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A história por trás da fotografia que viralizou nas redes sociais como se mostrasse uma menina síria

Saiu no site AFP

 

Veja publicação no site original: A história por trás da fotografia que viralizou nas redes sociais como se mostrasse uma menina síria

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Uma foto compartilhada nas redes sociais mais de 16 mil vezes desde 12 de dezembro de 2019 apresenta uma suposta menina síria sobrevivente da guerra que teria sorrido após o pedido de um fotógrafo. Entretanto, segundo relatos do autor da imagem tirada em 2017, trata-se de uma menina iraquiana e ele não pediu a ela que sorrisse para a câmera.

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“Um fotógrafo pediu um sorriso para uma MENINA da Síria. Esse foi o resultado. O mais próximo de um sorriso que esse anjo conseguiu expressar. Quem tem seus SONHOS ROUBADOS? Aquela PIRRALHA MARIONETE DA NOM. Ou, CRIANÇAS NA SÍRIAZ? Aliás! Greta SABE QUE ESSAS CRIANÇAS EXISTEM ???, diz uma das publicações, compartilhada mais de 11 mil vezes desde o 12 de dezembro.

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Por meio da busca reversa no Google foi possível encontrar a imagem em uma publicação no Reddit, onde um usuário citava como fonte a agência de notícias Reuters. De fato, no site da agência, há uma seleção de imagens chamada “Êxodo de Mossul” e, entre elas, a foto da menina chorando.

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“Menina iraquiana deslocada, que fugiu de sua casa, chora durante a batalha entre as forças iraquianas e os militantes do Estado Islâmico, perto de Badush, diz a legenda da imagem, em tradução livre do inglês, com data de 16 de março de 2017. A página, no entanto, não cita o fotógrafo responsável pelo registro.

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Ainda por meio da busca reversa, mas desta vez pelo buscador Yandex, o AFP Checamos encontrou reportagens sobre o tema,  que creditam a fotografia a Ali al-Fahdawi.

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Por meio do Instagram, a equipe de verificação da AFP no Brasil entrou em contato com Al-Fahdawi para saber mais detalhes a respeito da fotografia.

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O autor confirmou que a foto foi tirada em 16 de março de 2017 no seguinte contexto: “Eu estava na batalha com o Exército na linha de frente, e esta menina estava fugindo com sua família do bombardeio, indo na nossa direção, e na foto estava chorando. Quando ela me viu, eu sorri um pouco e no rosto dela havia um sorriso e tristeza. Foi o momento decisivo para tirar a foto”.

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Captura de tela feita em 13 de dezembro de 2019 da postagem no Instagram do fotógrafo Ali al-Fahdawi
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Nesta data, mais de 150 mil pessoas fugiram dos combates no oeste de Mossul e seus arredores, no Iraque, após o começo da ofensiva das forças iraquianas para reconquistar a cidade da região norte do país, na época reduto do grupo extremista Estado Islâmico (EI). Mais de 98 mil pessoas buscaram refúgio nos campos estabelecidos próximos a Mossul.

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Corroborando a história contada por Al-Fahdawi a respeito do momento em que tirou a foto, há a publicação de uma página no Facebook chamada “Women of Mosul” (“Mulheres de Mossul”, em tradução livre) que postou a imagem com a seguinte descrição: “A menina de Mossul ou Mona Lisa de Mossul é uma fotografia tirada pelo fotógrafo de guerra iraquiano Ali Fahdawi. Ganhou milhões de espectadores através das redes sociais. O olhar inocente da menina parou o fotógrafo que estava unindo forças em uma operação para libertar a região de Badush”.

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A postagem ainda dizia: “Esta menina com sua família escapou das forças do EI por uma estrada sinuosa e enlameada entre as colinas, sob um mau tempo e forte chuva. A menina caminhou 40 quilômetros por dois dias com os pés descalços. Quando o fotógrafo apontou a câmera para ela, seu rosto mostrou emoções mistas, de tristeza e medo, ainda marcadas pelo EI e pelo bombardeio, e um sorriso ao ver a primeira câmera apontada para ela”.

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O fotógrafo também contou ao AFP Checamos que procurou pela menina por três anos após fotografá-la pela primeira vez. Em sua página no Facebook, Al-Fahdawi publicou no último dia 4 de setembro o registro do encontro.

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Captura de tela feita em 16 de dezembro de 2019 mostra as fotos publicadas por Al-Fahdawi em seu Facebook
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Em 13 de dezembro, após contato da equipe do AFP Checamos, o fotógrafo Al-Fahdawi publicou em sua página no Instagram a imagem viralizada com a explicação de seu contexto e criticando a associação feita entre a ativista sueca Greta Thunberg e o conteúdo da fotografia.

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Segundo um levantamento publicado pelo Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) em março de 2019, mais de 370 mil pessoas morreram desde o início da guerra, em 2011. Além disso, quase 13 milhões de pessoas deixaram as suas casas. Citando o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), o OSDH indicou que 6,2 milhões de pessoas foram deslocadas dentro da própria Síria, enquanto 5,6 milhões de pessoas são refugiadas na região.

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Por sua vez, a postagem viralizada menciona a adolescente ativista sueca Greta Thunberg. Ela voltou aos holofotes depois que foi chamada de “pirralha” pelo presidente Jair Bolsonaro e por, no dia seguinte, ter sido escolhida pela revista norte-americana Time como a “personalidade do ano”.

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Em resumo, de acordo com o relato do fotógrafo responsável pela imagem, Ali al-Fahdawi, a menina que aparece nas fotos viralizadas é iraquiana, não síria, e ele não havia pedido que ela sorrisse para a câmera, já que não houve uma conversa entre os dois.

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