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Quem tem medo das mulheres no Direito?

SAIU NO SITE BLOG EXAME DE ORDEM:

Maurício Gieseler

Na última sexta-feira ocorreu em Brasília a “Conferência Distrital da Mulher Advogada”. Com o slogan “Elas sabem o que falam”, o encontro contou com 88 palestrantes mulheres em 18 painéis temáticos para discutir importantes temas jurídicos atuais.

Detalhe: não foi um evento para discutir problemas específicos das mulheres, mas sim o posicionamento delas, e somente delas, diante de assuntos corriqueiros (e importantes) do Direito.

Resumindo: foi um tremendo evento! E o foi porque seu foco foi o de mostrar, exatamente, a capacidade teórica e técnica das profissionais. Uma forma prática de explicitar que as mulheres não ficam atrás dos homens nesses quesitos.

Infelizmente, ainda hoje, é preciso chamar a atenção para demonstrar que homens e mulheres são simplesmente equivalentes em termos de capacidade profissional, ESPECIALMENTE em relação a profissões que envolvam especificamente o intelecto.

E, mais do que infelizmente, ainda hoje existem HOMENS que recusam aceitar a igualdade de gênero. HOMENS que, por alguma razão obscura (e histórica), têm algum tipo de medo ou ressalva quanto à ideia das mulheres poderem ocupar espaços iguais com os próprios homens.

Essa misoginia, forjada ao longo de muitos e muitos milênios, veio sendo debelada com mais intensidade a partir da revolução industrial, sendo absolutamente inaceitável agora, na pós era espacial: a era da comunicação instantânea.

É inaceitável, mas ela existe.

Várias participantes do evento relataram diversos episódios de discriminação e ofensas por conta da conferência. Comentários feitos com o fito de reduzir o papel e a condição feminina. Reduzir a importância da mulher para o Direito.

O problema veio a tona quando a vice-presidente da OAB/DF, Drª Daniela Teixeira, postou uma foto em seu facebook. Ela teria recebido a mensagem “Concurso de miss”, em uma clara tentativa de reduzir sua representatividade e seu papel de organizadora da Conferência:

daniela teixeira conferencia

Não só a vice -presidente foi atacada, como também outras advogadas também foram.

A jornalista Ivy Farias, uma das palestrantes, narrou com exclusividade para o Blog como alguns dos atos discriminatórios foram feitos:

“Karina Kufa é uma advogada especialista em Direito Administrativo e Eleitoral. Quando ela e eu fomos convidadas pela OAB/DF para participar de uma mesa sobre a sub-representação política da mulher aceitamos na hora. Não recebemos um real, bem como nenhuma das outras palestrantes da I Conferência Distrital da Mulher Advogada.

E por que fomos? Porque “sonho que se sonha só é só um sonho e sonho que se sonha junto é realidade”. Nós sonhamos e lutamos com a igualdade de gênero em nosso país e acreditamos que um bom passo a avançar é na advocacia.

E, de fato, avançamos. A Ordem dos Advogados do Brasil abriu suas portas para as mulheres no dia 17 de Março. Na hora que cheguei, um senhor me disse:

– Estou tão feliz pela OAB estar fazendo isso. A OAB tem que ser lugar de debates. Aqui vocês irão longe!

Eu não poderia estar feliz: quem é uma soteropaulistana que cresceu ouvindo Legião Urbana ouvir isso em pleno Planalto Central foi demais. Estava vivendo um sonho: painéis tão ricos, a Carta da Mulher Advogada, o presidente da OAB/DF dizendo ao vivo e a cores que ali era a casa de advogadas e advogados me fez pensar que o futuro já é presente em Brasília.

Não se passaram nem 19 horas para vivenciar um verdadeiro pesadelo: após o sucesso do evento, nós, mulheres palestrantes e organizadoras, recebemos mensagens nos desqualificando como profissionais. Uma delas, inclusive, foi veemente agredida dizendo que ela não deveria ter ido até Brasília dividir seu conhecimento.

Foi tanto trabalho, é tanto trabalho e vejo que será ainda mais trabalhoso ser mulher e advogada (não sou, me formo no ano que vem) porque a sociedade se recusa a ver o papel que a OAB tem, que é de ser uma zeladora do Estado Democrático de Direito. E este Estado pressupõe a igualdade de gênero. E não fui eu que inventei este conceito, foi a Constituinte.

A vice-presidente da OAB/DF, Daniela Teixeira, me recebeu de braços abertos. Bem como todas as mulheres brasilienses- e aqui cito a Renata Cysne, que me mostrou Brasília enquanto ouvíamos “Metal Entre as Nuvens”. E, claro, do presidente Juliano, que me agradeceu pela presença (!!!).

