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A arte no sangue de Júlia Dias

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Veja publicação original: A arte no sangue de Júlia Dias

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Por Franco Malheiro

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A arte chegou a Júlia Dias, 27, de forma natural. Filha de Maurício Tizumba, a cantora, atriz, percussionista e compositora lembra que as primeiras canjas que deu em um palco, ao lado do pai, foram quando ela tinha apenas cinco anos. Aprendeu música com Tizumba e, logo depois, resolveu seguir a carreira de atriz, estudando teatro com o Grupo Galpão e depois formando-se no Teatro Universitário da UFMG.
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“Minha escola musical é toda com meu pai. Principalmente a questão oral da nossa ancestralidade negra”, ressalta ela, que também é formada em jornalismo pela PUC Minas. Com essa consciência, Júlia fez da arte um local de resistência, e agora terá a oportunidade de homenagear no teatro outra voz negra poderosa, Elza Soares, definida por Júlia como uma “escola”. “A Elza é uma escola não só artística, mas também de vida, por tudo que ela passou como mulher negra, assim como nós”, ressalta cantriz.
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“Elza: O Musical”, com direção de Duda Maia e dramaturgia de Vinícius Calderoni, que tem estreia prevista para 12 julho, no Rio de Janeiro, selecionou sete atrizes-cantoras negras por meio de audições e testes. As escolhidas – além de Júlia, Larissa Luz, Janamo, Khrystal, Laís Lacôrte, Verônica Bonfim e Kesia Estácio – irão interpretar sete Elzas. Mas não serão cópias de Elza, adianta Júlia. “Não vamos imitá-la e nem interpretá-la. A ideia é trazer nossas histórias, de mulheres negras, para a dela, pois, de certa forma, elas se confundem um pouco. Todas temos a resistência e a luta como algo em comum”.

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Para a filha de Tizumba, é uma honra homenagear Elza ainda em vida. “Estou muito grata. É também muita responsabilidade, mas acredito que nos conectando com a nossa essência e com a nossa verdade de mulheres negras, conseguiremos fazer um belo trabalho e uma homenagem digna”, acredita a belo-horizontina.
Em três oportunidades Júlia pôde se encontrar com Elza, inclusive já cantou ao lado da diva, durante um show em BH, em 2016. “Eu acho uma das coisas mais bonitas da Elza a força que ela carrega de conseguir se reinventar. Ela é só força e beleza”, elogia.

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Carreira. Além de atriz, Júlia também se destaca na música. Aprendeu com Tizumba a tocar percussão, e ao lado do pai integra o grupo Tambor Mineiro, onde ministra aulas atualmente.

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Ela conta que foi com Tizumba que aprendeu a valorizar seu ofício. “Um dos maiores aprendizados que tive com meu pai é encarar a arte como ofício. É dela que vem o nosso ganha-pão. Fama e sucesso são consequências do trabalho. Antes de tudo, somos operários da arte”, define.

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No teatro, sua primeira peça foi em 2009, com o espetáculo “O Negro, a Flor e o Rosário”. Atualmente, integra a Companhia Burlantins e é uma das idealizadoras da Mostra Benjamin de Oliveira. Além disso, faz parte do Coletivo Negras Autoras, atuando como compositora, cantora e instrumentista. Polivalente, é regente também do conjunto percussivo da Associação Cultural Tambor Mineiro. Ainda no teatro, Julia integra o elenco dos musicais “Zumbi”, “Oratório”, “Clara Negra”, “O Negro, a Flor e o Rosário” e “Madame Satã”.

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No cinema, gravou uma participação no longa “Além do Homem”, de Willi Biodani, com estreia prevista para junho. “Foi um boa experiência. Sinto que preciso explorar mais o universo audiovisual. Gostaria de ainda atuar em mais filmes”, afirma ela.

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Atualmente, Júlia vive no “bate-volta” entre Rio e Belo Horizonte, para poder trabalhar, ensaiar e também rever a filha e a família. “Tenho minha família em Belo Horizonte, aqui moram minha filha e meu marido. Vou ao Rio para trabalhar, mas preciso voltar correndo, pois a saudade aperta”, diz. Segundo ela, a rotina não pesa, pois já se acostumou com o batidão. “Quem trabalha com arte, precisa se acostumar com a correria. Viver de arte no Brasil demanda alma guerreira”, determina.

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Espetáculos 

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“Clara Negra”, da Companhia Burlantins
“O Negro, a Flor e Rosário”, da Companhia Burlantins
“Madame Satã”, Grupo dos Dez
“Zumbi”, com direção de João das Neves
“Oratório”, da Companhia Burlantins
“Saga de Dom Quixote”, Companhia Burlantins
“Era”, Negras Autoras
“Negr.a”, Negras Autoras

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Bandeiras de mulheres negras são atuais 

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Com o recente e triste episódio do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), Júlia Dias, uma das sete Elzas do musical, afirma que tratar da força, do lugar e do empoderamento da mulher negra – sobretudo retratar e homenagear uma artista mulher como Elza Soares – é bastante simbólico e torna-se ainda mais necessário diante do período pelo qual passa o Brasil.

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“É muito simbólico que Marielle, uma mulher negra, tenha sido assassinada no Rio, onde vamos estrear o musical. Esse espetáculo é composto apenas por mulheres negras, homenageando uma mulher negra com a história de vida dura como a da Elza”, ressalta.

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Para ela, no Brasil ainda é muito difícil ser uma mulher negra. “Infelizmente, as bandeiras que Elza sempre levantou, e que outras mulheres também levantaram, ainda são atuais e necessárias. Esse espetáculo será mais uma batalha, dentro da arte, que temos que travar diariamente. Mas seguimos resistindo, lutando e levantando nossas bandeiras. O que tiver que ser mudado, iremos lutar para mudar, sempre”, conclui Júlia.

 

 

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