SAIU NO SITE COSMOPOLITAN:
Você lê notícias de marido que espanca esposa no seu Facebook ou fica sabendo que o namorado de uma conhecida ameaçava terminar a relação se ela não transasse com ele sempre que o cara quisesse e pensa: “Que absurdo! Ainda bem que o meu relacionamento é zero abusivo”. Será? É verdade, estamos cada vez mais conscientes dos nossos direitos e limites de consentimento, mas ainda tendemos a associar violência doméstica a agressões físicas ou sexuais. Não à toa, quando o Instituto Avon e o Data Popular perguntaram a mulheres se elas já haviam sofrido violência do parceiro, apenas 8% admitiram que sim.
Quando foram citadas ações como proibir que elas saíssem sozinhas para se divertir ou humilhá-las em público, o número subiu para 66%. Para não restar dúvidas: “Violência é quando você tem algo feito contra a sua vontade, consentimento ou direito”, explica Beatriz Accioly, antropóloga e pesquisadora da Universidade de São Paulo especializada em estudos de gênero e violência contra mulheres. E sempre que isso for padrão em um relacionamento para exercer poder e controle sobre o outro é abuso, sim. As agressões morais e psicológicas podem doer tanto quanto as físicas – e você pode estar passando por elas sem nem perceber. Ou melhor, percebe (e muito bem) o modo como seu parceiro a trata, mas acaba tomando aquela ofensa ou piadinha – sabe quando ele “brinca” que você é burra porque não entendeu o filme do Oscar na frente de toda a galera? – como “coisa dele”, “besteira”. Alto lá! Constrangimento, ridicularização ou qualquer outra conduta que lhe cause dano emocional ou diminuição de autoestima são atitudes criminosas – pesado, mas real. Basta consultar a Lei Maria da Penha. Esse tipo de comportamento merece um alerta na relação. “Essas microviolências, quando não cortadas, podem crescer e se transformar em algo ainda maior. Além disso, trazem inúmeras consequências psicológicas”, alerta Carlos Eduardo Zuma, psicólogo e fundador do Instituto Noos, que atua na prevenção da violência intrafamiliar e de gênero. Lembrou-se de quando o boy te disse “Nem vou discutir porque você está surtada” só porque você não curtiu uma atitude dele ou menosprezou sua promoção no trabalho para continuar se sentindo superior a você? Desmascare essas atitudes e deixe claro que abuso só se for de igualdade.
Sinais de que você vive um relacionamento abusivo
Você tem medo de discutir qualquer problema
Porque sabe que toda a conversa vai ser distorcida a favor dele e, no final, vai receber algum insulto para abalar sua autoestima ou, no mínimo, ser tachada de louca. Mesmo que você tenha c-e-r-t-e-z-a de que está certa. É o famoso gaslighting, termo que vem bombando nas redes sociais. “Existe um estereótipo de gênero em que as mulheres são as descontroladas e os homens, mesmo quando perdem os limites, estão apenas colocando as coisas no devido lugar”, diz a psicóloga Ligia Baruch, de São Paulo, que tem como foco de pesquisa gênero e relacionamentos afetivos. Mas isso é grave e significa que nossa opinião é completamente desqualificada e inválida. “Chegou um momento em que eu até evitava discutir, porque sabia que meu namorado inverteria o jogo e eu sairia como a louca que estava de TPM – mesmo quando eu não estava!”, conta a atendente Samanta Santana, 20 anos, de São Paulo.
Ele faz você parecer estúpida
Seja a sós, agindo como se você não tivesse capacidade para entender como a Terra é redonda e o céu é azul, seja na frente dos amigos, achando engraçado tratá-la mal. “Até mesmo minha falta de habilidade para mexer em caixas eletrônicos era motivo para meu ex fazer piada e deixar claro para toda a minha família e amigos que, como uma criança, eu não sabia fazer nada sozinha”, diz a secretária Marcela*, 23 anos, do Rio de Janeiro. Para não ficar na dúvida se ele não é apenas uma pessoa inconveniente, preste atenção na frequência com que faz isso, se a atitude é generalizada ou só com você e que importância ele deu ao caso quando você comentou que não se sentia à vontade com esse tipo de comentário, orienta Beatriz. Hora de acabar com essa naturalização de que o homem é o provedor da fala e a mulher, a burra.
Ele nunca diz que está chateado
Ou magoado, inseguro ou qualquer outra coisa que demonstre que não é assim tão superior e perfeito. Em vez disso, a faz sofrer, inclusive com chantagens emocionais, para que se sinta tão mal quanto (ou pior que) ele. A terapeuta ocupacional Ana Barbosa, 25 anos, de São Paulo, sabe bem o que é isso: “Falei para o meu namorado que gostaria de ir a uma festa com minhas amigas. Ele começou a gritar, falou que não tinha cabimento sair sem ele e ameaçou terminar comigo caso eu fosse”. Não caia no discurso de que ciúme é sinônimo de amor. O que esse sentimento demonstra, na verdade, é posse – você só tem medo de perder aquilo que lhe pertence.