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Veja publicação original: Respeito: Tina luta contra assédio em nova HQ
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Quando a sinopse da Graphic MSP da Tina foi divulgada, já sabíamos que ela viria com um tema importante: o assédio. Na capa, criada por Fefê Torquato, que assina toda a arte e roteiro, a personagem aparece com uma mão espalmada, semblante sério e a outra em um punho serrado, deixando claro que a jovem mulher criada por Mauricio de Sousa, na década de 1970, não está brincando quando exige respeito – palavra que dá título à obra.
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Na trama, Tina está na primeira semana de trabalho na redação do Mundo Hoje, um importante jornal. Mesmo já tendo iniciado sua carreira como jornalista com trabalhos autorais, é seu primeiro emprego em uma redação de grande porte e também a realização de um sonho antigo.
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Lá, Tina Sousa tem a oportunidade de conhecer um de seus ídolos de profissão, Luís Mariano, além de trabalhar diretamente com outro nome forte do periódico, Márcia Lamar. Tudo vai bem e ela está prestes a emplacar uma grande reportagem. Porém, quando ela precisa ir à sala do editor-chefe, Jairo Figueiredo, para discutir os detalhes da pauta, é que tudo vai por água abaixo.
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De um simples papo, o chefe já passa para um convite para jantar que, se não fosse assédio suficiente, logo se torna um toque no rosto e, enfim, uma condicional da qual toda a carreira de Tina no jornal dependeria. Ela já havia ouvido falar da fama do chefe. Mas ali, ao vivo, e com ela parecia difícil de acreditar. É nesse período que percebemos o fim do salto temporal de quatro meses que separam o início e o fim da história, no qual veremos a reação dela ao fato.
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Assédio de cada dia
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Tina – Respeito é uma HQ de sutilezas. Ainda que delicada, a arte em aquarela é forte quando o ponto é a expressão dos personagens. No desenho, percebemos o tom de ironia de algumas passagens do texto, e vemos que nada está ali por acaso. Desde a “cara de bobo” dos homens na sala dos “Focas” (apelido dado aos jovens jornalistas), quando Tina é apresentada, até o tom de preocupação de Kátia, sua melhor amiga no jornal, ao falar de quando acreditou ser seguida à noite por um carro, indo para casa.
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O relato de medo indescritível em uma situação que não aconteceu é narrado pela colega de Tina e a cantada grosseira do garçom para cima de Pipa, enquanto as duas se encontram para jantar com Rolo, são só uma amostra do assédio cotidiano pela qual as mulheres passam. Que é justamente valorizado pelo desenho do rosto delas.
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A atenção de Fefê com as expressões é tanta que, em uma segunda leitura, deixa em cheque uma frase de Mariano. Quando o veterano pede para que ela passe na sala do chefe para acertar os detalhes da pauta, o “cai matando” que sai da boca dele pode ser tanto um incentivo, dado o contexto da conversa com Tina, quanto um cara acobertando outro, a partir do momento que ele soubesse o que aconteceria a seguir. E é justamente essa incerteza que dá brilho ao gibi, por mostrar o que um simples elogio pode esconder, como as mulheres, infelizmente, bem sabem.
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Privilégios evidentes
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Em toda a história, Tina é confrontada com seus privilégios. Além do apoio da mãe, para quem ela conta toda a história, algo que muitas não têm, a moça vê em Kátia, sua amiga negra e homossexual, e em Pipa, militante da causa plus size, a inspiração que precisa para continuar a luta. E reconhece nelas barreiras que ela mesma não precisou enfrentar.
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E com tais elementos expostos pela autora, o desfecho faz ainda mais sentido. Com final poderoso e, ao mesmo tempo, um gancho aberto para desdobramentos de uma possível sequência, Fefê Torquato mostra o quanto é importante fazer algo quando se pode. E, principalmente para os homens, a mensagem de não fazer o que não pode. Afinal, respeito é algo tão óbvio que não deveria precisar ser exigido.
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Tina-Respeito (Graphic MSP)
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Editora: Panini
Autora: Fefê Torquato (roteiro e arte)
Lombada: quadrada
Capa: cartonada ou dura
Páginas: 96
Formato: 26,4 x 19,2 cm
Lançamento: setembro / 2019
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