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Mulher: como romper o ciclo da violência?

Saiu no site CAPITAL NEWS

 

Em menos de 6 meses Mato Grosso do Sul registrou 15 casos de feminicídio, metade de 2023

 

O número de casos de feminicídio aumentou no Brasil segundo o relatório publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O documento divulgado em março deste ano apontou que 1.463 mulheres foram vítimas desse crime em 2023.

Em Mato Grosso do Sul, em menos de seis meses o Estado já registrou 15 casos de feminicídios, metade do que foi registrado em todo ano passado. Os dados são da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública.

A última vítima foi a Aline Mayara Boni, uma jovem de 24 anos encontrada morta com tiros na cabeça, dentro de casa, no município de Iguatemi. O ex-companheiro é suspeito do crime. Mas o que faz essa onda de violência contra as mulheres persistir?

Renata Silva/Capital News

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As dificuldades para as mulheres romperem com o ciclo da violência se deve a diversos motivos, dentre eles: crenças religiosas de obediência e medo

São vários os motivos que fazem com esse tipo de crime persistam, dizem os especialistas. O Capital News conversou com uma psicóloga especialista em atendimento a mulheres vítimas de violência doméstica, a Giseli Oliveira. A profissional é especialista em Terapia Cognitivo Comportamental e outras formações como a Sistêmica Familiar, Psicologia Positiva e Trauma informed.

1. Capital News: Você é psicóloga e atende muitas mulheres vítimas de violência doméstica. Quais os principais casos que vc identifica presente na sociedade?

Giseli Oliveira: Atendo todo tipo de psicopatologias e dentre as situações de violência atendo mulheres que já sofreram violência sexual na infância e sofrem com suas sequelas na vida adulta e mulheres que sofrem violência verbal e psicológica nos relacionamentos.

2. Capital News: Como é o ciclo da violência? Existe uma sequência de agressão? Como por exemplo: iniciar com a psicológica e depois física, etc.

O ciclo de violência geralmente inicia de uma maneira tão sutil que poucas são as mulheres que conseguem identificar

Giseli Oliveira: O ciclo de violência geralmente inicia de uma maneira tão sutil que poucas são as mulheres que conseguem identificar, são comentários depreciativos, exposições diante de amigos em tom de brincadeira, pequenas sabotagens para dificultar ao máximo que ela consiga concluir algum projeto e por fim tenha que ficar em casa, gritos e palavrões ao serem contrariados ou questionados em suas atitudes grosseiras ou suspeitas de traição, até chegar a violência física começando com empurrões, ameaças e por fim agressões violentas. Logo em seguida o agressor age como se nada tivesse acontecido, fazendo agrados, principalmente em público.

3. Capital News: Da violência psicológica ao feminicídio. Por que esse crime é tão frequente?

Giseli Oliveira: Esses crimes contra as mulheres são tão frequentes e até aumentam pelo fato do nosso passado recente ter sido marcado pela subjugação feminina, uma luta também recente por liberdade por meio dos movimentos feministas e a oposição masculina numa busca de autoafirmação que esconde uma insegurança e incapacidade de lidar com essa nova configuração social de direitos iguais entre os gêneros.

4. Capital News Há vários casos em que a mulher insiste em permanecer num ambiente de violência, eu diria até que é a grande maioria. Por que é tão difícil para a mulher romper o ciclo de violência?

As dificuldades para as mulheres romperem com o ciclo da violência se devem por diversos motivos, dentre eles: crenças religiosas de obediência, medo

Giseli Oliveira: As dificuldades para as mulheres romperem com o ciclo da violência se devem por diversos motivos, dentre eles: crenças religiosas de obediência, medo , dependência financeira e emocional, proteção ao filhos e a ilusão de mudança alimentada pelas promessas constantes feitas pelo agressor.

5. Capital News É fácil identificar o tipo de mulher que sofre violência?

Giseli Oliveira: Não é fácil identificar mulheres que sofrem violência, pois geralmente elas escondem a dor para não gerar suspeitas, as vezes até mesmo demontram estarem felizes e amarem seus maridos, o que gera o julgamento familiar e social quando a verdade vem à tona, por isso ainda existem tantas pessoas que não acreditam na vítima e defendem os agressores.

6. Capital News: A Lei Maria da Penha pode ser aplicada tanto para o homem quanto para a mulher?

Divulgação

Mulher: como romper o ciclo da violência?

As dificuldades para as mulheres romperem com o ciclo da violência se deve a diversos motivos, dentre eles: crenças religiosas de obediência e medo

Giseli Oliveira: Os homens vítimas de violência já são protegidos pelo código penal art. 129, porém a lei Maria da Penha é específica para proteção das mulheres.

7. Capital News: Ao longo dos anos, percebe-se algum tipo de evolução? A mulher denuncia mais? Os homens agridem menos?

Giseli Oliveira: A única evolução ao longo dos anos é o aumento de denúncias, mas infelizmente, não existe redução do número de agressões, ao contrário, as estatísticas demonstram o aumento da violência e feminicidios, o que prova que ainda estamos distantes de uma verdadeira mudança desse cenário pela ênfase maior em repressão ao invés de medidas preventivas e reeducativas.

8. Capital News: Na sua percepção, os agressores se arrependem?

Giseli Oliveira: Sim, existem muitos agressores que se arrependem e mudam, quando recebem reeducação e tratamento psicológico, exceto em casos de homens portadores de psicopatologias como transtorno narcisista ou transtorno de personalidade antissocial (psicopatas).

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