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Aplicativo de transporte exclusivo para mulheres

Saiu no site FOLHA NOBRE

 

Veja publicação original:   Aplicativo de transporte exclusivo para mulheres

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Segurança de motoristas e passageiras motivou iniciativa de empresária de Maringá

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Assédio sofrido enquanto dirigia em uma corrida por aplicativo em Maringá (Noroeste) foi o gatilho para que Cyntia Laporte pensasse em um aplicativo similar de transporte, exclusivo para motoristas mulheres e passageiras. Maringaense de 38 anos, ela começou o projeto há um ano e meio. O Motor Pink foi lançado em julho na Cidade Canção e a ideia da empresária é expandir para Londrina, Cascavel, Foz do Iguaçu e Curitiba nos próximos meses.

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“Eu nunca tive esse problema, no meu perfil está 'casada, dois filhos'”, conta Dayani Ariete
“Eu nunca tive esse problema, no meu perfil está ‘casada, dois filhos’”, conta Dayani Ariete | Ricardo Chicarelli

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“Quero tudo de melhor para elas, minha luta é essa. Que todas fiquem seguras em suas viagens”, explica. O medo ao transportar alguns homens e a insegurança também das passageiras foram fatores que motivaram a iniciativa. Um motorista de Uber chegou a ser preso em fevereiro deste ano em Londrina suspeito de ter estuprado uma jovem de 18 anos durante uma corrida. À época, a a Uber lamentou o caso, em nota, e disse que continuará a colaborar com as investigações. A empresa também salientou que não tolera qualquer tipo de comportamento criminoso e repudia qualquer comportamento abusivo contra mulheres.

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Laporte também era motorista de aplicativo “bem avaliada”, acrescenta. Mas sofreu na pele o que as passageiras relatavam sobre motoristas homens em Maringá e viu a oportunidade de criar um aplicativo exclusivo para elas.

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“Maringá também anda tendo muito assalto e quem assalta é, em maioria, homem. Com o Motor Pink, isso muda.” Muitas startups viram na insegurança da mulher um nicho a ser explorado: a exclusividade feminina. Mas, de acordo com a Uber, esse não é o foco da empresa, que “não prega a discriminação entre os gêneros”, além de afirmar que “incentiva ações de combate ao machismo”. Outra empresa, lançada por um homem, opera em Maringá com o foco exclusivo nas mulheres.

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Como o assédio às mulheres não é um problema exclusivo do Brasil, o primeiro aplicativo para elas foi lançado nos Estados Unidos, em 2016. Trata-se do SafeHer, idealizado por um casal de Boston. Pelo Brasil, algumas empresas semelhantes já operam em São Paulo. Segundo Edward de Souza Franco, da Amalon (Associação de Motoristas de Aplicativo em Londrina), o aplicativo Rode e Ganhe, em Londrina, também oferece a possibilidade de optar por motoristas mulheres.

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Laporte tem três associados na Motor Pink. “Valorizar a segurança da motorista e da passageira é meu propósito.” Para além do aplicativo, ela pretende iniciar projetos sociais de ajuda para elas. Em 21 dias de trabalho, o aplicativo de Laporte já conta com 240 motoristas e 7 mil usuárias cadastradas. Para trabalhar pelo aplicativo, as motoristas têm que tirar a licença de EAR (Exercício de Atividade Remunerada) para transporte no Detran.

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O aplicativo funciona para Android e iOS, mas, nesse último, precisa ser conectado por meio do aplicativo “Seu Motorista”. Hoje o produto vale R$ 150 mil e a plataforma é do Rio de Janeiro. “Daqui dois meses vou comprar uma plataforma melhor”, conta.

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Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 4 milhões de pessoas trabalham para empresas de transporte por aplicativo no País. Para Dayani Ariete, 31, a flexibilidade para parar de trabalhar e cuidar de seus filhos é a maior vantagem de atuar desta maneira.

