Saiu no site REVISTA CLAUDIA
Veja publicação no site original: Cofundadora do Nubank revela como concilia maternidade e trabalho
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Além de ser uma das maiores executivas do mundo, Cris Junqueira também é mãe de Alice, de 5 anos, e está grávida de outra menina
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Por Bárbara dos Anjos Lima
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A engenheira Cris Junqueira, cofundadora do Nubank e líder de esforços de branding e business development do banco, leu na revista Forbes que esportes de alta performance, como triatlo, maratona e ironman ou ironwoman, são o novo MBA. Segundo o artigo, as práticas têm ajudado empresários a desenvolver competências importantes para o mercado de trabalho, como a disciplina, a resiliência e a capacidade de planejamento.
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A reação dela? “É, legal. Não vou dizer que não. Mas ser mãe também desenvolve essas características. Digo que pratico extreme parenting (maternidade extrema). Priorizo tempo de qualidade com minha filha, participo da sua vida escolar, quero entender tudo o que acontece com ela. Cadê uma matéria dizendo que ser mãe presente é o novo MBA?”, dispara a paulista de 37 anos, que é mãe de Alice, 5, e está grávida de sete meses de outra menina, que deve se chamar Olívia.
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Profissionais como ela (que, aliás, recebeu em 2016 o Prêmio CLAUDIA na categoria Negócios) ajudam, aos poucos, a desconstruir estereótipos – com exemplos reais – de mulheres que chegam ao poder, mostrando que o topo pode (e precisa) ser muito mais plural. Depois de ouvir sua história e entender como é sua rotina, dá pra dizer que Cris tem medalha de ouro no esporte maternidade intensiva. Ela mesma leva e busca a filha na escola todos os dias, não tem babá e carrega a menina em suas viagens a trabalho. Porém, como conta a seguir, isso não significa que seja tarefa fácil conciliar a agenda de líder do maior banco digital independente do mundo com as dores e delícias da maternidade.
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CLAUDIA: Você engravidou da Alice quando o Nubank estava nascendo. Foi planejado?
Foi meio no susto (risos). O Rubens (Pereira, marido dela) e eu estamos juntos há 15 anos, e eu estava enrolando. Meu marido é dez anos mais velho do que eu e queria ter filhos o mais rápido possível. Já eu me achava muito nova. Engravidei numa troca de pílula anticoncepcional.
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CLAUDIA: Você chegou a pensar: “Não era pra ser agora”?
Claro. Primeiro fiquei desesperada! Inclusive, estava muito nervosa até descobrir que não seriam gêmeos.
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CLAUDIA: Era uma fase de aposta na empresa. Como seus sócios reagiram?
A surpresa foi grande. Até para mim. Eu estava bastante insegura. Naquela altura, ter filhos era algo distante da realidade deles. Os dois (David Vélez e Edward Wible) eram solteiros, nem namorada tinham. Mesmo assim, ficaram felizes e me apoiaram. O Nubank estava nascendo, o time era pequeno: apenas nós três e vários desenvolvedores. Minha função incluía desde falar com o Banco Central e a MasterCard até desenvolver a marca e responder aos clientes. Ligavam para o 0800 do banco e era eu quem atendia. E, aí, engravidei.
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CLAUDIA: Como foi viver a gravidez em um momento tão decisivo e em um ambiente corporativo predominantemente masculino e, muitas vezes, machista?
Eu era um bicho estranho, né? Fui à Califórnia grávida de sete meses para fazer o pitch (apresentação do projeto) para investidores. Imagina entrar naquela sala de conferência gigante só com homens! Recebi olhares, acho que de curiosidade mesmo. No final, teve um que disse: “Pitch de grávida é a primeira vez que vejo” (risos). E eu estava numa vibe de desviar o assunto. Na necessidade de me provar, queria deixar claro que estar grávida não influenciaria o meu rendimento. Tinha receio de as pessoas me julgarem. Passei nove meses fingindo não estar grávida. Uma loucura! Entrei em trabalho de parto durante uma reunião. No hospital, enquanto esperava a dilatação, meu sócio levou um documento para eu assinar, respondi a clientes, atendi ligações. No dia seguinte ao nascimento da Alice, já estava dando retorno a e-mails.
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CLAUDIA: Ou seja, você não tirou licença-maternidade.
Não! A Alice nasceu numa quarta-feira, saímos do hospital no sábado e, na segunda-feira, eu estava trabalhando. Com os pontos da cesárea e tudo. Ela mamava de manhã, eu ia para o escritório, voltava para casa na hora do almoço, amamentava, voltava no fim da tarde, amamentava… Botava a Alice para dormir às 23 horas e trabalhava até às 3, quando ela acordava para mamar de novo. Foi uma fase bem conturbada. Tento lembrar, mas é tudo um borrão na minha mente.
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CLAUDIA: Como mãe, sei que o primeiro mês é pesado. Você não fugia para chorar no banheiro?
É um período louco. Na nossa primeira noite em casa, me lembro de olhar para a Alice e para o Rubens e pensar: “Que merda que eu fiz com a minha vida!”. E de chorar desesperadamente. Mas foi um dia. Durou 24 horas e passou. Fiz o que tinha que fazer. Adoraria poder dizer hoje: “Fui boba, exagerei durante aquele período”. Mas não. Eu não estaria aqui, o Nubank não estaria onde está. Por outro lado, ninguém deveria ter que fazer isso. Agora, com tudo o que conquistamos, estou determinada a fazer diferente.
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CLAUDIA: Como é a organização na sua casa? Vocês têm um time para ajudar?
Tenho uma funcionária que cuida da casa. Mas nunca tive babá.
