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Por que as mulheres permanecem em relacionamentos abusivos com homens?

SAIU NO SITE TODAS FRIDAS:

Toda vez que vemos uma mulher sofrendo em um relacionamento nocivo a ela, nos perguntamos o porquê disso, mesmo que algumas de nós já tenhamos passado por algo semelhante, é sempre o questionamento que fica. “Como ela ainda não largou esse homem?” ”Por que ela se permite sofrer desse jeito?” “Não seria melhor ficar sozinha?”

São inúmeros questionamentos os quais fazemos, porque é difícil entender como  alguém se sujeita ao sofrimento.

Bem, como uma mulher que já esteve em relacionamentos abusivos não uma, mas algumas vezes, reuni informações relevantes sobre o porquê de a mulher  permanecer nesse tipo  de relacionamento, visando fatores sociais sobre nos mulheres.

Vamos começar falando sobre os fatores emocionais.

Mulheres são socializadas para serem seres humanos dependentes. Ensinam-nos a sermos dependentes, frágeis, sentimentais, a precisar sempre de alguém (filhos, maridos) para nos sentirmos completas. Nossa existência está sempre relacionada a depender de algo ou alguém exclusivamente. Toda vez que reforçamos estereótipos femininos nas crianças, estamos submetendo elas a essa socialização de dependência emocional e afetiva de alguém, particularmente de um homem.

Nos mulheres somos basicamente criadas para procriar e constituir uma família padrão onde o nosso papel já foi predefinido: o de mães e esposas.

Desde cedo nos ensinam como uma mulher deve agir e se portar socialmente, enquanto os homens são incentivados a serem fortes, independentes, a não se envolver muito sentimentalmente, a não se apegar, a serem sempre os condutores nas relações afetivas, nós mulheres aprendemos a esperar pelo príncipe encantado, o herói que vai nos  ajudar a construir nossa jornada nesse mundo onde sozinhas não seremos nada, segundo eles.

Ninguém nos disse que poderíamos seguir só se quiséssemos, ninguém nos contou, que nós não precisaríamos ser mães e esposas de alguém para nos sentirmos completas, ninguém nos disse que nós poderíamos apenas transar, e que não precisávamos nos envolver emocionalmente como fizeram com os meninos. Ninguém nos fez entender que haveriam outras opções na vida como trabalho e estudo ao invés da maternidade e do amor romântico “o qual TODA mulher deseja” que a gente frequentemente vê nos filmes.

A gente consegue ver com frequência um adolescente menino, dizendo que não quer ser pai. E geralmente eles não querem mesmo, a paternidade a eles não é imposta como a maternidade é imposta a nós. A responsabilidade de se  ter filhos, sempre recaiu sobre a mulher, por isso, por causa da socialização escrota que os homens recebem, eles não se sentem responsáveis quanto a gravidez da mulher por exemplo.

Já nós, mulheres, desde cedo somos ensinadas com nossas bonecas por exemplo a desejar sermos mães, o desejo pela maternidade não é  algo natural da mulher, e sim uma construção social, nós fomos ensinados a sermos mães, da mesma forma que fomos ensinadas a depender  e esperar sempre pela figura masculina nos relacionamentos em geral.

Nossa dependência afetiva vem da socialização que recebemos como mulheres. Umas somos mais dependentes, outras menos, isso vai depender de vários fatores na nossa construção social, emocional, mas basicamente a mulher foi criada para ser dependente de um homem, e a sociedade reforça isso pra gente todo dia.

“Olha La a solteirona!” “Ih vai ficar pra titia” “Todas as suas amigas tem um namorado, menos você” “Ninguém te quer” “Você vai morrer sozinha”.

Nós precisamos ensinar as nossas meninas que: Não tem problema ficar sozinha, não tem problema não querer ter um homem ao seu lado, não tem problema nenhum em você só querer estudar e trabalhar e não querer ser mãe e constituir família! Você mulher pode sim ser o seu único e maior amor.

Além da dependência emocional, muitas mulheres são dependentes financeiramente de seus companheiros. Essa situação no geral se da pelo fato da mulher não ter acesso ao mercado de trabalho, possuir os piores salários e ter acesso a trabalhos com menores remunerações e profissões que exploram a sua classe.

80% das mulheres seguem em profissões como: Professoras, manicures, funcionárias pública, ou serviços de saúde, mas maior concentração está nos serviços domésticos remunerados.  Essas, maioria negras e com baixa escolaridade. O Total de mulheres no trabalho precário e informal chega a 61% e dos homens 54%. A mulher negra tem taxa de 71% superior a dos homens brancos, e 23% delas são empregadas domésticas.

Muitas mulheres estão presas a relacionamentos abusivos por questões financeiras também. As vezes, o relacionamento representa uma certa comodidade para a mulher e para os filhos, a qual ela tem medo de perder. Existe um grande número de mulheres “donas de casa”, sem formação acadêmica, presas em relacionamentos nocivos por medo de não conseguirem se encaixar no mercado de trabalho, ou de sustentar os filhos sozinhas, já que o valor estipulado em lei para a pensão alimentícia dos filhos na maioria dos casos não supre nem metade do orçamentos e gastos envolvendo o cuidado com os filhos.

