Saiu no ESTADÃO.
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Kamala Harris é um símbolo. De fato, ser a primeira mulher, negra e descendente de imigrantes, a assumir a vice-presidência de uma potência reconhecidamente uma das maiores democracias do mundo traduz uma simbologia.
É simbólico também que isso tenha acontecido justamente agora, após tantos séculos de afirmação formal da igualdade e, paralelamente, num tempo em que a democracia, antes intocável e até tida consolidada na contemporaneidade, anda, por aí, surpreendentemente sujeita a fissuras justamente por aqueles que têm o dever de defendê-la.
Há um ar de estranha vulnerabilidade da democracia ao redor do mundo, seja nos exemplos da Hungria e da Polônia, seja nessa nuvem de afirmação da força de um poder natural, às vezes patriarcal, de um poder que, muitas vezes, se faz de adormecido, mas que a todo momento teima a ressurgir.
De uns tempos pra cá, paira a tentativa de afirmação desse tipo poder, que é poder bruto e, portanto, sem valor.
Fico feliz com a simbologia de Kamala Harris: a humanidade sempre precisou de símbolos, de esperança. Essa esperança que vem traduzida na resiliência dos que se movem em busca da mudança.