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CLAUDIA: Sério?
Tenho um amiga que diz: “Esse negócio de Nubank é muito legal, você está de parabéns. Mas, pra mim, admirável mesmo é não ter babá! (risos)”. No comecinho, minha sogra e minha mãe se revezavam para me dar apoio. Ficavam com a Alice para eu ir ao escritório. Mas, à noite, era comigo. Quando ela tinha quase 4 meses, colocamos num berçário – foi até esse período que amamentei. Sobre não ter babá, penso assim: se deixar, trabalho muito, sem pensar. Gosto demais do que eu faço, me dá prazer. Ainda mais sendo o Nubank meu filho, gêmeo da Alice!
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CLAUDIA: Então não ter babá vira um freio.
A ideia é essa. Contar com uma babá me permitiria trabalhar até mais tarde. Sem alguém, me forço a ter limites. Deixo minha filha na escola às 8, chego ao escritório às 8h30. Não saio para almoçar, como algo na minha mesa. A Alice fica na escola até 17h45. Saio do escritório às 17. Todo mundo sabe que não adianta marcar nada depois disso. No máximo, resolvo algo por telefone. Em casa, dou janta, banho e coloco pra dormir. Depois, ainda faço alguma coisa. Funciona bem pra mim.
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CLAUDIA: Você não apela para uma babá ou cuidadora nem nos fins de semana para um vale-night?
Não. Mas aí é do perfil. Sou caseira. Gosto de estar com a Alice, em família. Meu marido também. Fazemos passeios juntos. Sou a doida da Disney (risos). Este ano fui ao cinema ver Aladdin, O Retorno de Mary Poppins e O Rei Leão duas vezes cada um.
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CLAUDIA: Quais são seus hobbies?
Meu hobby é ser mãe, e estou grávida (risos). Gostava de cozinhar para os amigos em casa. Mas, ultimamente, ando mais cansada. Comecei a praticar um pouco de mindfulness e descobri um negócio que me ajuda a relaxar: monto quebra-cabeças. Se você for na minha casa agora, tem um de 2 mil peças sendo montado. É legal porque o Rubens e a Alice gostam também. É o mais perto que tenho de um hobby hoje (risos).
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CLAUDIA: O que dizer a uma mulher que quer ter uma carreira e filhos, mas tem medo de a vida profissional desandar?
Eu entendo todos os medos. Já tive os meus. Não é besteira. Já vi empresas em que a mulher volta da licença-maternidade e a vaga não existe mais. A primeira coisa é reconhecer que isso é real. Mas cada vez mais empresas estão conscientes da importância de reter as mulheres. Vale entender o ambiente onde você está e, de repente, até se movimentar para uma empresa que tenha um perfil mais condizente. Também é importante pensar em como sua rotina vai funcionar. Qual sua estrutura de família, como é a divisão de tarefas com o parceiro? Porque não é só durante a licença-maternidade. O depois é complexo. Lá em casa, a divisão é bem igualitária. Claro que, de vez em quando, a gente tem uns quebra-paus, mas asseguramos um bom acordo: eu fico mais com a Alice, o Rubens cuida mais da casa. É sobre encontrar o que funciona para você. E aceitar que o perfeito não existe. Não tem hora certa, e você vai ter que abrir mão de várias coisas.
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CLAUDIA: Qual o aspecto da sua vida hoje que está deixando a desejar?
Vários. Costumam perguntar como eu consigo. Consigo porque priorizei o Nubank e a Alice. O marido, coitado, é um terceiro distante na lista (risos). Não tenho vida social. Esquece. Se quer me ver, tem que ir na minha casa. Ou a gente se encontra em uma festinha infantil. Também não pratico exercícios físicos. Dizem: “Ah, mas é só uma hora”. Ok, mas para mim é uma hora a menos com minha filha, com quem já tenho pouco tempo. Para não falar que não faço nada, faço ioga duas vezes por semana, às 21h30, com uma professora que vai em casa.
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CLAUDIA: Agora você está grávida de novo, mas em uma outra fase do banco. Consegue encarar a licença-maternidade como uma conquista, um direito?
Não chegou a ser difícil pra mim voltar da outra vez. Mas não conto essa história com orgulho: “Nossa, minha filha nasceu e eu fiquei no hospital trabalhando”. É triste. Você sabe do que estou falando, também é mãe. Como perdi muito no início com a Alice porque estava trabalhando, estou ansiosa para ficar com a bebê agora.
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CLAUDIA: Bate o receio de perder algum projeto importante por estar fora?
Sei que isso passa pela cabeça de muitas mulheres que saem de licença. Mas, desde que o Nubank começou, não teve um mês sem um grande acontecimento. A qualquer momento que eu tivesse um filho, perderia algo. Nesta segunda gravidez, estou disposta a sair mesmo de licença. Mas estarei em São Paulo, perto do escritório. Se houver algo que eu faça questão de participar, nada me impede. Só que estou tentando manter a perspectiva de que sempre haverá coisas interessantes acontecendo na carreira. Já filho só nasce uma vez. Então a prioridade agora é essa.
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Como é o esquema no Nubank?
Dos 2,1 mil colaboradores do banco, 40% são mulheres – presentes em todas as funções e níveis de senioridade. Atualmente, o banco faz parte do Programa Empresa Cidadã (instituído pela Lei nº 11.770/2008) e permite licença-maternidade de seis meses e paternidade de 20 dias. Como sócia da empresa, Cris não entra na regra. Recentemente, o Nubank organizou um grupo de pais e mães com o intuito de abrir um espaço de discussão entre funcionários e líderes sobre questões ligadas a trabalho e paternidade/maternidade.
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