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Ariete trabalhava com vendas, mas virou motorista da Uber em Londrina desde que ficou desempregada em novembro de 2018. “Tempo com as crianças eu não tinha, era muito corrido, nos aplicativos eu encontro tempo”, conta. Os aplicativos de transporte são o sustento de sua família. O marido dela atua pela Uber e 99 há dois anos. “Meu marido me apoiou, sabe que sou mulher que o que falou, está falado. No primeiro dia de Uber ganhei R$ 80.”

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A reportagem ouviu motoristas que, assim como Ariete, afirmaram não ter sofrido assédio em Londrina, mas já terem ouvido relatos de outras motoristas. “Eu nunca tive esse problema, no meu perfil está ‘casada, dois filhos’”, conta.

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Para segurança, além de um grupo no WhatsApp do qual participam as motoristas por aplicativo da cidade, ela usa um “rádio” para compartilhar com as companheiras a localização, a ida para as corridas e o retorno. “Já tive parceiras nossas do grupo que aconteceu da pessoa se masturbar dentro do carro. Tem mulher que relata que o homem pediu WhatsApp, mas se você não der brecha, acaba ali. Você está dirigindo, finge que não ouviu”, sugere.

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A pergunta frequente ouvida por Ariete assim que entram em seu veículo é “você não tem medo?”. “Medo? Medo a gente tem, a todo instante, em qualquer lugar que você sai da sua casa você está correndo risco, se pensar assim, não sai de casa”, responde. Por meio dos grupos de WhatsApp, ela estima que há “umas 300 motoristas” de aplicativo em Londrina, que são “extremamente unidas”.

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Trabalhando pela Uber e 99, Ariete reveza o carro com seu marido, que dirige à noite. Ela conta com a ajuda de seu companheiro, mas reconhece que há mulheres que são mães solteiras e que preferem o trabalho por aplicativo para poder fazer intervalos durante o serviço e cuidar dos filhos. Ariete tem uma menina de 11 anos e um menino de 6.“Tenho uma amiga que trabalha 24 horas para compensar o dia que ela não pôde trabalhar para ficar com a criança. Para ela, acaba sendo um pouco pesado.”

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“Nós, mulheres do Uber, tem muita gente que não vê que levamos o sustento para casa, cuidamos dos filhos, temos que chegar antes para fazer comida para jantar ou para almoçar no outro dia”, lembra. Além disso, as mulheres dos aplicativos são, muitas vezes, “psicólogas”, como explica a motorista. “A gente escuta todo mundo, ‘moça meu marido está me traindo, meu marido bebe”, relata.

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A remuneração das motoristas depende das horas trabalhadas. Ariete começa às 7h e vai até as 19h. Parte do dinheiro vai para as prestações de seu veículo, que utiliza para trabalhar. “Tem gente que ainda paga o aluguel do carro porque não tem nome para comprar um veículo, fica pesado”, comenta.

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O paradoxo do trabalho autônomo: ao mesmo tempo em que é liberdade, é também prisão. Perguntada sobre férias com o marido, Ariete diz que “não dá”. “Quando a gente fala em férias é que a gente está pensando em trabalhar em Santa Catarina por três meses. Levo minha mãe junto, que me ajuda muito”, diz.

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As motoristas ainda têm de arcar com o sedentarismo de quem fica sentada até quatro horas sem levantar. “Dirigir cansa. Levanta para abastecer e ir ao banheiro, não é igual homem que vai ao banheiro em qualquer lugar. A gente tem que ir ao posto e tem posto que não deixa.”

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DIFICULDADES

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Já houve quem olhou com “cara machista”, conforme conta Dayani Ariete. “Teve vez de o homem mandar mensagem falando que não pega corrida com mulher e pedindo para recusar corrida, e eu aceitando a corrida, três vezes. Ele que teria que cancelar”, conta.

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Ariete, no entanto, diz que teve mais problemas com mulheres do que com homens na profissão. No Dia dos Namorados, chegou a chorar por conta de uma passageira que a ofendeu por causa do batom vermelho. “Eu esperava respeito, ela é mulher, estava vendo que eu estava trabalhando, aquele dia fiquei chateada”, lembra. Há quem peça corrida para lugares distantes para buscar droga”, aponta. “A gente brinca que somos mais macho que muito macho. Se furar o pneu, eu troco.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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