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Cássia Hellem e Kátia não foram vítimas ocasionais — 60% dos escalpelados são crianças, de acordo com a Marinha.
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Elas também tem o perfil mais comum das vítimas porque eram pessoas do sexo feminino e moram em localidades ribeirinhas nos fundões da Amazônia. Gente com o modo de vida tão adaptado ao rio que vive em casas sobre palafitas para evitar inundações na época da cheia. Pessoas que se criam sobre um barco feito nos fundos de casa porque dependem dele para ir à escola, igreja, banco, visitar parentes ou qualquer outro deslocamento.
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A explicação é de Darci Lima, presidente da Orvam (Organização dos Ribeirinhos Vítimas de Acidente de Motor), com sede em Belém. Ela acrescenta que tratam-se de mulheres quase sempre evangélicas que não cortam o cabelo por motivos religiosos.
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“Os ribeirinhos tem no rio o meio de sobreviver. Eles ganham dinheiro com a pesca e, nas férias, transportando gente para a Ilha de Marajó (PA). São pessoas que vivem em lugares isolados, [a uma distância de] dias de barco de um centro urbano”.
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Darci e os outros integrantes da Orvam fazem um trabalho de conscientização com esta população e contam com apoio da Marinha. A instituição doa e instala coberturas nos eixos dos barcos, anulando as chances de acidente. Foram fixadas 299 coberturas neste ano, informou o Comando do 4º Distrito Naval.
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“A cultura de risco propicia que os ribeirinhos, no geral, não percebam o risco eminente de não instalar o equipamento de proteção”, explicou a comunicação social da Marinha.
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Existe uma lei de 2009 que obriga a usar a proteção, mas ela é ignorada. A presidente da ONG diz que muitos ribeirinhos não fazem a adaptação porque o reparo faria eles ficarem sem o barco por três ou quatro dias, algo complicado para quem depende do rio. O outro motivo é de segurança. Um barco pode ser reconhecido, um motor, não.
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“Quando eles terminam de usar o barco, tiram o motor. Se por a cobertura, não tem como fazer isso. Os bandidos levam o barco, destroem em alguma margem de rio e levam o motor para colocar em outra embarcação.”
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Dor e mais cirurgias
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A exposição dos eixos continua e os acidentes também. Às vezes, sobrancelhas e orelhas também são arrancadas.
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