SAIU NO CLAUDIA:
Marianna Lively sofreu perseguições após ter sua ficha de alistamento militar divulgada online. A União pagará 60 mil reais de indenização por danos morais
Ela, no entanto, está ainda mais feliz por ter feito seu papel de cidadã e por conseguir garantir seus direitos na sociedade. “Para mim foi algo gratificante receber essa notícia, me deixou feliz, que consegui impor respeito, coloquei meu papel de cidadã na sociedade. Eu tenho ido atrás dos meus direitos, não tenho deixado passar batido. Acho que isso foi um marco e que sirva de lição, que não repitam isso, espero que eu seja a última pessoa que tenha passado por isso”, afirmou ela em entrevista ao G1.
Marianna também expressou suas indagações acerca da postura que o serviço militar adotará daqui para frente com relação aos transexuais. “O serviço militar não deu nota sobre o que vai fazer com base de transexuais e travestis no alistamento obrigatório. Espero que eles tomem providências, que possam dispensar as meninas logo quando entrarem com o pedido de reservista e que esse caso não tenha de ocorrer novamente”.
A jovem, que mora atualmente em Londres e espera retornar logo ao Brasil, contou ao veículo que toda essa situação assustou muito não somente ela, como também sua família. “É triste, pois eu sei que não fui a primeira garota a sofrer isso. Muitas meninas me mandaram mensagens dizendo que já havia acontecido com elas em outros estados do Brasil. Foi um choque, algo que não eu não esperava, algo que não tem como falar como foi horrível, me machucou muito. Tenho trauma em andar em público e se eu vejo uma pessoa com celular levantado eu entro em desespero, me sinto muito mal. Espero que isso não venha a acontecer de novo”, reflete a jovem.
A HISTÓRIA E O OUTRO LADO
Marianna contou ao G1 que tudo aconteceu muito depressa. Ela se alistou próximo às 7h e no início da tarde, quando seus dados e fotografias já haviam sido divulgados, passou a receber diversas ligações de pessoas que a procuravam pelo seu nome de registro – que já não utiliza desde os 15 anos de idade. Além do nome e dos telefones, seu endereço também foi vazado, o que fez com que muitas pessoas desconhecidas aparecessem no portão de sua casa.
A jovem e sua mãe decidiram falar com o comandante do quartel sobre o que estava acontecendo e, de acordo com Marianna, não foi de grande ajuda. “Ele pediu desculpas pela infantilidade dos soldados, mas me pediu para deixar a poeira baixar e pediu para eu trocar o número do celular para cessar as ligações. Como se isso resolvesse o problema de terem divulgado meu endereço e meus documentos todos”, contou ela na época.
A reportagem do G1 procurou o Exército que, até o momento da publicação da matéria, não havia se manifestado. No entanto, a instituição divulgou uma nota dizendo que “não discrimina qualquer pessoa em razão da raça, credo, orientação sexual ou outro parâmetro. O respeito ao indivíduo e à dignidade da pessoa humana, em todos os níveis, é condição imprescindível ao bom relacionamento de seus integrantes com a sociedade”.
Ainda em 2015, constava na nota que o Exército tinha conhecimento do ocorrido e já havia instaurado um Inquérito Policial Militar para apurar o caso e responsabilizar os envolvidos. Também figurava no comunicado que a instituição “não compactua com este tipo de procedimento e empenha-se, rigorosamente, para que eventuais desvios de conduta, sejam corrigidos, imediatamente, dentro dos limites da lei. O autor das fotos e o responsável pela divulgação das imagens e dos dados pessoais da jovem ainda não foram identificados”.
PUBLICAÇÃO ORIGINAL: Transexual que teve ficha do Exército vazada recebe indeniza