As ofensas incluem palavras de baixo calão. Meu espanto é ver que os homens não se reconheçam como sujeitos de mudanças. E insistam que o Brasil é um país sem ter metade de mulheres da população. E que gostariam que, em Brasília seja sempre 19h.”

Os ataques, inexplicáveis, geraram um texto de repúdio, assinado por dezenas e dezenas de advogados.

Confiram:

“Elas sabem o que falam” e você deveria ouvir

No último dia 17 de março, foi realizada a I Conferência da Mulher Advogada da OAB/DF. Com o nome “Elas sabem o que falam”, a Conferência contou com a participação de 102 palestrantes, 50 colaboradoras e mais de 700 participantes. Foram 10 horas de Conferência, em 18 painéis sobre variados temas de interesse da sociedade e da academia jurídica, debatidos por ministras, desembargadoras, juízas, procuradoras, promotoras, defensoras públicas e advogadas altamente especializadas.

A conferência foi muito bem recebida pela advocacia, pela comunidade jurídica e pela sociedade como um todo.

No entanto, no dia seguinte à Conferência, nos deparamos com reações negativas, ultrapassadas e machistas, realizadas nas redes sociais, com ataques dirigidos nominalmente à pessoa da Vice-Presidente da OAB/DF, Daniela Teixeira, mas que consideramos endereçados a todas as conselheiras, advogadas, juristas e a todas as mulheres que ousaram fazer uma Conferência.

As ofensas revelam o incômodo de alguns com a realização do evento, com a visibilidade dada às demandas por paridade de gênero, do debate público sobre violência contra a mulher, e, sobretudo, o incômodo de alguns ao ver mulheres como protagonistas no espaço político e no debate público.

Quando uma pessoa se sente à vontade para fazer um comentário comparando a Conferência a um concurso de “Miss”, vemos a medida da importância e da necessidade da realização de eventos que assegurem lugar de fala para as mulheres e que contribuam para a afirmação pública de sua dignidade.

Posturas ofensivas e tentativas de reduzir as mulheres a atributos relacionados ao seu corpo constituem um artifício retórico e uma estratégia política machista voltadas a tentar afastar as mulheres do espaço público. Repudiamos veementemente essas estratégias e atitudes. O fazer político deve se dar com respeito.

Comentários desrespeitosos e preconceituosos não passarão despercebidos, pois constituem uma ofensa às mulheres da Ordem dos Advogados do Brasil, instituição comprometida com os direitos, com a diversidade e com a democracia.

A realização da Conferência foi um sucesso e até mesmo as reações negativas corroboram a importância de sua realização.

O tempo em que a Ordem dos Advogados do Brasil era um espaço exclusivo dos homens ficou no passado e a existência de divergências políticas não autoriza atitudes e falas desrespeitosas e machistas.

A OAB que queremos e pela qual trabalhamos é a OAB do dia 17 de março: plural, de portas abertas, conectada com a sociedade e com participação ativa das mulheres, de todas elas: com salto, sem salto, de turbante, sem turbante, cis, trans, de cabelos brancos, loiras, negras. Não há espaço para retrocessos, somente para avanço. Avanço na diversidade e no respeito.

Sabemos o que falamos e exigimos respeito. Respeito às mulheres que ousam ocupar espaços de liderança, às mulheres que fizeram a Conferência, organizadoras, palestrantes e participantes. Respeito, enfim, a todas as mulheres.

Tire o seu preconceito do caminho que vamos passar com toda a nossa competência e elegância. Elas sabem o que falam e você deveria ouvir!

