Saiu no site FINANÇAS FEMININAS
Veja a publicação original: Pink tax: por que produtos femininos são mais caros?
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Por Ana Paula de Araujo
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Você já ficou com a sensação de que acabou gastando mais quando comprou produtos “femininos”? A culpa não é, necessariamente, do volume de sacolas que você carrega. A responsável é a chamada “pink tax” (“taxa rosa”, em tradução livre).
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Afinal, o que é pink tax?
Trata-se de um fenômeno em que as versões “femininas” de produtos e serviços custam mais do que as “masculinas” – mesmo que elas sejam iguais. Ou seja, produtos femininos acabam sendo mais caros.
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Muitos acreditavam que a teoria era só um mito até que estudos foram conduzidos em diversas partes do mundo. No Brasil, um estudo conduzido em 2018 pela ESPM descobriu que os produtos voltados às mulheres são até 12,3% mais caros do que aqueles destinados aos homens. Segundo o levantamento, este fenômeno atinge as meninas desde a primeira infância: a roupa de bebê feminina é cerca de 23% mais salgada. Porém, a diferenciação é permitida pelo Procon, mesmo que o item seja o mesmo, mudando apenas a cor.
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Já um levantamento do departamento de Consumer Affairs (DCA) da cidade de Nova Iorque chegou à conclusão de que, sim, ela é real e pesa no bolso. Foram analisados mais de 800 produtos de 90 marcas, divididos em 35 categorias (entre brinquedos, roupas para crianças e adultos, itens de cuidados pessoais e de saúde para idosos), abrangendo todas as faixas etárias.
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Agora, segure-se na cadeira e veja o que o órgão descobriu: a mulher sai em desvantagem em 30 dessas categorias. Produtos femininos são mais caros em 42% dos casos, enquanto os masculinos são em 18%. O preço variou, em média, 7%, mas chegou a 13% em itens de cuidados pessoais.
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O jornal britânico The Times repetiu o experimento e chegou a um resultado similar: produtos considerados femininos custavam, em média, 37% a mais. Entre aqueles que ficaram mais caros apenas por serem rosas estão lâminas, canetas e roupas.
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A disparidade já foi motivo de chacota lá fora. A apresentadora Ellen Degeneres simulou o que seria o comercial da “Bic For Her” (“Bic para Ela”, em tradução livre), ironizando as supostas diferenças de uma caneta feita exclusivamente para mulheres. Já a editora sênior do site Mic.com, Liz Plank, atestou as diferenças de preços, experimentou produtos considerados masculinos e contou a experiência em um vídeo divertidíssimo.
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No vídeo a seguir, Carol Sandler fala mais sobre a pink tax, como fugir dela e economizar, assista!
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A maior discrepância foi detectada nos cortes de cabelo (lacuna de R$ 110). Sim, você leu certo. Ao final, nós, mulheres, gastaríamos R$ 183,58 a mais do que eles só por usarmos mercadorias destinadas ao nosso gênero. Imagine o impacto dessa despesa ao final de um ano! Ironicamente, nossos salários representam apenas 76,5% do rendimento dos homens, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
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Por que produtos femininos são mais caros?
De acordo com a indústria, vários fatores encarecem os produtos femininos. Um deles é que eles podem ter ingredientes ou tecnologias que aumentam o preço. Por exemplo, em entrevista à Folha de S. Paulo, a Gilette afirmou que “elementos como tipos de pele, comprimentos do fios, área de alcance e ergonomia do aparelho, mostram que as lâminas femininas precisam ser projetadas de forma muito distinta dos produtos desenvolvidos para os homens”. No entanto, o levantamento do departamento de Consumer Affairs (DCA) de Nova Iorque concluiu que, em muitas vezes, a única distinção entre os itens analisados é a cor.
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Para a professora Leda Machado – que estudou temas relacionados a Gênero em seu PhD. em Sociologia e Mestrado em Economia pela University College London – o fato de a maior lacuna de preços ser encontrada nos itens de cuidados pessoais diz muito sobre o que a sociedade requer da mulher. “Existe uma expectativa de que vamos fazer tudo e que precisamos estar sempre lindas. Somos avaliadas e julgadas pelo físico o tempo inteiro. Já o homem não tem esse problema”, aponta. Por isso, acabamos mais dispostas a gastar com artigos que prometem nos deixar mais bonitas, dando sinal verde para o mercado aumentar o preço das mercadorias destinadas a isso.
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Entramos em contato com o Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (IBEVAR), mas não tivemos resposta até o fechamento desta matéria.
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Ao final do estudo, o DCA encorajou todas as nova-iorquinas a denunciarem nas redes sociais os casos de discrepância entre o preço de produtos femininos e masculinos. Aqui no Brasil, vale ficar de olho em tudo que você compra. Será que o produto rosa é realmente melhor? Vale a pena levá-lo só por ser “para mulheres”? Pondere essas escolhas pode te fazer economizar!
Fotos: AdobeStock