Saiu no site MATERNÓLATRA:
Veja publicação original: A cultura do machismo versus a luta feminista de cada dia
Desta vez, o mundo dos esportes escanara para nós que a discussão sobre gênero, equidade dos sexos e diferença salarial é ainda algo a ser superado
Estreio minha coluna aqui discutindo sobre a foto que literalmente bombou nas redes sociais nos últimos dias, desencadeando discussões ferrenhas acerca do machismo e do feminismo, refere-se a diferença do prêmio pago aos atletas Pedro Barros e Yndianara Asp, que participaram do Skate Park Internacional, em Itajaí/SC no último dia 28 de janeiro.
Com o título de “ache o erro”, internautas postaram as fotos dos campeões com seus cheques-prêmio com uma diferença gritante de valor; enquanto Pedro recebeu 17 mil reais, Yndianara, que é uma das maiores skatista do país, recebeu 5 mil reais, valor este mais que três veze menos se comparado com de seu colega de profissão homem.
Aqui cabe uma reflexão muito importante, já que a “chuva” de argumentos se apoiavam no fato de que eles competem em categorias distinta e de que esta é a primeira vez que aconteceu a categoria feminina.
Bem, aqui se inicia o problema, ou “X” da questão. Primeiramente, o fato deles estarem em categorias diferentes não significa que o trabalho de um (no caso dos homens) é melhor que o de outro e, portanto, passível de maior remuneração.
Sobre a justificativa de que em cada categoria há um investimento distinto, isso apenas reforça que, se de fato isso acontece, há de forma clara uma diferença entre os investimentos em homens e mulheres, reforçando que sim, há uma “dita” superioridade masculina em relação às mulheres também no skate. E essa questão engloba as manobras capitalistas de patrocinadores, audiência, perfil mais rentável etc. que podemos discutir em outro post.
O outro ponto que quero aclarar refere-se ao fato de ser a primeira vez que acontece a categoria feminina, e isso ser colocado quase como um “favor” às mulheres que, diante de um cenário altamente masculino, puderam ter a “chance” de se apresentarem em um evento importante e em mesmo nível dos homens.
O que acho mais preocupante no meio disso tudo é ter argumentos dizendo que a atleta nem estava preocupada com a diferença salarial, pois o mais importante é ter podido participar! Isso é legitimar a inferioridade da mulher enquanto sujeito inserido na cadeia produtiva/capitalista.
Pois bem, aqui que está estampada em letras garrafais a nossa cultura machista e patriarcal do dia a dia. Não podemos mais conviver com a ideia de que às mulheres, em pleno 2018, ainda caibam papeis secundários e que o dinheiro para elas não é tão importante quanto para os homens.
Diferentemente de muitas de nossas avós ou mães, hoje as mulheres são muitas vezes a chefe da família, é quem cuida dos filhos sozinhas, têm responsabilidades econômicas e sim, precisam e desejam ser respeitadas pelo trabalho desenvolvido, mesmo que seja para comprar coisas supérfluas.
Claro que acredito em diferenças entre corpos, não podemos negar que a biologia nos fez diferentes, não apenas em nossas genitálias (embora o social dê uma “ajudinha” e tanto para moldar os gêneros), mas, isso não significa jamais que um é superior ao outro.
O movimento feminista não é para elevar a mulher a um patamar superior ao do homem, mas sim, a um nível de equidade, sempre respeitando as diferenças, defendendo uma sociedade cujos papeis sociais possam ser compartilhados em “pé de igualdade”, cujo poder seja partilhado, em que as potencialidades sejam exaltadas em suas particularidades.
O feminismo é uma forma de libertar o homem e legitimar a mulher. A luta do movimento é para que o homem não tenha que carregar sozinho a necessidade de responder positivamente a tudo e, em contrapartida, ensinar as meninas desde cedo que elas podem (e devem) ser o que desejam e que seu sexo não seja um limitador em suas escolhas.
E sim, temos que comemorar a entrada das mulheres no campeonato, mas não podemos negligenciar os diretos tão duramente conquistados há anos, não podemos deixar que nossas meninas se contentem com um papel secundário se podem ser protagonistas.
O desafio aqui é que não deixemos de comemorar as vitórias das mulheres, mas que cuidemos para não achar desculpas para que essa persistente diferença se perpetue; a ideia é que tenhamos cuidado para não acharmos explicações para o que não se pode ser explicado.