Saiu no site HUFFPOST
Veja publicação no site original: As questões que nunca te contaram sobre os relacionamentos
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Falamos muito sobre o amor e pouco sobre como colocamos as relações em caixinhas de boas ou ruins.
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Por Stefani Souza
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Quem nunca teve um relacionamento complicado que atire a primeira rosa, afinal, amores sofridos são um clássico do cinema e uma narrativa digna de novelas. Mas, e na vida real, precisa mesmo ser assim?
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O que faz de um relacionamento algo bom? Quando é hora de colocar um ponto final? O medo da solidão nos aprisiona? Algo que começou ruim pode melhorar?
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Enquanto seres humanos, nós vivemos processos. Da infância à velhice, são incontáveis as fases pelas quais passamos. E em cada uma delas cabe a dor e a delícia das experiências que vivemos. Engana-se, no entanto, quem pensa que amadurecer é algo linear e agradável o tempo inteiro. E isso também é uma realidade para os nossos relacionamentos.
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“A vida tem momentos de crise e sempre que mudanças radicais surgem, são vividas como algo que incomoda. Por isso não podemos confundir relacionamento saudável com relacionamento confortável”, explica Iana Ferreira, psicóloga que trabalha com terapia familiar e de casais.
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“Para ser saudável, um relacionamento precisa ser um campo propício para o desenvolvimento interno de todos os envolvidos”, completa.
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Enquanto valores sociais e morais estabelecem o que seria um relacionamento perfeito, estamos sempre criando a necessidade de buscar culpados quando algo não acontece da forma que esperamos. Mas será possível existir um único vilão quando, na realidade, o relacionamento é sempre vivido em conjunto — a dois?
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“Relacionamentos são uma série de acordos feitos por pessoas e, a não ser que alguém esteja em uma relação como refém, o que evidentemente pode acontecer, mesmo que um esteja errando, existe também o permissor, que deixa a situação se perpetuar e repetir”, alerta Ferreira.
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“Um relacionamento, para ser saudável, precisa ser um campo propício e favorável para o desenvolvimento interno de todos os envolvidos.”
– IANA FERREIRA, PSICÓLOGA
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Sobre mudanças e expectativas em uma relação
Mas será que um relacionamento é capaz de mudar alguém? Quando Kathleen Silva, de 20 anos, começou a contar sua história, o que parecia um relacionamento ideal foi se desenhando uma relação permeada por tristeza e solidão.
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“Desde o começo do relacionamento, eu não podia fazer nada, saia só com ele, passava os finais de semana em sua companhia e tinha caminho certo todos os dias: ia de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Ele não me respeitava”, relata a estudante ao HuffPost.
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Ainda assim, a estudante acreditava que uma hora ou outra as coisas poderiam dar certo e persistiu na relação. Às vezes, temos uma ideia fixa de que somos capazes de transformar o nosso parceiro em alguém melhor ou mais adequado para nós mesmas.
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Pode parecer egoísmo, mas, na maioria dos casos, o sentimento tem origem no medo de abrir mão da relação. Para situações assim, vale o velho ditado de que alguém só muda se quiser. É o que explica a psicóloga:
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“Não existe um momento da vida em que um indivíduo possa se transformar mais do que quando ele está fazendo parte de uma relação mais profunda. O relacionamento íntimo e amoroso, movido pela intensidade do desejo de estar com alguém que se gosta, é um impulso para transformações internas, mas não é o outro que me modifica, nem eu que modifico o outro”, explica Ferreira.
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Por outro lado, tendemos a desistir das pessoas na primeira dificuldade. Na geração em que o Tinder permite um cardápio de contatinhos, por que ter paciência com alguém que é diferente da gente?
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Para Ferreira, a grande questão é pensar que ninguém é perfeito. A mudança vem se há espaço e disposição de cada um dos indivíduos.
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E foi o que aconteceu com Kathleen Silva. Ao perceber que estava em um relacionamento que não lhe fazia bem, ela decidiu se afastar do então companheiro.
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“No lugar de pensar se um relacionamento é capaz de transformar alguém, não seria melhor pensarmos sobre o quanto nós, ou os nossos parceiros, estamos disponíveis para de fato repensar as nossas atitudes, os nossos padrões de comportamento?”
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O tempo e o espaço foram suficientes para que o casal repensasse a dinâmica do relacionamento e, tempos depois, eles reataram a convivência. Atualmente, a jovem conta que está feliz com o namoro, mas foram precisos ajustes de ambas as partes,
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No lugar de pensar se um relacionamento é capaz de transformar alguém, não seria melhor pensarmos sobre o quanto nós, ou os nossos parceiros, estamos disponíveis para de fato repensar as nossas atitudes, os nossos padrões de comportamento?
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“A estagnação, o não crescimento e o fato de não ser uma relação construtiva são fatores que determinam se uma relação é prejudicial, tóxica e não saudável”, explica a psicóloga.
