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Por que chamar mulheres de meninas nos faz mal

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Já repararam que nós raramente nos referimos a homens adultos como garotos ou meninos? Esse tratamento é reservado a crianças e adolescentes, como deveria ser com as mulheres

Eu tenho matutado sobre o assunto que quero tratar nesse texto desde que vi um vídeo no canal da Mayim Bialik – você pode conhecer ela como a Amy Farah Fawler de The Big Bang Theory ou, se fizer parte da turma dos 30 como eu, como a protagonista de Blossom.

A Mayim era uma dessas crianças prodígios que dançava, atuava, tocava instrumentos e fazia sucesso, e que depois sumiu da fama por vários anos para ressurgir na série que ajudou os nerds a entrarem na moda. O que nem todo mundo sabe é que, assim como sua personagem, a Mayim é PhD em neurociência, e nesse vídeo ela fala sobre a importância de pararmos de chamar mulheres de garotas ou meninas.

Segundo ela as palavras que escolhemos para descrever a nossa realidade influenciam a forma como as abordamos. Por mais que a intenção de alguém ao nos chamar de menina ou garota possa até ser carinhosa, isso afeta a forma como nós somos vistas e nos vemos perante a sociedade.

Usar substantivos infantis para se referir a mulheres adultas as coloca inconscientemente um patamar abaixo dos homens adultos, como se não fossem capazes de assumir responsabilidades da mesma forma que eles.

Já repararam que nós raramente nos referimos a homens adultos como garotos ou meninos? Esse tratamento é reservado a crianças e adolescentes, como deveria ser com mulheres também.

Eu realmente fiquei pensando no impacto da linguagem em nossa percepção do mundo por tanto tempo que fiquei esperando a oportunidade de fazer um teste empírico. E recentemente a chance apareceu:

Conheci um colega estudante e trocarmos informações sobre as nossas áreas de estudo, ele achou interessante o tema de uma das redações que eu estava escrevendo para uma disciplina e falou que eu “parecia ser uma garota inteligente”. Há! Foi a minha deixa. Quando ele terminou de falar sobre um de seus trabalhos devolvi o elogio dizendo que ele parecia ser um garoto inteligente. Diferente de mim, que deixei o detalhe passar, ele interrompeu nossa conversa para me corrigir: “eu sou um homem adulto, não um garoto”. Pois é, somos os dois adultos, repliquei. Se ele percebeu não tenho certeza, na hora não quis me dar ao trabalho de explicar, mas agora acho que era o que deveria ter feito.

Pode parecer tempestade em copo d’água, como muitos homens (e mulheres) comentaram no próprio canal da atriz. Afinal de contas, é apenas um nome, não?

Mas de tanto ser chamada de garotas, será que não passamos a agir assim?

Você pode gostar de caderno de princesa da Disney e purpurina o quanto quiser, mas quantas mulheres não agem como garotas apenas para agradar? A professora e socióloga Jane Elliott tem uma fala interessantíssima no documentário Olhos Azuis, que apesar de ser sobre racismo, toca exatamente nessa questão: ela recomenda a uma das participantes do experimento ir além da beleza, usando a palavra em inglês “cute”, que também pode usada para fofa. Seu conselho é que mulheres deixem de agir como fofas pois “mantemos as mulheres em seu estado infantil usando esses nomes. Se quiserem ser levadas  a sério, sejam sérias.”.

Então fica aqui o convite para refletir sobre algo que percebi que me afeta sem que eu me dê conta:

Quantas vezes você, mulher adulta, independente, capaz e bem informada se sentiu constrangida em dar sua opinião quando cercada de homens adultos?

Eu posso dizer que eu já me peguei me policiando e deixando de dizer algo por que iria parecer boba ou inexperiente para depois ouvir os homens dando opiniões menos embasadas que as minhas ou até mesmo fornecendo informações erradas. Que frustração saber que poderia ter feito a diferença e deixei que esse sentimento entrasse no caminho.

É por isso que temos que continuar procurando entender o significado dos termos que usamos e por que os usamos. Dar nome aos bois. Para quem quiser saber mais sobre o que a Mayim cita sobre a importância da linguagem, ela está se referindo ao relativismo linguístico, uma hipótese proposta nos anos 1930 pelos linguistas Edward Sapir e Benjamin Lee Whorf, que propõem que não só nossos pensamentos e raciocínio são diretamente influenciados pela fala, mas também pelo idioma que falamos.

E já que estamos falando de nomes, da próxima vez vamos falar sobre a origem do nome feminismo e por que continuamos usando ele. Apósto que você já ouviu e quem sabe até falou a frase “se é sobre igualdade por que só para mulher?”

 

 

 

 

PUBLICAÇÃO ORIGINAL: Por que chamar mulheres de meninas nos faz mal

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