Saiu na REVISTA MARIE CLAIRE
Veja a Publicação Original
Em seu novo livro, “Vista Chinesa”, ela parte de um caso real de violência sexual ocorrido com uma amiga no Rio de Janeiro para narrar a via dolorosa que uma mulher
Digamos que seu dia de trabalho esteja cheio, mas, mesmo assim, você consegue uma pausa para fazer exercícios físicos. Coloca um som no fone de ouvido, roupa de ginástica e sai para correr em um ponto turístico relativamente perto do escritório. A certa altura, um homem se aproxima abruptamente, te ameaça com um revólver e te leva para dentro da floresta que circunda a pista de corrida. O desfecho desta história é aquele todas as mulheres temem: um estupro.
Este é o ponto de partida da narrativa contada pela escritora Tatiana Salem Levy em seu novo livro, Vista Chinesa (Editora Todavia, 112 páginas), que acaba de ser lançado. Nele, Tatiana parte de um acontecimento real passado com a amiga e diretora Joana Jabace no mirante que fica no bairro do Alto da Boa Vista e leva o nome de Vista Chinesa. A obra fala sobre essa violência sexual, bem como do trauma revivido diversas vezes quando a vítima decide denunciar, além de abordar a maneira como a polícia decide buscar um culpado – quase sempre entre suspeitos que sejam negros e pobres. “Eu fiz questão de que o estuprador não fosse negro, foi uma decisão consciente minha”, conta Tatiana em entrevista exclusiva feita via Zoom. Direto de Lisboa, onde está morando, ela falou com Marie Claire por ocasião da nova obra. Acompanhe os highlights da conversa:
Digamos que seu dia de trabalho esteja cheio, mas, mesmo assim, você consegue uma pausa para fazer exercícios físicos. Coloca um som no fone de ouvido, roupa de ginástica e sai para correr em um ponto turístico relativamente perto do escritório. A certa altura, um homem se aproxima abruptamente, te ameaça com um revólver e te leva para dentro da floresta que circunda a pista de corrida. O desfecho desta história é aquele todas as mulheres temem: um estupro.
Este é o ponto de partida da narrativa contada pela escritora Tatiana Salem Levy em seu novo livro, Vista Chinesa (Editora Todavia, 112 páginas), que acaba de ser lançado. Nele, Tatiana parte de um acontecimento real passado com a amiga e diretora Joana Jabace no mirante que fica no bairro do Alto da Boa Vista e leva o nome de Vista Chinesa. A obra fala sobre essa violência sexual, bem como do trauma revivido diversas vezes quando a vítima decide denunciar, além de abordar a maneira como a polícia decide buscar um culpado – quase sempre entre suspeitos que sejam negros e pobres. “Eu fiz questão de que o estuprador não fosse negro, foi uma decisão consciente minha”, conta Tatiana em entrevista exclusiva feita via Zoom. Direto de Lisboa, onde está morando, ela falou com Marie Claire por ocasião da nova obra. Acompanhe os highlights da conversa:
MC Outro tema presente é a incompetência da polícia para tratar desse tipo de assunto, fazendo uma crítica à maneira como ela age para resolver o crime. Você pretende que a obra seja uma espécie de denúncia social?
TSL A questão social que permeia o livro foi entrando muito na busca pelo culpado e na pressão da polícia para encontrar alguém, qualquer pessoa que fosse. Tem um pouco a insistência pela cor da pele da pessoa, que às vezes é explícita, às vezes não é. Na hora de fazer o retrato narrado, se o nariz é mais largo, se a boca é mais larga, há uma insistência, por parte da polícia, na trama, por achar certas feições afrodescendentes. Eu fiz questão de que o estuprador não fosse negro, foi uma decisão consciente minha. Tive esse cuidado, mas, ao mesmo tempo, precisava que fosse orgânico, porque senão, ficaria falso, as pessoas não acreditariam. Acho que literatura é diferente da política ativista, por exemplo. A literatura tem que criar empatia; quem lê tem que criar empatia com o fato de que a polícia, de forma geral, quer prender qualquer um e de preferência o negro, o pobre.
MC Falar de estupro no Brasil ainda é tabu?
TSL Sim. No Brasil e no mundo. Acho que tem a ver com essa questão da vergonha, da desonra (lembrando o título do romance do escritor sul-africano Coetzee) acerca do estupro. É um crime que está associado à ideia de vergonha. A mulher não tem coragem de falar, porque ela tem vergonha por causa do pai, do marido, dos irmãos, filhos, amigos… E porque a sociedade também acha que é vergonhoso.