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Dia da Consciência Negra: como promover a igualdade racial

Saiu no site FINANÇAS FEMININAS

 

Veja publicação no site original:  Dia da Consciência Negra: como promover a igualdade racial

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Por Carol Nogueira

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O Dia da Consciência Negra marca novembro como o mês da disseminação de dados acerca do abismo racial entre pessoas negras e brancas. As informações sobre a desigualdade no mercado de trabalho, presença nas universidades e a violência são relevantes para escancarar o racismo cotidiano, que é normalizado e reproduzido pela sociedade. No entanto, o debate sobre a desigualdade racial perde a visibilidade após novembro e permanece apenas no interior dos movimentos sociais e negros.

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Com 209, 6 milhões de brasileiros, 18,8 milhões que se declaram pretos e 98,8 milhões que se consideram pardos, segundo o IBGE, é primordial refletir sobre a posição dos negros na sociedade e praticar ações para promover a igualdade racial.

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Nos lugares que você costuma frequentar, seja um restaurante, bar, shopping, entre outros, você já reparou quantas pessoas negras estavam no ambiente? Dessas pessoas, quantas estavam servindo ou limpando? No seu trabalho, quantas pessoas negras ocupam um cargo na coordenação ou diretoria? Essas são apenas algumas provocações para refletir em novembro e nos demais meses do ano. Não ser racista é importante, mas também é necessário apoiar a luta antirracista para uma sociedade mais justa para todos.

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“O racismo é estrutural assim como o machismo, por isso só vamos conseguir vencer essa batalha transformando a cultura. Precisamos começar a falar no cotidiano, ter políticas públicas que favoreçam as pessoas negras em posições importantes. A maioria das pessoas ficam surpresas quando abre a porta do consultório e vê um médico negro. Temos uma batalha imensa no campo das representações”, afirma Ângela Figueiredo, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

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O imaginário brasileiro é racista

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No Brasil, a imagem da mulher negra está relacionada a uma posição inferior. Esse imaginário é alimentado pela narrativa audiovisual das novelas, filmes, desenhos e propagandas que sempre colocam a mulher negra representada como coadjuvante, servindo, hipersexualizada e a mulher branca no papel principal.

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Dessa forma, parte da sociedade entende que pessoas negras não podem almejar posições mais altas, como protagonistas de filmes, CEOs de companhias, diretorias de bancos, entre outros. Quando uma mulher negra alcança um cargo importante, é constantemente alvo de uma patrulha que busca desqualificá-la profissionalmente.

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Desde que assumiu o comando do Jornal Hoje, a jornalista Maju Coutinho vem sofrendo duras críticas ao seu trabalho na TV Globo. Outras jornalistas brancas não passaram pela mesma situação e isso revela o racismo que atinge as mulheres negras.

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“As pessoas se acostumam a ver um corpo negro limpando a rua ou servindo cafezinho nos eventos e nas clínicas. Naturalizam que o corpo negro está ali para isso. Qualquer transformação parece que mexe com o imaginário coletivo. Se tivesse muitas mulheres negras na TV, as pessoas teriam que se familiarizar mais rápido. Com uma só parece cota e todos os holofotes ficam voltados para ela com toda ira historicamente construída”, pondera Figueiredo.

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A ponte para a igualdade racial

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No âmbito federal, as questões raciais ganharam mais atenção com a criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, em 2003 que apresentou alguns projetos, como a Lei 10.639/2003 que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas, a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, de 2009, o Estatuto da Igualdade Racial, em 2010 e a Lei 12.711/2012 de cotas nas universidades federais.

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Apesar da obrigatoriedade, o ensino da história da África e da cultura afro-brasileira em todos os estados e municípios ainda é irregular. Segundo Figueiredo, a lei deve ser encarada com mais seriedade, inclusive nas escolas privadas, pois é o caminho para discutir a igualdade racial.

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“Esse é um mote interessante para levar a discussão para casa e em todas as disciplinas. A diversidade é para além do discurso, a gente só aprende na convivência, só aprende fazendo”, diz.

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Como adotar práticas antirracistas

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O combate ao racismo é um trabalho conjunto. Pessoas brancas devem ser aliadas e adotar práticas antirracistas pela igualdade racial. Isso, muitas vezes, implica abrir mão de privilégios. Porém, não significa que você terá que se desfazer do seu carro, segundo Dione Oliveira Moura, professora e pesquisadora em Comunicação da Universidade de Brasília (UnB).

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“É pensar em políticas públicas que promovam a igualdade. Algo que às vezes eu chamo de privilégio, tem que ser percebido como um direito que o outro deveria usufruir. O direito à educação não é um privilégio, é um direito e às vezes a outra pessoa não tem. Na hora de escolher um representante político, eu posso votar em alguém que defenda os direitos sociais e econômicos do qual eu não sofro exclusão, mas eu me solidarizo”, explica.

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Dar voz e espaço para negros também é uma prática antirracista. “Quando alguém pede indicação de funcionário que vai ocupar um cargo importante, seja coordenador, médico, pedagogo ou historiador, a pessoa branca tem que ser capaz de indicar uma pessoa negra. E saber que a rede de indicação familiar será interrompida, se estiver verdadeiramente comprometida com a causa”, recomenda Figueiredo.

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De acordo com Figueiredo, a luta contra o racismo também está no âmbito das representações, que é de transformação do imaginário, alterando a imagem que pretos são criminosos e as mulheres negras fazem a limpeza.

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“Nós negros não vamos conseguir fazer a tarefa sozinhos. As pessoas brancas precisam estar comprometidas para além da simpatia à causa. É necessário entrar na luta com a gente, reeducando os pares e abrindo mão dos seus próprios privilégios. Acho que se a gente quer construir uma sociedade mais justa, vamos ter que dividir privilégio”, destaca.

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Representatividade importa, mas…

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A representatividade tornou-se uma das principais bandeiras levantadas pelo movimento negro e feminista. Contudo, a representatividade apenas no campo simbólico não é efetiva na luta contra o racismo. A presença de pessoas negras nos espaços de poder, como o Congresso Nacional, não significa que a igualdade racial será defendida. Muitas vezes, a desigualdade no cotidiano das populações negras e indígenas permanece.

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“Marielle se tornou um símbolo. Infelizmente, o assassinato dela fez nascer várias Marielles. Aqui em Salvador temos o fórum Marielle, onde estamos empoderando e trabalhando com as mulheres negras na disputa por cargos políticos. É um estímulo para que a representação das mulheres negras seja o oposto da subalternizada”, finaliza Figueiredo.

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Fotos: AdobeStock

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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