Alessandra Camarano
Alexandra Tatiana Moreschi de Albuquerque
Aline Guida de Souza
Aline Guida de Souza
Aline Woo
Ana Cláudia Santano – PR
Andre Lopes
Andreia Araújo OABPI
Antonio Rodrigo
Bernadete dos Anjos
Camila Gomes
Carina Reis
Carla Gehlen
Carla Karpstein OABPR
Carla Rodrigues
Carolina Lisboa
Carolina Petrarca
Cecilia Queiroz
Christiane Nobrega
Clay Costa
Cleider R Fernandes
Cristiane Britto
Cristiane Damaceno
Cristina Aragão
Cristina Tubino
Daniela Teixeira
Débora Vicente – RS
Denise Fonseca
Denise Rodrigues
Dionne Felipe
Elaine Harzheim Macedo
Eliane Monteiro Cesário
Elizabeth Ribeiro
Eneida Desiree Salgado
Erika Vieira
Estefânia Viveiros
Ewan Teles Aguiar
Felipe Bayma
Fernanda Gonzalez
Fernando de Assis Bontempo
Fernando Martins
Flavia Ramos
Flaviana Moura
Gabriel Ribeiro
Geórgia Nunes – PI
Glauco Santos
Graciela Slongo
Hellen Falcão
Iara Bastos
Ibanes Rocha
Igor Carvalho
Ildecer Amorim
Indira Quaresma
Isabel Mota – CE
Isabela Aysha
Israel Mascarenhas
Ítalo Marciel Magalhães
Ivy Farias
Jacques Veloso
Janene Massuda
João Paulo Amaral
Juliana Freitas -PA
Juliana Navarro
Juliano Costa Couto
Kacilia Bayma
Karina Kufa OABSP
Karla Sousa Maximo Gomes
Kleyne Karenina
Leandro Daroit
Lenda Tariana
Leonardo Mundim
Liliana Marques
Liliana Marquez
Lucelia Sabino OABTO
Lucia Bessa
Luciana Lóssio
Luciana Muniz
Luiz Gustavo Muglia
Magaly A A Palhares de Melo
Maíra Calidone Rechia Bayod
Manuella Nono
Mara Celia OABRO
Marcela Furst
Marcelo Lucas de Souza
Marcelo Martins
Mariana Prado Velho
Mariele Paniago OABMG
Marília Brambilla
Marília Mesquita
Marília Ribas
Marisa Amaro-SP
Marta Simões
Mayta Versiani
Og Pereira
Patrícia Garrote
Paulo Renan
Pedro Young
Pierre Tramontini
Polianna Pereira dos Santos, OAB MG
Rachel Bernardes
Rafaela Coimbra
Raquel Magalhães
Renata Cezar – SP
Renata Roman OABMG
Renata Vianna.
Roberta Silva
Rubia Gonçalves Gabriel
Samia Jabor Pinheiro
Silvia Burmeister
Solange Clarett Cavalcante
Stephanie Batista da Mata
Talita Lacerda
Thais Maia
Thalita Abdala Aris
Thalita Capucho
Thatyana Gitton
Thayrane Silva
Thiago Machado
Valeria Bilaffan
Valeria Guimaraes
Vanessa Machado
Vânia Siciliano Aieta OAB/RJ
Viviane Macedo – MG
Vivianne Oliveira
Wanderson Menezes
Wendel Faria
Wesley Bento
Sueny Almeida
Mariana Prado Velho
Pedro Sabo Mendes
Maurício Correia da Veiga
Claudio Santos
Kildare Meira
Wendel Faria
Edvaldo Nilo
Alceste Vilela Jr.
Dino Andrade
Renato Leal
Alinne Marques
Bernadete dos Anjos
Leonor Ribeiro
Antonio Alves Filho
Fabiana Soares
Eneida Desiree Salgado
Thalita Abdala Aris
Carla Nicolini
Kalin Rodrigues
Julia Rocha de Barcelos
Gabriela Rollemberg
Daniela Fonteles
Amanda Avelino
Paloma Pereira Santos

O futuro, para quem não sabe, será das mulheres, especialmente na advocacia.

Não se trata de um chute ou de um exercício abstrato de futurologia: a assertiva tem base estatística!

As mulheres JÁ SÃO maioria na advocacia dentro na faixa etária compreendida entre os 20 aos 40 anos. Ou seja, a jovem advocacia em peso tem como maioria as mulheres. A ocupação dos espaços políticos por elas é simplesmente inevitável.

A informação pode ser vista no quadro de advogados do site do CFOAB – Quadro de Advogados

Isso é apenas uma derivação de um fenômeno que já é visto amplamente nas faculdades: as mulheres são a maioria.

As mulheres (dados de 2013) representam 55% dos estudantes de Direito atualmente. Talvez mesmo um pouco mais.

Ou seja: o Direito se tornou uma carreira FEMININA!

Assim sendo, é natural antever algumas obviedades. A mais explícita é: quem for contra as mulheres no mercado (advocacia e concursos) vai ser DISCRIMINADO exatamente por ser preconceituoso.

Mais! Os misóginos serão EXPULSOS de grupos políticos da OAB porque a pressão excluí-los será imensa. NINGUÉM tem hoje condições de bancar profissionais quem desrespeitam a mulher no mercado de trabalho.

Eu não acho isso: trata-se de um fato inexorável.

Ainda hoje, curiosamente, as mulheres são minoria nos quadros da OAB, assim como na política tradicional. Mas esta assimetria tem seus dias contados, pois o empoderamento feminino avança lenta, mas de forma consistente.

Quem tem medo de mulher deveria se dar conta de que este medo, ao fim, vai lhe tirar os espaço político e, por que não, profissional.

Assim será o futuro, e não é preciso bola de cristal para ver isto.

 

PUBLICAÇÃO ORIGINAL: Quem tem medo das mulheres no Direito?

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