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Veja a publicação original: Teremos explosão no nº de mulheres abrindo novos negócios, diz Ana Fontes
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Por Andressa Rovani
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Eleita uma das 20 mulheres mais poderosas do Brasil em 2019 pela revista Forbes, a empresária Ana Fontes prevê uma explosão no número de novos empreendimentos abertos por mulheres nos próximos dois anos no Brasil —reflexo dos efeitos da pandemia nas taxas de desemprego, que, em cenários de crise, afeta mais as mulheres.
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Para fazer com que esses negócios sobrevivam e cresçam, o Instituto Rede Mulher Empreendedora, fundado por Ana, e o Google.org, o braço filantrópico do Google, lançam hoje o Potência Feminina, programa nacional que apoiará negócios liderados por mulheres por meio de capacitação, aceleração de negócios e capital semente.
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A previsão é de que 50 mil mulheres em situação de vulnerabilidade sejam beneficiadas diretamente pela iniciativa, que conta com investimento de R$ 7,5 milhões. Além apoiar negócios, o programa também quer capacitar mulheres nas áreas de empreendedorismo, empregabilidade e tecnologia. O programa abre hoje seleção para organizações da sociedade civil sem fins lucrativos que queiram fazer parte da iniciativa.
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A seguir, trechos da entrevista em que Ana Fontes fala sobre os desafios que as mulheres enfrentam ao empreender no Brasil.
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UNIVERSA: Já é possível fazer uma avaliação do impacto da pandemia nos pequenos negócios liderados por mulheres no país?
ANA FONTES: É possível, sim, nós acabamos de fazer uma pesquisa com o Instituto Locomotiva para avaliar o cenário: 40% disseram que perderam totalmente a receita e praticamente 80% tiveram algum impacto no negócio. Boa parte delas não tinha reserva financeira, ou seja, não tinha como sobreviver se a renda não viesse dos negócios. Além disso, elas tiveram um impacto na questão de que os filhos estão em casa, há a responsabilidade pelos cuidados domésticos.
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As empreendedoras tendem a ser afetadas de modo diverso ao impacto nos pequenos negócios liderados por homens?
Sim, elas são mais afetadas pelo tipo de negócio que têm. A área de serviços foi mais afetada, então salão de cabeleireiro, negócio de comida em casa, serviços como podólogos ou pequenas consultorias foram mais afetadas porque elas não puderam sair para trabalhar nem receber os clientes em casa. Inicialmente, a gente sugeriu que elas oferecessem vouchers para compras futuras, mas mesmo assim a situação para elas ficou bastante pior em comparação aos homens.
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Outro impacto que a gente vem sentindo é no nível de problemas relacionados à saúde emocional, muitas delas vêm tendo ansiedade, estão preocupadas, muitas sustentam a família com o que vem do negócio. Então isso gera insegurança e incerteza. Outro ponto importante é que normalmente para ter acesso a crédito, as empreendedoras têm mais dificuldades que os homens.
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Dentre o universo de mulheres que decidem empreender por necessidade, o que você identifica como maior fragilidade?
O tipo do negócio, porque geralmente elas escolhem negócios que estão à mão, que elas dominam e não há problema nenhum com isso. O grande problema é que esses negócios não têm um impacto muito grande no começo, a dificuldade de trazer clientes muitas vezes acaba sendo maior e a falta de rede de relacionamentos, ou seja, pessoas em volta delas que apoiem, incentivem, motivem, inclusive os próprios companheiros, que em parte dos casos acabam não motivando essas mulheres a seguirem em frente.
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Então, isso gera uma fragilidade para aquelas mulheres cujo negócio é a fonte exclusiva de renda. Se o negócio não der certo, se ela não consegue tirar algum dinheiro, isso gera pressão e ansiedade muito mais fortes e uma dificuldade de caminhar.
O Potencia Feminina é um programa desenvolvido para minimizar o impacto da pandemia ou ele já fazia parte do planejamento do RME? A pandemia teve algum impacto no formato?
Sim, nós pensamos no programa por conta do impacto que a pandemia causou principalmente nos negócios liderados por mulheres e principalmente para mulheres em região de vulnerabilidade ou em situação de vulnerabilidade. Ou seja: comunidades, mulheres que empreendem por necessidade.
Nós tínhamos a ideia de fazer o projeto todo de forma presencial, mas fizemos uma adaptação para que ele tivesse o apoio de uma plataforma online. Então teremos ações presenciais, online, e um acompanhamento de tutoria nas comunidades onde a gente vai executar o projeto. O objetivo maior é fazer com que as mulheres consigam ter acesso a conteúdo de qualidade, mas que consigam também ter acesso à formação de pequenas redes de relacionamento locais pra que elas consigam desenvolver os seus negócios e crescer, ter faturamento, ajudar suas famílias e melhorar esse impacto.
Uma parte significativa da força de trabalho feminina decide empreender depois da gravidez, durante a licença-maternidade. O que, para você, isso revela sobre o ambiente de trabalho no país e como isso impacta os negócios que serão criados?
