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“Nós nunca pediremos desculpas por termos nascido mulher. Vocês é que têm que pedir desculpas pelas agressões”. De forma contundente, a promotora Gabriela Mansur encerrou a fala dela no Fórum Unificado, um evento que discute questões do enfrentamento da violência contra a mulher e diversidade sexual, que aconteceu em Barueri, na grande São Paulo. Gabriela foi uma das convidadas de uma das partes do fórum que foi, basicamente, dividido em dois momentos: uma parte específica sobre políticas públicas voltadas para a população LGBT – que também é vítima de violência – e como enfrentar o problema da violência contra a mulher e caminhos para desconstruir o patriarcado.
O Brasil está na quinta posição do ranking de países onde mais se matam mulheres. “A maior parte dos crimes contra a mulher está totalmente associada ao ciúmes, necessidade de controle. São essas circunstâncias. É o cara que não consegue controlar o horário da mulher, a roupa, o grupo de whatsapp, com quem ela está falando”, exemplifica. “Eu peguei um caso de uma moça que o marido entrava no trabalho e olhava no whatsapp e ela estava on-line. Aí ele ficava perguntando com quem ela estava falando, insistia, até chegava a ligar cobrando. Só que a mulher estava trabalhando. Isso é o controle, a insegurança, a necessidade de ter poder sobre a mulher”, disse.
A promotora Gabriela Mansur focou bastante na reincidência da violência e no fato de ela predominantemente acontecer dentro de casa e submetida a uma relação de afeto: 70% dos casos o agressor é o companheiro. Segundo ela, em 65% dos casos o agressor reincide. Uma das possibilidades para reduzir esse número é a mudança de mentalidade. Nesse sentido, Gabriela citou o projeto “Tempo de despertar”, que é realizado na cidade de Taboão da Serra, e que foca a prevenção no agressor. Ou seja: para além de empoderar e estimular a mulher a denunciar, a não se calar, enfim, um equipe multidisciplinar vai tratar a causa, trazendo esses homens para a reflexão até que se transformem e observem que o ciclo da violência é sustentado pelo machismo, do qual, em última análise, são vítimas porque foram transformados em agressores. Os resultados são eficientes: o índice de reincidência dos casos acompanhados na cidade da grande São Paulo caiu para pouco mais de 1%.
Ainda sobre as denúncias, a promotora Gabriela Manssur chamou a atenção para a quantidade de retiradas de queixas: 90% das vítimas, quando percebem que o processo pode gerar uma condenação e que a punição pode ser o encarceramento, pedem que a ação seja suspensa. Ela ressalta que essa vítima não pode ser julgada por isso, uma vez que essa decisão é multifatorial: “São os filhos, a família, julgamento da sociedade, a vergonha de admitir que apanhou, a dependência financeira e até a emocional. Então são muitos fatores”, conclui.
Também durante o evento, tomou corpo a campanha que a coordenadoria de atenção a mulher e diversidade sexual da prefeitura de Barueri lançou a campanha do colibri, que foi escolhido como símbolo da libertação da mulher. O colibri é um pássaro que não se permite ser engaiolado. Ele precisa ser livre. Assim também são as mulheres, que precisam ocupar seus espaços, impôr seus limites e, sobretudo, não se calar diante de uma agressão. Foram distribuídos dobraduras de colibris para as pessoas que participaram do evento.
Publicação Original: DESCONSTRUIR O PATRIARCADO É FUNDAMENTAL PARA ACABAR COM A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER