polícia de Nova York em 2015”. Na fita, o executivo “admite ter bolinado uma modelo filipino-italiana chamada Ambra Battilana Gutierrez e descreve isso como um comportamento com o qual está acostumado.
2) A atriz e diretora Asia Argento alega que Weinstein “fez sexo oral forçado com ela”, algo que depois levou a encontros sexuais complicados que, segundo ela, a levaram a voltar atrás “à menininha que eu era quando tinha 21 anos”. Ela acrescentou: “Quando eu o vejo, me sinto pequena, estúpida e fraca. Depois do estupro, ele venceu.”
Argento disse que, depois de ter concordado a contragosto a fazer uma massagem em Weinstein, este puxou a saia dela para cima, abriu as pernas dela à força e fez sexo oral nela, enquanto ela lhe dizia repetidas vezes para parar. Weinstein “me inspirava pavor, e era tão grande”, ela disse. “A coisa não acabava nunca. Era um pesadelo.”
…Argento me disse: “Ele fez soar como se fosse meu amigo e me apreciasse de verdade.” Ela disse que teve relações sexuais consensuais com ele múltiplas vezes nos cinco anos seguintes, mas descreveu os encontros como unilaterais e onanísticos”.
3) Alegações de que muitos dos colegas e funcionários atuais e anteriores de Weinstein tinham conhecimento do comportamento dele.
Dezesseis ex e atuais executivos e assistentes nas empresas de Weinstein me disseram que testemunharam ou tiveram conhecimento de investidas sexuais e toques indesejados em eventos ligados aos filmes de Weinstein e no local de trabalho.
4) Atrizes disseram que viram as consequências de terem rejeitado as investidas sexuais de Weinstein.
Quatro atrizes, incluindo Mira Sorvino e Rosanna Arquette, me disseram ter suspeitado que, depois de terem rejeitado as investidas de Weinstein ou se queixado delas a representantes da empresa, Weinstein as afastou de projetos ou dissuadiu pessoas de contratá-las.
5) Lucia Stoller, hoje Lucia Evans, contou a Farrow sobre uma reunião com Weinstein em que ele primeiro a “bajulou” e depois a “aviltou”, para então agredi-la fisicamente a tal ponto que ela se sentiu forçada a “desistir”.
Na reunião, recordou Evans, “ele imediatamente ficou ao mesmo tempo me bajulando e me aviltando e fazendo eu me sentir mal comigo mesma”. Weinstein lhe disse que ela seria “ótima no ‘Project Runway’ – o programa, que Weinstein ajudou a produzir, estreou naquele ano – mas apenas se perdesse peso. “Foi depois daquilo que ele me atacou”, disse Evans. “Ele me forçou a fazer sexo oral nele.” Enquanto ela resistia, Weinstein tirou o pênis das calças e puxou a cabeça dela para baixo. “Fiquei repetindo sem parar ‘não quero fazer isso, pare, não, não'”, ela contou. “Tentei fugir, mas talvez eu não tenha tentado o suficiente. Eu não queria chutá-lo ou lutar com ele.” No final, ela disse, “ele é um homem grande. Ele me dominou.” Em dado momento, ela disse, “eu meio que desisti. Essa foi a parte mais horrível de tudo, e é por isso que ele vem conseguindo fazer isso com tantas mulheres há tanto tempo: as pessoas desistem de resistir e então sentem que a culpa é delas.”
6) Ambra Battilana Gutierrez contou a Farrow sobre um fato que aconteceu no escritório de Weinstein. Ela prestou queixa no Departamento de Polícia de Nova York, e isso levou à operação de grampeamento em que ela usou microfone oculto “para tentar arrancar uma confissão ou declaração incriminadora” de Weinstein. O áudio gravado está incluído na reportagem.
Guterriez chegou ao escritório de Weinstein em Tribeca no dia seguinte, no fim da tarde, levando seu portfólio de modelo. No escritório, sentou-se com Weinstein num sofá para olharem o portfólio, e ele começou a olhar para os seios dela, perguntando se eram de verdade. Gutierrez contou mais tarde a agente da Divisão de Vítimas Especiais da polícia de Nova York que Weinstein então avançou sobre ela, passando a mão nos seios dela e tentando colocar a mão debaixo de sua saia, enquanto ela protestava. Ele acabou desistindo finalmente e lhe disse que sua assistente lhe daria ingressos para “Finding Neverland”, uma peça na Broadway que ele estava produzindo. Disse que a encontraria na peça naquela noite.
7) Uma queixa registrada por Emily Nestor, que trabalhou temporariamente como assistente da recepção, também foi citada em um artigo do “New York Times” sobre alegações feitas a respeito de Weinstein. O artigo de Ronan Farrow descreve uma reunião que Nestor disse ter sido “a hora mais dolorosa e incômoda de minha vida”.
Ela disse que, depois de Weinstein lhe oferecer ajuda em sua carreira profissional, ele começou a se gabar de seus relacionamentos sexuais com outras mulheres, incluindo atrizes famosas. Falou ‘sabe, nos dois poderíamos nos divertir muito'”, recordou Emily Nestor. “Eu poderia levar você a meu escritório em Londres, você poderia trabalhar lá e ser minha namorada.” Ela recusou. Weinstein pediu para segurar a mão dela, ela disse “não”. Segundo o relato feito por Nestor, Weinstein falou: “As meninas sempre dizem ‘não’. Sabe, ‘não, não’. Depois tomam uma ou duas cervejas e se jogam em cima de mim.” Em um tom que Nestor descreveu como sendo “de orgulho esquisito”, Weinstein acrescentou que “nunca precisou fazer nada como Bill Cosby”. Ela presumiu que ele quisesse dizer que nunca tinha drogado uma mulher. “É uma coisa tão bizarra da qual se orgulhar”, ela disse. “Se orgulhar de nunca ter tido que recorrer a isso. Era simplesmente tão distante da realidade e das regras normais de consentimento.”
8) Weinstein alegadamente semeava notícias na mídia para que pudesse controlar a cobertura noticiosa relativa a ele e seus projetos.
Weinstein interrompeu a conversa com Emily Nestor para gritar ao celular, enfurecido com uma disputa que Amy Adams, atriz no filme de Weinstein “Grandes Olhos”, estava tendo com a imprensa. Mais tarde, Weinstein mandou Nestor ficar de olho nas notícias, prometendo que elas sairiam favoráveis a ele. Mais tarde no mesmo dia de fato saíram notícias negativas sobre seus adversários, e Weinstein passou pela mesa de Emily Nestor para perguntar se ela as tinha visto.
9) A atriz francesa Emma de Caunes acusou Weinstein de se exibir nu diante dela.
“Quando desliguei o telefone, ouvi o chuveiro aberto no banheiro”, ela contou. “Pensei, que merda é essa, ele está tomando banho?” Weinstein saiu do banheiro nu e com uma ereção. “O que você está fazendo?”, ela perguntou. Weinstein exigiu que ela se deitasse na cama e lhe disse que muitas outras mulheres já tinham feito o mesmo.
10) Weinstein operava em seu escritório com alguém que suas funcionárias mulheres descreviam como “isca”. Aparentemente, o objetivo era conseguir que mulheres ficassem a sós com ele.
A executiva disse que o que a incomodou especialmente foi o envolvimento de outros funcionários. “A impressão era quase que o executivo ou assistente era obrigado a servir de isca para atrair essas mulheres e induzi-las a sentir que estavam em segurança”, ela falou. “Então ele mandava o executivo ou assistente sair e ficava a sós com essas mulheres. E isso não parecia um comportamento apropriado ou seguro.”
Ronan Farrow é filho da atriz Mia Farrow e do diretor Woody Allen. Ele já foi alvo de atenção pública por falar publicamente sobre alegações de assédio e agressão sexual em sua própria família. Sua irmã Dylan Farrow alegou que Woody Allen a “manipulou”, tocando-a de modo inapropriado quando ela era pequena e agredindo-a sexualmente quando tinha 7 anos de idade. No ano passado Ronan Farrow publicou um texto longo no The Hollywood Reporter sobre sua relação complicada com essas alegações. Em última análise, falou, ele acredita em sua irmã.
O artigo na New Yorker saiu depois de o New York Times ter publicado uma reportagem na semana passada, dizendo que Harvey Weinstein fechou acordos extrajudiciais com pelo menos oito mulheres para calar suas acusações de assédio sexual.
Desde então, Weinstein foi demitido da produtora de cinema que ele próprio ajudou a fundar e outras celebridades como Angelina Jolie e Gwyneth Paltrow também revelaram que foram assediadas pelo produtor.
Leia a íntegra da reportagem de Ronan Farrow aqui.
Leia também: O exército de mulheres que denunciou o assédio de um ‘gigante’ de Hollywood
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