Saiu no site FOLHA DE S.PAULO
Veja publicação no site original: Educação para uma cultura de paz
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Escolas devem abordar igualdade de gênero e violência contra a mulher
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Por Fátima Pelaes
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Há o que celebrar neste mês das mulheres. O aumento na escolaridade, o crescimento do nível de ocupação e dos espaços políticos. Em outros campos, falta muito, como a ainda tímida redução das injustas diferenças salariais. E, principalmente, como também continua necessário lembrar que todo dia é dia de exigir respeito, de cobrar justiça e de dar um basta à violência. A igualdade entre mulheres e homens não é apenas um direito feminino, mas o requisito que humaniza a nossa própria existência.
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Cabe aos Poderes da República o papel de indutor dessa igualdade, que pressupõe oportunidades, garantia de direitos e, acima de tudo, o fim da violência contra a mulher. Pesquisa publicada nesta Folha aponta que o feminicídio trilha a contramão dos demais crimes violentos, que têm sofrido queda. A partir de dados das 27 unidades da Federação, em 2019 foram 1.310 mulheres assassinadas, apenas por serem mulheres —um crescimento de 7,2% em relação ao ano anterior.
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O Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial de feminicídio, segundo a Organização das Nações Unidas. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019 mostra que 88,8% dos autores eram companheiros ou ex-companheiros das vítimas. Aqui se mata 48 vezes mais mulheres do que o Reino Unido.
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O Brasil obteve importantes avanços a partir da adoção da Lei Maria da Penha, com o endurecimento da legislação de estupro e com a Lei da Importunação Sexual. A partir de 2015, alteramos o Código Penal Brasileiro para incluir a lei 13.104 e tipificar o feminicídio como homicídio.
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O processo de aperfeiçoamento da legislação precisa ser permanente. E, para avançarmos melhor, mais mulheres devem participar da política e da vida parlamentar, seja como candidatas, pois quanto mais candidatas mais chances de serem eleitas, ou mantendo-se como agentes de transformação social.
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Sociedades com altos índices de feminicídio costumam apresentar elevada tolerância à violência contra a mulher. A naturalização da violência e as práticas machistas cotidianas só serão modificadas a partir do compromisso coletivo de coibir todas as formas de abuso.
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É preciso romper o ciclo cultural da violência contra a mulher, e isso se inicia nas salas de aula desde o ensino básico. Educar crianças e jovens é o primeiro passo para desenvolver uma cultura pacífica e solidária. Só podemos enfrentar a força bruta genética masculina com educação transformadora.
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Defendemos, em todos os níveis, que disciplinas voltadas à abordagem da igualdade entre mulheres e homens e à prevenção das violências façam parte das atividades curriculares —tudo com a devida profundidade e alinhamento com o nível pedagógico.
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É difícil mudar completamente o caráter das pessoas e, portanto, estaremos sempre suscetíveis a desvios de conduta e atos violentos. Mas podemos —e devemos— prover a educação da maioria para garantir igualdade, segurança e justiça a partir da adoção de uma cultura de igualdade entre mulheres e homens.
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Todas as mulheres precisam ter assegurado o direito a viver sem medo da violência resultante de valores culturais machistas. E todos com mais educação, para que as mulheres conheçam e exijam seus direitos. Para que as dores, físicas e emocionais possam ser evitadas. E para que os crimes não sejam sequer cogitados.
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