Saiu no R7.
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“Com quem você vai deixar seu filho?” Essa foi a primeira pergunta que a cozinheira e estudante de gastronomia carioca Nathália dos Santos, 27 anos, moradora de Guaratiba, na zona oeste do Rio de Janeiro, ouviu em sua busca por um emprego. Desempregada há seis meses, Nathália fazia estágio em uma rede de supermercado e estava prestes a ser contratada quando, por conta da pandemia de coronavírus, seus empregadores suspenderam a negociação. “Tenho um filho de 4 anos, moro com minha mãe, dois irmãos e um sobrinho”, diz ela. “A maior parte das contas ficava comigo, eu era a única na família com renda fixa.”
De acordo com os números da Pnad Contínua, a população ocupada feminina sofreu uma redução de mais de 4 milhões de pessoas entre o primeiro e o segundo trimestre deste ano. “A covid-19 é um acelerador desse processo. A pandemia traz algumas exigências que fazem aumentar o trabalho de cuidado e afazeres majoritariamente exercidos por mulheres”, afirma Lúcia Garcia, economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). “Isso torna cada vez mais incompatível a busca e atuação no trabalho remunerado, que é o que a sociedade valoriza.”
A desigualdade de gênero e a discriminação ocorrem, diz a economista, quando um empregador ou chefe fazem questionamentos sobre a responsabilidade pelos filhos, como os feitos a Nathália, e optam pela candidata com mais disponibilidade de horário. “Estamos vendo o mundo das mulheres piorar há muito tempo e a crise provocada pela covid-19 foi o estopim”, afirma. “Elas migram para o mundo dos trabalhos de cuidados e aquelas que permanecem nesse universo têm mais chances de ficar desempregadas.”
População ocupada feminina sofreu uma redução de mais de 4 milhões de pessoas entre o primeiro e o segundo trimestre deste ano!