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Uma das evidências da análise de dados da Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar, trabalho da Universidade Federal do Ceará em parceria com o Instituto Maria da Penha (IMP) e Instituto de Altos Estudos de Toulouse (França), foi a de que 3 em cada 10 mulheres (27,04%) nordestinas sofreram, pelo menos, um episódio de violência doméstica ao longo da vida. Em termos de violência física ao longo da vida, Salvador (BA), Natal (RN) e Fortaleza (CE) são, nessa ordem, as três cidades mais violentas da região Nordeste.
“A sensação de insegurança das mulheres é presente e significante na região Nordeste, e essa sensação de medo de ser vítima de agressão, tanto física quanto sexual, impacta negativamente na qualidade de vida dessas mulheres”, é outra constatação do trabalho.
O relatório foi apresentado na noite de ontem (8) em entrevista coletiva que abriu o evento, como parte da programação que assinala os 10 anos da Lei Maria da Penha. Durante todo o dia de hoje (9), serão realizadas palestras e painéis que pretendem aprofundar as discussões sobre os números trazidos pela pesquisa. A Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar apoiou-se nas formas de violência consagradas pela Lei Maria da Penha no seu Art. 7º: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral.
O prof. José Raimundo Carvalho, coordenador da pesquisa, admite que ao longo do trabalho se surpreendia com os dados que surgiam e garante que mudou sua visão em relação ao tema da violência contra a mulher. Entre os dados que chocam, ele cita o relativo à violência contra a mulher gestante e o que aponta para o fato de os filhos dessas mulheres presenciarem as agressões sofridas pelas mães.
Acrescenta o Prof. José Raimundo que “apesar das dificuldades enfrentadas em se acessar sobre órfãos da violência doméstica, a pesquisa estima uma taxa alta de prevalência desse tipo de orfandade: mais de 2 órfãos por feminicídio”. Veja a íntegra da pesquisa.
EX-PARCEIROS – Os números mostram que é preponderante o papel de parceiros atuais e ex-parceiros no cometimento de violência doméstica. Em casos de violência física e sexual, ex-parceiros chegam a suplantar os parceiros atuais.
Durante a infância, aproximadamente 1 em cada 5 mulheres (20,1%) soube de agressões físicas sofridas por suas mães, e por volta de 1 em cada 8 mulheres (12,3%) disse que seus parceiros ou ex-parceiros recentes também tinham conhecimento de agressões sofridas pelas mães.
EDUCAÇÃO – Maria da Penha Maia Fernandes, presidente do Instituto Maria da Penha, avaliando a importância da pesquisa, ressalta que os números apresentados consolidam a dimensão grandiosa da violência contra a mulher. E assegura que só vê uma saída para mudar a cultura de violência enraizada na sociedade brasileira, em geral, e nordestina, em particular, que é a educação.
Falando sobre os primeiros passos do projeto que resultou nesse trabalho, o Prof. José Raimundo Carvalho lembrou que foi convidado – e ficou surpreso – por Maria da Penha para operacionalizar a pesquisa que tem parceria técnica com o Instituto Maria da Penha. Acrescentou que desde o início acreditou na importância das parcerias, principalmente naquelas desenvolvidas entre os investigadores e os que estão em condições de utilizar a pesquisa eficazmente. Agradeceu à Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, do Governo Federal, que financia a pesquisa, e ao Banco Mundial. A pesquisa terá prosseguimento e um novo relatório será divulgado em 2017.
PROGRAMAÇÂO – Hoje (9), a partir das 8h30, o Prof. José Raimundo Carvalho falará sobre “Violência doméstica no Nordeste: uma nova perspectiva socioeconômica”, tendo como debatedores Daniel Cerqueira, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e Profª Carmem Hein de Campos, da Universidade de Vila Velha (ES). Às 10h45, o Prof. Victor Hugo Oliveira, analista de políticas públicas do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), abordará o tema “Violência doméstica e o impacto nas novas gerações”.
A programação da tarde, das 14h às 16h, está reservada para uma mesa de debates – formada por Wânia Pasinato (representante no Brasil da ONU Mulheres), Maria da Penha (Instituto Maria da Penha), Prof. Victor Hugo Oliveira, Profª Regina Célia (Instituto Maria da Penha), Profª Márcia Machado (Pró-Reitora de Extensão da UFC), Paula Tavares (Banco Mundial) e Fátima Pelaes (titular da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres) – que tratará do tema “Novos subsídios para a discussão de políticas de enfrentamento à violência doméstica”.
Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional da UFC – fones: 85 3366 7331 / 3366 7936 / 3366 7938