Saiu no site AGÊNCIA PATRÍCIA GALVÃO:
Veja publicação original: ABL pode fazer história ao eleger Conceição Evaristo
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Por Miguel Arcanjo Prado
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Um abaixo-assinado com milhares de assinaturas na internet pede que a escritora mineira Conceição Evaristo, de 71 anos, seja eleita pela ABL (Academia Brasileira de Letras) para ocupar a cadeira de número 7, cujo patrono é o poeta baiano Castro Alves (1847-1871), uma das grandes vozes contra a escravidão na literatura brasileira, autor do famoso poema “O Navio Negreiro”.
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(UOL, 07/05/2018 – acesse no site de origem)
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Se os imortais ouvirem o apelo, a ABL poderá fazer história ao eleger para a mais tradicional entidade da literatura brasileira uma escritora mulher e negra.
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O objetivo da campanha é que a autora ocupe a vaga aberta com a morte do cineasta Nelson Pereira dos Santos no último dia 21 de abril.
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Autora de livros como “Ponciá Vicêncio”, “Becos da Memória”, “Poemas da Recordação e Outros Movimentos”, “Insubmissas Lágrimas de Mulheres” e “Histórias de Leves Enganos e Parecenças”, Conceição Evaristo tem nas tradições e cotidiano afro-brasileiros, sobretudo da mulher negra, boa parte da inspiração de sua obra.
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No ano passado, ela ganhou o Prêmio Claudia, o mais tradicional troféu destinado a mulheres do Brasil. E ainda é vencedora do Prêmio Jabuti, o principal da literatura brasileira.
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Segundo o abaixo-assinado que pede seu nome na ABL, Conceição Evaristo “rescreve a história do Brasil a partir do ponto de vista de quem a vivencia, desde a chegada forçada de seus ancestrais, a partir de todas as suas trágicas e cotidianas impossibilidades”
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Mulher negra com o tradicional fardão?
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O documento assinado pela professora de literatura da UFBA (Universidade Federal da Bahia) Denise Carrascosa ainda diz que “a este lugar de enunciação, Evaristo, assumindo a multifacetada tarefa da crítica e teorização literárias, nomeia “escrevivência” – tarefa intelectual negro-feminina por excelência de renarrar criticamente o imaginário social hegemônico brasileiro: profundamente elitista, patriarcal e racista e responsável pela falência de um projeto democrático de país”.
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O abaixo-assinado ainda reitera a importância de uma mulher negra entrar para a ABL, fundada por Machado de Assis, que era negro mestiço e é considerado o maior autor da literatura brasileira e “um crítico do sistema escravocrata que fundou as bases de nosso imaginário nacional”, segundo o documento.
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O texto ainda reforça que Castro Alves, patrono da cadeira de número 7 pleiteada para Conceição Evaristo, foi um autor que “escreveu criticamente sobre a escravidão a uma distância segura de não tê-la conhecido de fato” e que Conceição Evaristo é uma “intelectual negra que conheceu a escravidão desde sua linhagem ancestral e em seu corpo de mulher afrobrasileira que escrevive suas tragédias e potências contemporâneas cotidianas”.
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Conceição Evaristo nasceu em uma favela em Belo Horizonte, em uma família pobre com nove irmãos. Ela trabalhou como empregada doméstica para custear seus estudos. Aos 25, mudou-se para o Rio, onde formou-se em letras na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Depois, fez mestrado em literatura brasileira na PUC-Rio e doutorado em literatura comparada na UFF (Universidade Federal Fluminense). Ela é considerada pela crítica especializada uma das mais importantes autoras negras contemporâneas do Brasil.
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