Nós temos nas nossas pesquisas que as mulheres vão pro empreendedorismo entre 30 os 40 anos, que é exatamente o momento que escolhem hoje ter filhos. Infelizmente, o mundo corporativo tem comportamento muito hostil para as mulheres, principalmente para as que têm filhos pequenos. Quando você pergunta para uma mãe porque ela está empreendendo, a primeira resposta é: para buscar flexibilidade. Ela não quer trabalhar menos, ela não quer fugir do trabalho. Ela quer sim, continuar sendo uma pessoa produtiva profissionalmente, mas ao mesmo tempo estar perto dos filhos, de conseguir minimamente organizar a rotina dela.
Infelizmente, ainda, em 2020, boa parte das empresas ainda têm um ambiente corporativo que fala muito de presença física, das pessoas estarem ali, e as mulheres não se sentem acolhidas. Então, ou as empresas desligam as mulheres depois da licença-maternidade, ou elas decidem sair porque não se identificam mais com o ambiente em que estão.
Em mulheres empreendedoras em situação de vulnerabilidade, quais são as principais habilidades que precisam ser desenvolvidas?
A gente tem que desenvolver a habilidade de construir redes de relacionamentos, o que a gente chama de networking, construir laços locais. Isso é muito importante, porque empreender é uma jornada solitária. É importante conhecer outras pessoas para desenvolver o negócio.
Outro ponto importante é aprender a gestão do negócio. Abrir um negócio não significa que você necessariamente saiba gerir. Saber quais são as ferramentas que existem no mercado, saber tomar decisões, isso é muito importante para essa mulher. A gestão financeira é outro ponto, o mercado financeiro é colocado como sendo um ambiente masculino e a gente fala que lugar de dinheiro também é lugar de mulher e ensinamos essas habilidades.
Outra questão que ensinamos é que elas usem os canais digitais a favor do negócio delas. Isso é muito importante: como divulgar nas redes sociais, como estar nos meios digitais, botar o negócio dela no mapa, conseguir fazer um site, conseguir fazer com que ela desenvolva essas habilidades é essencial.
Você prevê que haja um aumento no número de mulheres abrindo novos negócios nos próximos dois anos?
Eu tenho praticamente certeza de que teremos um número muito alto de mulheres abrindo novos negócios. Até porque os processos de demissão estão crescendo absurdamente, os economistas estão prevendo que nós vamos dobrar o número de pessoas desempregadas nos próximos dois anos.
Hoje, esse número é de 13 milhões, e deve chegar a 26 milhões. Infelizmente, as mais afetadas pelo desemprego são as mulheres. Por questões estruturais, você vê ainda as empresas priorizando os homens e demitindo mulheres quando há situações de corte de pessoal. Então acredito que o número de negócios liderados por mulheres nos próximos dois anos deve crescer significativamente.
No projeto, 6.350 negócios serão acelerados e outros 180 receberão capital semente [financiamento para a fase inicial]. Como o projeto atigirá 50 mil mulheres?
As demais vão receber conteúdo qualificado em uma plataforma de educação a distância que estamos fechando. Elas vão receber o treinamento, mas não só acompanhamento a distância, mas acompanhamento local, para que as que buscarem as ONGs e OSCs parceiras tenham acesso a um conteúdo local.
Nesta segunda-feira abrem as inscrições para as OSCs [organizações da sociedade civil] que darão capilaridade ao projeto. Quantas devem ser selecionadas?
Vamos abrir as inscrições para as OSCs, que darão capilaridade ao projeto, nós vamos selecionar 10 no Brasil inteiro, de 10 comunidades. Queremos que muitas OSCs se inscrevam, isso é muito importante porque a gente entende que o impacto dessa organização social local gera outro efeito positivo que é movimentar o ambiente local. Estamos esperando muitas inscrições, o edital está aí para todo mundo se inscrever.
Por fim, que impactos de médio e curto prazos você espera que o programa poderá trazer, sobretudo no cenário de crise que vislumbramos?
As pessoas que vão ser impactadas pelo programa terão autoconfiança para saber que podem, sim, criar um negócio, podem, sim, ter acesso a conteúdo de qualidade, que podem, sim, desenvolver localmente seu pequeno negócio e que isso é fundamental para a sobrevivência delas.
Além disso, nós enxergamos também no médio prazo o aumento da empregabilidade, porque vamos treinar isso. Teremos aumento de redes locais que é fundamental para o projeto, aumento da quantidade de negócios formalizados e o fortalecimento dessas comunidades. A gente acredita muito no poder dessas mulheres.
Trabalhamos com mulheres e com mulheres empreendedoras há 10 anos e a gente tem uma clareza muito grande de que, quando seus negócios são apoiados, o que acontece é que melhora a situação da família, a educação dos filhos, melhora o entorno dela, ela ajuda outras mulheres, cria um ciclo virtuoso positivo localmente. O que a gente vê é que surgem dessas ações novas lideranças locais que ajudam outras pessoas, mesmo que não estejam no programa.