Saiu no site UNIVERSA
Veja a publicação original: “Sabia que enxada era para me enterrar”, diz jovem estuprada na Grande SP
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Por Ana Bardella
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A jovem Kalliny Trevisan Maia, de 19 anos, sobreviveu ao maior medo da maioria das mulheres: um sequestro seguido de estupro que durou oito horas na manhã de segunda-feira (1). No decorrer do crime, foi ameaçada, sofreu um abuso sexual, foi agredida e sofreu uma tentativa de feminicídio via enforcamento. O suspeito está preso. Segundo a polícia, ele tem antecedentes criminais pelo mesmo crime.
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O crime aconteceu quando a jovem chegava para trabalhar, no bairro Jardim Stella Maris, em Cotia, município da grande São Paulo. Em entrevista para Universa, ela relembra o crime e incentiva outras vítimas a não se calarem. “Gostaria que outras mulheres que passaram por isso tenham coragem para denunciar. Hoje estou feliz porque estou viva. Sei que a dor psicológica vai durar por muito tempo, mas com isso eu posso lidar”, afirma.
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O grito que salvou sua vida
No dia do crime, Kalliny chegava ao trabalho, como fazia todos os dias, mas não conseguiu entrar na empresa. Antes que chegasse até a porta, foi empurrada para dentro de um carro – imagens de uma câmera de segurança mostram essas cenas.
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Para Universa, ela conta que o homem responsável pelo crime vinha acompanhando sua rotina há algum tempo. “Vi seu carro parado algumas vezes em frente ao meu trabalho. Mas como uma obra estava acontecendo na vizinhança, acreditei que pudesse pertencer a uma das pessoas que estavam trabalhando ali”. O suspeito, preso pela polícia, tem 37 anos e trabalha como auxiliar de construção.
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Kalliny, que ocupa o cargo de auxiliar de logística, estava prestes a entrar no escritório quando o homem saltou do carro e a abordou com uma faca.
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“Foi questão de segundos, nem consegui gritar. Só fiz força com o meu corpo para resistir. Com a faca no meu pescoço, ele disse que só queria informações sobre a empresa onde trabalhava, porque estava planejando um assalto”, conta.
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A jovem explicou que trabalhava na empresa há pouco tempo, que era menor aprendiz e que não tinha acesso a quase nenhum tipo de informação. O criminoso disse que a levaria até um local próximo e a liberaria. Mas isso não aconteceu. “Comecei a chorar muito e implorar para que me deixasse ir. Mas ele amarrou meus pés, minhas mãos e meu pescoço. Fiquei sentada e acorrentada ao encosto do banco de trás”, explica.
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Quando o sequestrador desceu do veículo para voltar ao banco da frente, a jovem conseguiu abrir a porta traseira e deu os gritos que salvariam sua vida. Horas mais tarde, o resgate de Kalliny foi possível porque um colega de trabalho ouviu seu chamado e entrou em contato com a família. Uma checagem nas câmeras de segurança mostrou o momento em que a jovem foi empurrada para dentro do veículo e a polícia foi acionada. Mas o gritou também irritou o sequestrador. “Foi quando ele me agrediu pela primeira vez.”
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Violentada e isolada
A partir de então, a postura do homem mudou. Ele anunciou o sequestro e começou a pedir informações sobre sua família, dinheiro de resgate e anunciou que estavam indo a um banco. Kalliny estava com um pano no rosto e só percebeu que seu destino era outro quando chegaram em um condomínio, nos arredores da rodovia Raposo Tavares, em Cotia (SP).
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Depois de entrar no condomínio, o carro parou em frente a uma casa. “Fui alertada de que estávamos no meio do mato e que, se eu gritasse, ninguém me escutaria. Que isso só serviria para ele me bater cada vez mais. Então foi o momento em que ele me violentou. Quando acabou, mudou minha corrente para que eu ficasse no chão do carro e abaixou o banco de modo que não fosse possível alguém me ver”, revela.
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Em seguida, o criminoso deixou a moça no carro e disse que iria trocar de roupa para que pudessem ir ao banco. “Ele estacionou o veículo na garagem e desceu”. Kalliny ouviu vozes na casa, mas teve medo de pedir ajuda por pensar que se tratava de cúmplices do crime. Quando voltou ao carro, o homem pediu a senha do celular e dos aplicativos do banco. “Nesse momento muitas pessoas já estavam ligando no meu telefone. Ele questionou se o GPS estava ligado e disse que não. No entanto, eu sabia que o sistema operacional do aparelho permitiria que fosse rastreada mesmo com a função desligada”.
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Quando voltou, o sequestrador deu mais uma volta com Kalliny dentro do veículo, desta vez, para jogar seu celular e seus óculos fora. Ao retornar a garagem, pediu que ela esperasse meia hora, garantindo que depois disso seria liberada. “Pensei em gritar, mas estava machucada e com as portas fechadas. Achei que ninguém iria me ouvir, por isso me calei”.
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Tentativa de feminicídio
No período em que ficou sozinha, Kalliny conseguiu desamarrar a corda que estava nas mãos, mas permaneceu com elas enroladas nos punhos para que o sequestrador não notasse. Quando reapareceu, ele trouxe uma corda, alegando que iria amarrar seu pescoço.
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“Foi questão de segundos: ele enrolou o fio e começou a me enforcar. Consegui subir um pouco o corpo de modo que a tentativa falhou. Com as mãos soltas, segurei a corda afrouxando um pouco e ofereci 20 mil reais para ele me soltar. Disse que seria pago pela minha família na mesma hora, caso ele concordasse. Só não queria morrer”.
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Neste momento o sequestrador recuou, saiu do carro e começou a colocar ferramentas no porta-malas. “Tinha uma enxada, várias coisas. Tive certeza que sua intenção era cavar um buraco para me enterrar. Ele estava bem agitado. Continuei dizendo que só não queria morrer. Então ele me olhou e disse que eu não iria morrer hoje. Entrou no banco da frente e começou a dirigir. Quando estávamos passando pelo portão do condomínio, ouvi alguém gritando para ele parar. Era o delegado dando voz de prisão”.
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“A gente não sabe quem vai ser a próxima”
Desde que foi resgatada, a imagem de Kalliny já foi divulgada na TV e em diversos jornais e portais. Ela crê que essa exposição é necessária. “Precisamos estampar uma foto para que as pessoas passem a entender que é frequente, real. Ninguém sabe quem vai ser a próxima. Ser mulher é muito difícil”.
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Ela ainda incentiva outras vítimas a não se calarem. “Gostaria que outras mulheres que passaram por isso tenham coragem para denunciar e seguir em frente. Hoje estou feliz porque estou viva. Sei que a dor psicológica vai durar por muito tempo, mas com isso eu posso lidar. Meu pedido foi atendido: quando estava ali, só queria sair, voltar para casa e para a minha família”, resume.