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2 em cada 3 brasileiros dizem ter presenciado ato de violência contra mulher em seu bairro em 2016

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Violência contra a mulher (Foto: Arte/G1)

Violência contra a mulher (Foto: Arte/G1)

Dois em cada três brasileiros dizem ter presenciado algum ato de violência física ou verbal contra uma mulher em seu bairro durante o ano passado. É o que revela uma pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e divulgada nesta quarta (8), data em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher.

Segundo a pesquisa, 66% dizem ter visto ameaças, agressões e humilhações em sua comunidade em 2016. A situação mais comum (presenciada por 51%) é a de mulheres sendo vítimas de ofensas e abordagens desrespeitosas de homens no meio da rua.

Já 46% dizem ter presenciado homens xingando, humilhando ou ameaçando namoradas ou ex-namoradas, mulheres ou ex-mulheres.

Outras situações apresentadas aos entrevistados também foram flagradas, como a de homens brigando ou discutindo em razão de ciúmes de uma mulher (44%), a de mulheres da vizinhança sendo ameaçadas por companheiros ou ex-companheiros (37%), a de mulheres sendo agredidas por eles (também 37%) e a de meninas e moças da comunidade agredidas por parentes – pai, padrasto, irmão, entre outros (30%).

A percepção de violência varia ligeiramente entre homens e mulheres em algumas das situações. No geral, no entanto, tanto 66% dos homens como das mulheres revelam ter presenciado algum ato de violência no período.

Para diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, os dados mostram que a violência contra a mulher está “enraizada e naturalizada”. “Faz parte do cotidiano e muitas vezes não mobiliza energia de mudança. Passa a ser um dado do cotidiano. Mulheres são vítimas de agressão, ponto. A questão é: como mudar isso? Como mudar a gramática dessas relações sociais?”

Negros x brancos

O que varia bastante, no entanto, é a percepção entre as populações negra e branca. A pesquisa mostra que 59% dos negros dizem já ter visto homens abordando mulheres na rua de forma desrespeitosa; esse índice cai para 45% entre os brancos.

O percentual difere em todas as situações relatadas; 37% dos negros dizem já ter visto moças ou meninas da vizinhança serem agredidas por parentes, por exemplo, ante 22% dos brancos.

Samira diz que a violência contra as mulheres negras é maior que contra as brancas. “Basta reparar no assédio por exemplo, que é muito maior. Enquanto o feminicídio entre mulheres brancas caiu na última década, houve um aumento entre as mulheres negras. E há uma percepção entre negros de que a violência é maior porque eles a vivenciam mais. Desigualdade racial e machismo é uma combinação explosiva e catastrófica.”

Entre os mais jovens o índice dos que declaram ter presenciado alguma das situações também é mais alto (80%) que entre os mais velhos (55%).

Aumento da violência

Para 73% dos brasileiros, houve um aumento da violência contra a mulher na última década. Isso ocorreu para 70% dos homens e para 76% das mulheres. Só 7% acreditam que houve uma diminuição.

Para Samira Bueno, essa percepção tem a ver mais com a sensibilidade para o tema, que é maior hoje, que com um aumento dos indicadores efetivamente. “A gente tem a Lei Maria da Penha, em 2006, a do Feminicídio, em 2015, e o protagonismo que o movimento de mulheres tem exercido nos últimos anos tem colocado o tema na agenda. Ele passa a se tornar prioritário. Os índices dos mais variados tipos de violência contra a mulher são altíssimos, mas não necessariamente cresceram nos últimos anos, só passaram a ser objeto de atenção muito tardiamente”, afirma.

Para 73% dos brasileiros, houve um aumento da violência contra a mulher na última década

Professora do programa de pós-graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo da UFBA, Maíra Kubik Mano diz que a Lei Maria da Penha pode ter, de fato, ajudado a expor o problema. “A violência contra a mulher está mais colocada desde então. Houve um investimento em explicar o que é violência doméstica e dizer que as mulheres podem reagir a ela. Há aparatos no estado que podem acolher essas mulheres vítimas de violência. Desde a lei, que foi um marco, a gente tem instrumentos que possibilitam às mulheres reagir”, afirma.

Para ela, isso não significa, no entanto, o fim da “invisibilidade”. “No próprio casamento há mulheres que sofrem estupro do marido e não têm possibilidade de denunciar, seja pela relação afetiva, por uma dependência econômica ou devido a uma situação de violência ainda maior. Entao há várias situações que permanecem obscurecidas”, diz.

“Por outro lado, como diz o sociológo português Boaventura Santos, a gente está vivendo tempos de ‘fascistização social’. Então conforme as mulheres vão ampliando a atuação delas na sociedade, conquistando mais direitos, há reações. Pode estar ocorrendo um aumento da violência porque as mulheres estão caminhando para processos de emancipação, conquistando espaços de poder e precisam ser brecadas”, afirma Maíra.

A pesquisa Datafolha foi feita entre os dias 9 e 11 de fevereiro deste ano. Foram ouvidas 2.073 pessoas – sendo 1.051 mulheres – em 130 municípios, incluindo capitais e cidades do interior, em todas as regiões do país. A margem de erro para a amostra nacional é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

PUBLICAÇÃO ORIGINAL: 2 em cada 3 brasileiros dizem ter presenciado ato de violência contra mulher em seu bairro em 2016

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