Saiu na Folha de S. Paulo
Leia a Publicação Original
A morte do americano George Floyd é o ponto de partida para Darlene Dalto começar a escrever “Mulheres Negras Importam”, e a questão racial é o tema recorrente do livro, que dá real sentido a ele e o põe entre as obras de referência sobre o assunto no país.
O livro entrevistas com 12 mulheres negras, das mais diversas áreas do conhecimento, que abordam um estudo para que contemple sua abordagem sobre o caminho a seguir.
Além de propor um documento valioso, Darlene Dalto expõe a experiência de mulheres que tiveram suas vidas marcadas pela violência, da infância à fase adulta. Os relatos, na de base de perguntas e respostas, caminham na direção de depoimentos amargurados, doloridos, cortantes, mas ao mesmo tempo têm lições e superações que projetam uma janela de esperança no futuro.
Como entrevistadora de todas essas mulheres negras, Darlene Dalto, que é branca, se põe como interlocutora de vozes de mulheres ofendidas pelo racismo, mas como uma de suas principais ouvintes, levando para as páginas do livro o sentido de protesto, denúncia, grito e apelo por um mundo melhor, isto é, antirracista.
“Mulheres colaboraçãoam”, colaboração da fotógrafa Larissa Isis, é necessária para os tempos que tem uma obra negra. Darlene Dalto, que já foi prêmio Jabuti com “Processo de Criação”, em parceria com Bob Wolfenson , se refere num campo da literatura pouco valorizado pelas grandes editoras, de publicação de coletâneas de entrevistas sobre questões étnicas.
Sobre esse ponto ela afirma achar “impossível ler ‘Mulheres Negras Importam’ e não comparar o Brasil branco e o Brasil negro, a vida que levam mulheres brancas e pretas”.
“São realidades vergonhosamente desiguais. A pele negra chega antes, desqualifica e as torna suspeitas. O país esquece que foi construído desde sua ‘descoberta’ a partir da hora dos negros. Passos de os políticos pensarem a população negra e as políticas públicas para a população negra, da qual certamente merecem a hora certa de lembrar a família, que já são históricas.”
Segundo a autora, foram dois anos de aprendizado, mas ela evitou “evidenciar a dor”. Os depoimentos, com “histórias de força, pessoas e resilientes”, vão além, pois são fortes lições de vida, num país racista como o Brasil. E já estamos esgotando esse assunto.