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Quando as opiniões dos outros afetam nossas escolhas
Lara Vicente e Fernando Thomaz estão juntos há 7 anos. Os 2 já ouviram milhares de vezes que o namoro não daria certo. Eles seriam muito diferentes um do outro e a relação não tinha futuro aos olhos de amigos e parentes.
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A situação, vivida por Lara e Fernando, não é muito diferente do que vivem muitos casais. Frequentemente, nos pegamos com a seguinte questão: o quanto a nossa validação dos relacionamentos passa pelo olhar de terceiros?
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“A sociedade interfere o tempo todo nas nossas relações. Não existe nada que esteja desconectado do coletivo. Estamos imersos em uma sociedade que imprime padrões, modelos, anseios e objetivos que vêm de fora para dentro das nossas vidas. O desafio é lidar com as escolhas: o quanto eu realmente deixo do coletivo entrar e o quanto tenho força suficiente para me opor a isso?”, questiona Ferreira.
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É claro, nem tudo o que vem de fora é ruim, mas filtrar como essas opiniões vão te impactar é fundamental. É um exercício de amadurecimento, para qualquer pessoa que está em uma relação, checar se faz sentido ou não levar os comentários alheios em consideração.
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“Se você nunca escuta a opinião dos outros ou sempre as escuta, existe uma polaridade, o que é um problema. Se eu dependo muito da opinião de outros ou se sou completamente blindada ao que vem de fora, há uma questão a ser trabalhada”, adverte a psicóloga.
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Compreender esse filtro foi fundamental na história de Lara e Fernando, hoje noivos aos 24 anos. Entre idas, vindas, erros e acertos, o rapaz conheceu outras pessoas, histórias e pensou em desistir. “Ficamos um tempo separados, fui viver novas experiências e entendi que dividir a vida com alguém era o que eu realmente queria”, disse.
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E sobre julgamentos, Gabriele Baptista, de 21 anos, também entende. É que ao decidir se casar com o namorado, com quem sempre teve um relacionamento saudável, deixou muitas pessoas surpresas.
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“Vi muitos comentários de preocupação e tudo bem, mas com o tempo virou intromissão. Diziam que eu era muito nova, que poderia não dar certo e que só no casamento eu descobriria quem realmente era meu namorado”, conta.
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Ela se viu sendo julgada publicamente por sua decisão e, com o tempo, parou de compartilhar sobre a união porque ficava triste com as reações daqueles que em tese eram amigos.
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“Por sermos muito novos e cristãos, diziam que estávamos casando só para fazer sexo e com isso rolavam muitas piadas e deboche, não respeitavam nem a questão da idade e nem a minha fé”, declarou.
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Para a jovem, tratar os comentários como algo desimportante foi a melhor opção. “Não deixava que isso entrasse no meu coração. Sempre preferi olhar para as pessoas que estavam felizes por nós”, finaliza.
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Na contramão do que se espera de sua geração, a decisão pelo casamento assusta. Por outro lado, a sociedade também estimula, principalmente para as mulheres, que o caminho da felicidade está em encontrar a sua dita “alma gêmea”. Afinal, conviver com a solitude ainda é um grande tabu.
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“O medo de ficar sozinho leva as pessoas a fazerem concessões muito radicais e abrirem mão de aspectos essenciais da própria vida. A única forma de estar bem acompanhado é lidando com a solidão, na certeza de que ela existirá mesmo dentro de um relacionamento”, explica a psicóloga Iana Ferreira.
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A realidade é que muita gente não sabe lidar com a própria companhia e tenta preencher determinados vazios a todo custo — muitas vezes, alimentando relacionamentos que não são nada construtivos.
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“A única forma de estar bem acompanhado é lidando com a solidão, na certeza de que ela existirá mesmo dentro de um relacionamento.”
– IANA FERREIRA, PSICÓLOGA
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Existe relacionamento certo e errado?
Mas, afinal, quando um amor começa muito desafiador, incômodo e cheio de obstáculos, ele pode encontrar uma saída?
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Para a psicóloga, a resposta é sim. “Pode ser um momento de crescimento, então a questão é saber se existem recursos internos para que o casal enfrente isso e cuide das necessidades de ambas as partes”.
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Problemas que a gente considera o fim do mundo são, na maioria das vezes, contornáveis. Estamos acostumados a pensar que cada indivíduo já vem com uma espécie de manual de instruções, mas a verdade é que é necessário enfrentar as frustrações, tanto nossas quanto de nossos parceiros.
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Em uma relação é muito importante saber diferenciar o que é seu, o que é do outro e o que é coletivo. Quando os papéis são estabelecidos e nos lembramos que nós não temos o controle de tudo, o fluxo tende a ser mais leve.
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E o segredo para isso? A maturidade e a responsabilidade emocional.
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Não é fácil, né?!
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Mas só é nos relacionando que nossas relações vão efetivamente melhorar.
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