Saiu no site Marie Claire:
Desde 1975, o país nórdico vem desbravando a trilha da igualdade de gênero e agora, mulheres e meninas já desfrutam de uma vida progresssiva. Entenda como essa conquista foi alcançada!
Em um país de 330 mil habitantes, 19 escolas primárias e creches capacitam, há mais de 20 anos, meninas a usarem suas vozes de uma maneira poderosa. Na creche Laufásborg , em Reykjavik, alunas de três anos são estimuladas tanto do ponto de vista físico, quando emocional para que tenham coragem e se posicionem.
Não à toa, nos últimos seis anos, a Islândia superou o índice de disparidade entre os gêneros do Fórum Econômico Mundial e promete repetir o feito este ano. Recentemente, a The Economist elegeu o país como o melhor lugar do mundo para as mulheres trabalharem.
Mas as realizações progressistas da nação não vêm só do ensinofeminista proposto pelas escolas desde cedo. Segundo reportagem do The Guardian, a história é capaz de fornecer mais pistas para esse sucesso.
Durante séculos, as mulheres deste país marítimo ficaram em casa enquanto seus maridos atravessavam os oceanos a trabalho. Sem homens em casa, elas passaram a desempenhar o papel de agricultoras, caçadoras, arquitetas, construtoras. Desta maneira, conseguiram arcar com as finanças domésticas e foram cruciais para que o país prosperasse.
Até que em 1975, elas se cansaram. Não era justo não serem devidamente remuneradas pelo seu trabalho e ainda se virem diante de uma baixa representação política – apenas nove mulheres ocupavam cargos parlamentares. No contexto dos movimentos feministas, elas decidiram fazer as coisas pelas suas próprias mãos.
Apesar de o ativismo já vir se fazendo presente desde os anos 1970 nos EUA e no Reino Unido, foi no dia 24 de outubro de 1975 que ele de fato marcou presença na Islândia. Não foi apenas o impacto de 25 mil mulheres nas ruas – que na época representavam um quinto da população feminina do país -, mas o fato de 90% das profissionais empregadas terem entrado em greve. Professoras, enfermeiras, executivas e donas de casa decidiram não ir ao trabalho. Tudo para provar o quão indispensáveis eram.
“Eu tinha 10 anos na época, e me lembro muito claramente de me colocar de pé ao lado da minha mãe, lutando. Ainda posso sentir a multidão e o poder que estava concentrado lá. A grande mensagem era a de que se as mulheres não trabalham, toda a sociedade fica paralisada”, contouThordis Loa Thorhallsdottir, CEO de uma empresa de turismo, ao The Guardian.
O ativismo de base em poucos anos começou a mostrar sua força na prática. Dentro de cinco anos, o país elegeu a primeira presidente mulher eleita democraticamente no mundo, Vigdis Finnbogadottir.
“Eu nunca teria sido eleita em 1980, se não fosse a ação das mulheres. As vozes foram ouvidas”, conta ela, agora com 80 anos de idade. Outros marcos vieram na sequência, como um partido político Aliança das Mulheres e, em 1999, a ocupação de um terço das cadeiras dos deputados por elas. Em 2000, foi a vez da licença-paternidade ser aprovada, concedendo o direito de três meses de licença remunerada – e intransferível – aos país.
As cotas obrigatórias também renderam vitórias. Graças a elas, quase metade dos membros dos conselhos das empresas são mulheres, assim como 65% dos estudantes universitários e 41% dos deputados.
Apesar disso, as islandesas ainda têm muito a conquistar. Os homens continuam ganhando 14% a mais para exercer a mesma função. Mas o governo islandês já se comprometeu a sanar a disparidade salarial até 2022. Em paralelo às promessas, as mulheres continuam altamente organizadas e socialmente conscientes. Surpreendentemente, um terço das mulheres da Islândia fazem parte de um grupo no Facebook, ironicamente chamado Beauty Tips, no qual discutem ativamente questões de gênero.
Desta forma, a história ensina que a pressão das bases e o investimento políticos seguem sendo catalisadores cruciais e poderosos para a mudança.
Publicação Original: Por que a Islândia é o melhor lugar do mundo para ser mulher