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Abertamente gay, diretor do Mineirão diz que luta diariamente contra a homofobia nos estádios.

Saiu no GLOBO

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Estádios de futebol são ambientes machistas e hostis para a comunidade LGBTQIA +. Não é difícil escutar músicas e gritos explicitamente homofóbicos e sexistas em qualquer estádio do país. O futebol, como esporte, apesar dos avanços nos anos também o é. Mas se depender do esforço de Samuel Lloyd, diretor do estádio Mineirão, a atitude das torcidas e, por que não, dos jogadores mudará em breve. Assumidamente gay, casado e defensor das causas LGBTQIA +, atua na conscientização e mudança gradual da cultura futebolística. “O Mineirão é de todos, de todas as cores e letras. Queremos construir um ambiente de respeito e dignidade, onde todos sintam-se bem e em casa”, enfatiza Lloyd.

Inaugurado em 1965, o Estádio Governador Magalhães Pinto, mais conhecido como Mineirão, localizado em Belo Horizonte, é o quinto maior do Brasil. Já sediou cinco finais da Copa Libertadores, uma Copa Intercontinental e foi escolhido como uma das sedes da Copa do Mundo FIFA de 2014. Ali, também, foi registrado a maior derrota da história da Seleção Brasileira de Futebol, o famoso 7 x 1 contra a Alemanha. Mas, hoje, em 2021, o que se destaca é a inclusão. “Aqui, todos são bem-vindos, mulheres, comunidade LGBTQIA + e torcedores apaixonados pelos seus tempos”, conta o diretor.

Segundo ele, não dá nem para fazer a conta de quantos torcedores os clubes perdem por não serem inclusivos. “No Mineirão, respeitamos diferentes gêneros, culturas, etnias, orientações sexuais e classes sociais”, garante Lloyd. Para diminuir a intolerância, várias medidas e campanhas estão sendo feitas para construir um estádio com mais empatia. “O trabalho não é fácil, pois o futebol é histórico, um meio machista e homofóbico, mas estamos mudando esta perspectiva e recebendo inúmeros feedbacks positivos. A luta por respeito, dignidade e pela vida é diária”, completa o gestor. A seguir, acompanhe uma entrevista exclusiva.

GQ Brasil: Quando você começou no Mineirão?

Samuel Lloyd: Em novembro de 2015 eu fui aprovado para a vaga de diretor do Mineirão. Fiquei muito feliz. Mas, a primeira coisa que fiz foi ligada para o presidente do estádio para falar da minha orientação sexual. Disse: gostaria de dizer que sou gay e casado com um homem – que sempre me acompanha. E para minha surpresa, ele falou: tudo bem. Isso foi maravilhoso.

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Samuel Lloyd, diretor do mineirão, no centro da imagem. (Foto: Divulgação)

GQ Brasil: E o que encontrou quando iniciou o trabalho?

Samuel Lloyd: Quando cheguei, percebi que o ambiente era dominado por homens. Havia uma rigidez, mas, ao mesmo tempo, já existia uma vontade de mudança. Hoje, na qualidade do estádio temos mais mulheres do que homens. Com isso, a visão foi totalmente ampliada. Num local onde cabem 60 mil pessoas, há espaço para todas as diferenças. Essa é a nossa luta, que a diferença seja respeitada.

GQ Brasil: Quais são os maiores desafios de administrar o Mineirão e quais são os novos conceitos de transformação?

Samuel Lloyd: O maior desafio é, justamente, atualizar todos esses conceitos, mas com muito respeito a história e as tradições do estádio. É uma linha tênue, mas estamos conseguindo seguir bem. Sustentabilidade e inclusão são duas bandeiras que carregamos com toda energia e entusiasmo.

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#Deixaelatrabalhar. Ação solicitando respeito para as jornalistas que trabalham no estádio (Foto: Divulgação)

GQ Brasil: O Mineirão ou Gigante da Pampulha, como é chamado, já ganhou alguns prêmios e selos de sustentabilidade. Quais são eles?

Samuel Lloyd: Sim, o Mineirão reúne premiações como o selo Platinum do Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), órgão responsável pela certificação que é utilizado em 143 países para incentivar a transformação dos projetos com foco na sustentabilidade; e o Selo BH Sustentável, dado pela Prefeitura de Belo Horizonte. Além disso, o Mineirão é oficialmente signatário da Rede Brasil do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU). Somos o segundo estádio do mundo, ao lado do Stade de France, nesse projeto.

GQ Brasil: Em relação a inclusão, ações, projetos e campanhas feitas em andamento?

Samuel Lloyd: Isso é um trabalho contínuo. Acreditamos que essas ações gerem resultados quando feitas de forma constante e não, apenas, em uma data nas redes sociais. Desde 2017, o Mineirão promove reflexões sobre a presença das pessoas LGBTQIA + no ambiente dos estádios de futebol. Neste primeiro ano, a fachada do estádio foi toda iluminada com os núcleos da bandeira LGBTQIA +, promovendo uma visibilidade da causa.

No ano seguinte, 2018, a equipe do estádio promoveu um casamento com casais plurais no gramado. Em 2019, funcionários do Mineirão cobriram 420 cadeiras do Estádio com os núcleos da bandeira da comunidade, simbolizando um estudo do Grupo Gay da Bahia, que apontou que 420 pessoas morreram no Brasil de forma violenta por serem lésbicas, gays, bissexuais ou transexuais.

Em 2020, com uma campanha emocionante, buscamos promover o diálogo das pessoas da comunidade LGBTQIA + com suas famílias. O vídeo traz o depoimento comovente de pais e mães sobre seus filhos contando um pouco da dificuldade e dos desafios enfrentados por eles em uma sociedade ainda muito preconceitusa.

Agora, em 2021, o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA + também foi comemorado pelo estádio. Com uma mensagem simples, mas poderosa, o estádio mudou sua foto nas redes sociais e passou a estampar para a palavra AMOR com as cores do arco íris. Toda forma de amor deve ser respeitada. É nisso que acreditamos!

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Casamento entre pessoas da comunidade LGBTQIA +. (Foto: Divulgação)

GQ Brasil: E durante esse trabalho de inclusão, vocês sofreram alguma retaliação por parte dos torcedores?

Samuel Lloyd: Olha, nem tudo são flores. No começo do nosso trabalho, nas redes sociais, por exemplo, 80% dos comentários eram homofóbicos. A comunidade “tradicional” estranhou, mas seguimos firmes e fortes, pois acredito no trabalho contínuo. Hoje, ainda há esses comentários, mas numa escala bem menor. E vamos em frente. Um estádio onde cabem 60 mil pessoas, também temos o papel de informar e educar e apenas não entreter.

GQ Brasil: E o retorno deste trabalho, já dá pra ser sentido no dia-a-dia do estádio?

Samuel Lloyd: Sim, e é emocionante. Receber um depoimento de alguém da comunidade LGBTQIA + que diz nunca ter imaginado que poderia ir a um estádio e se sentir em casa, como se sentir no Mineirão é tocante e um incentivo para continuarmos. Outro dia, no camarote de um jogo, por exemplo, o dirigente de um clube me perguntou: Como vai o seu marido? Isso, de forma natural e orgânica, como deve ser.

 

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