Saiu no GLOBO RURAL
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UM SÓ PLANETA
Projeto de horta urbana muda vida de mulheres em uma das maiores favelas de São Paulo
Fazenda comunitária de Paraisópolis produz 63 variedades e alimenta projeto de gastronomia local. Moradoras recebem curso para iniciar plantio em casa
Sob os parcos raios de sol que superam as águas de telhado das muitas casas vizinhas e iluminam a laje, crescem um pimentão, uma couve kale, cebolinhas, hortelãs, entre outros temperos. A casa pertence a Rosana Freire, manicure de 30 anos, e uma dos cerca de 120 mil moradores de Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo.
Ainda em novembro de 2020, ela foi aluna da segunda turma da AgroFavela Refazenda, projeto de horta comunitária que não apenas fornece alimentos aos moradores na região, mas oferece cursos preparatórios para que as mulheres de Paraisópolis possam plantar em casa.
Assim como outras habitantes da favela com população de cidade média, Rosana saiu da aula com uma muda de sua escolha entre os braços. No caso dela, uma couve kale. A hortaliça plantada há sete meses está prestes a atingir o tamanho ideal para consumo.
A manicure contou à Globo Rural que sempre teve interesse em hortifruticultura, mas, com o tempo tomado pelo trabalho, nunca havia se dedicado de fato à prática até frequentar as primeiras rodas de conversa da Refazenda.
“O pessoal do projeto dá todo o suporte, além de ajudar com insumos e equipamentos. São coisas simples. Por exemplo, a Renata [Lima, assistente administrativa da AgroFavela] foi à minha casa me ajudar. Colocamos brita nos fundos dos vasos, e plantas que nunca tinham vingado começaram a ficar mais bonitas”, recorda Rosana, que planeja cultivar seu primeiro pé de morango nos próximos dias.
As educandas do projeto ainda recebem a oportunidade de participar das colheitas semanais do projeto. Desde novembro do ano passado, foram colhidas 3.486 hortaliças, como mostarda, alface, couve, espinafre, alecrim, orégano, louro, tomilho, menta e alho-poró, entre um total de 63 espécies e variedades de vegetais.
A mão boa por trás de cada muda é da jardineira Adélia Maria de Oliveira. Enquanto ela faz as plantas brotarem ou prepara enxertos, divide a responsabilidade pela horta com o também morador da comunidade Ismael Walker, que fica com o trabalho pesado, empurrando a carriola e manejando a terra. O plantio é feito em uma área de 900 metros quadrados à beira da avenida Hebe Camargo, que delimita o início do território de Paraisópolis.
Atrás da tenda de jardinagem onde Adélia trabalha, estão situadas as estruturas verticais dedicadas à hidroponia (meio para cultivar vegetais sem o uso do solo com auxílio de irrigação). “Graças a deus ainda não teve uma cultura que tenha dado errado aqui. Cresci na fazenda, em Vitória da Conquista (BA). Comecei a plantar ainda menina”, afirma.
O orgulho não é injustificado. Fora as folhagens e temperos distribuídos entre as treliças e os boxes, estão plantadas na horta pés de morango, pimenta, quiabeiros, maxixeiros, dentre outras outras árvores frutíferas, além de tubérculos como batatas-doces. “Nada leva agrotóxico. Tudo é orgânico”, diz a responsável, que combate as pragas com uma solução de ervas aromáticas cultivadas na própria AgroFavela.