Com o trabalho doméstico não remunerado, a mulher contribui significativamente com a renda familiar e o sucesso laboral do marido (o homem), que economiza com empregada doméstica, passadeira, babá, e conta cada vez menos com as preocupações cotidianas, já que a mulher irá se responsabilizar por todas elas.

Estar em um relacionamento abusivo com um homem, é reforçar estatísticas de mulheres que são dependentes afetiva e emocionalmente, ou financeiramente de seus companheiros. Muitas mulheres nessas situações não aguentam mais fazer parte deste quadro, estão sofrendo e insatisfeitas mas não conseguem se desvencilhar da carência afetiva, do pensamento que não o  suficiente para si mesmas, ou que não vão conseguir uma pessoa melhor, ou até mesmo o medo de ficar sozinha, afinal, foram socializadas para se sentirem assim. Todas fomos.

O olhar da sociedade para uma mulher sozinha ainda é cheio de julgamentos, ainda mais quando a mesma possui filhos, nesse caso as coisas se tornam ainda piores, pois uma mulher sozinha e com filhos, tem as portas sociais fechadas para o trabalho, estudo, e até mesmo outro relacionamento, pois ninguém quer uma mulher  “com bagagens”.

Por causa da socialização, também somos mais propensas a desequilíbrios emocionais, esse cujos fatores são desenvolvidos ao longo da vida como mulher, com abusos, violência, maternidade e seus problemas, etc.. A maior incidência em depressão, por exemplo, está relacionado a sofrer algum tipo de violência ou agressão, no caso, como mulheres vivendo nessa sociedade, é quase impossível levar uma vida inteira ilesa de ser agredida de alguma forma.

PAPYRUS, uma organização de caridade que foca na prevenção de suicídios entre jovens,descobriu que as questões de baixa autoestima, e abusos emocionais e físicos, são frequentes entre mulheres jovens suicidas.

A sociedade em que vivemos nos proporciona dor o suficiente enquanto mulheres. Eles nos ensinam a sermos inferiores e fracas, frágeis e dependentes, submissas e carentes. Somos guiadas praticamente as doenças psicossomáticas com tanta carga de abusos e agressões físicas e emocionais. Eles nos dão os piores e mais inferiores espaços no trabalho, isso quando não nos empurram para a pornografia e prostituição. Nos relacionamentos heterossexuais, a responsabilidade de manter a relação nos eixos, é nossa, e se algo vir a dar errado, a culpa é apenas nossa, segundo nos ensinaram.

Se o cara te deixou foi por que você era uma ciumenta louca, ou por que não fazia sexo direito ou o suficiente.

Se somos agredidas, a culpa é nossa também, certamente merecemos.

Eles nos cercam de tal forma que nos vemos presas em relacionamentos de bosta, onde recebemos menos que nada dos nossos companheiros, por que a sociedade nos ensinou a aceitar menos que nada, e a nos doar sempre por inteira até que não sobre mais nada de nós para nós mesmas.

Relacionamentos abusivos prendem diversas mulheres em teias sem fim diariamente, e a sociedade só cria cada vez mulheres mais frágeis e dependentes, ensinando desde cedo como uma mulher deve ser e agir, quais os estereótipos seguiremos. O incentivo ao estudo e ao trabalho, nós não recebemos, já o de sermos mães, é quase uma lavagem cerebral. Nos consideram inferiores, por isso nos é destinado os trabalhos inferiores, menos remunerados, os que exploram nossos corpos como carne em um açougue, para uso e beneficio do homem.

Não temos autonomia afetiva e muito menos financeira, e ficamos cada vez mais a mercê de relacionamentos abusivos.

É importante frisar que, QUALQUER relacionamento que envolve relações de poder, como entre negros e brancos, homens e mulheres, burgueses e pobres, pessoas mais velhas com pessoas bem mais novas, podem ser abusivos,  mas o objetivo desse texto foi citar os motivos pelos quais muitas mulheres estão presas em relacionamentos abusivos em relações heterossexuais, pois são as que mais tendem a ser abusivas por envolver questões de gênero e gênero é hierarquia, e nós vivemos em uma sociedade machista. Importante destacar também que tudo a que as mulheres no geral estão propensas, as mulheres negras e indígenas ainda mais, por envolver racismo, e nós vivemos em uma sociedade racista também, onde a mulher negra e indígena, ainda estão abaixo da mulher branca na pirâmide social.

 

 

 

Mãe Solo, 31 anos, Administradora e Editora da página TODAS Fridas e integrante do coletivo TODAS Fridas. Virginiana chata com lua forte em Áries. Luto pela abolição de gêneros e consequentemente de seus papéis impostos socialmente e pré definidos a partir do sexo que se nasce.
Sonho e me empenho em tornar o mundo um lugar onde TODAS nós mulheres possamos viver em paz, onde a minha filha e suas filhas sejam livres, donas de si, ocupem os espaços que desejarem, sejam empoderadas, emancipadas e respeitadas enquanto MULHERES.

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