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Fê Cortez: agosto é um mês histórico. É quando acontece a Primeira Marcha das Mulheres Indígenas no Brasil

Saiu no site O GLOBO

 

Veja publicação original:   Fê Cortez: agosto é um mês histórico. É quando acontece a Primeira Marcha das Mulheres Indígenas no Brasil

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Pela primeira vez na história do país, vemos as mulheres tomando à frente na discussão de temas como demarcação das terras indígenas

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Agosto é um mês histórico. É quando acontece a Primeira Marcha das Mulheres Indígenas no Brasil, cujo mote é “Território: nosso corpo, nosso espírito” . Pela primeira vez na história do país, vemos as mulheres tomando à frente na discussão de temas como demarcação das terras indígenas; saúde e educação destes povos; e ainda seus direitos garantidos pela Constituição (às vezes, acho que esqueceram de explicar ao nosso presidente o que ela representa). Elas estão combatendo cara a cara medidas que o atual governo vem tentando aprovar para privar o direito dos povos indígenas à terra e à vida. Entendo isso como um genocídio silencioso.

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A necessidade de 120 povos indígenas precisarem se organizar pra ir a Brasília discutir sobre sua soberania que, apesar de garantida pela Constituição, está em perigo já diz muito sobre a crise atual. É um reflexo de uma ferida que está aberta desde a invasão das “terras brasilis” por bárbaros que se consideravam civilizados e, usando a desculpa de que estariam trazendo o progresso pra cá, só fizeram explorar e arrasar as nossas terras e nossos povos ancestrais.

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Desde que separamos a religião da ciência, acreditamos que temos algum poder sobre a terra, sobre a natureza e sobre alguns povos. Na verdade, o que criamos foi uma cultura de opressão, amplamente difundida como uma supremacia de um povo sobre todos os outros. E dentro dessa supremacia fictícia dos humanos sobre a natureza (afinal, deixamos de incluir a nossa espécie quando falamos que a natureza é o que nos cerca, mas não nos reconhecemos como tal) criamos ainda uma dominação e opressão sobre as raças que consideramos inferiores (leia-se mulheres, crianças, negros, indígenas e por aí vai). Tal visão de mundo, essa de que há uma supremacia, implica que podemos legitimar os abusos. Ainda nos referimos ao que extraímos da terra como recurso natural. Só que essa visão é absolutamente equivocada e trouxe a gente até aqui, quando nos vemos como civilização diante de uma ameaça real a nossa sobrevivência, chamada de mudanças climáticas. Ou caos climático, já que vivemos um estado de emergência nunca antes imaginado pela sociedade e que pode dar cabo à nossa existência.

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A miopia é tanta que ainda achamos que progresso é abrir estrada na Amazônia e autorizar mineração em territórios indígenas que representam hoje no mundo 80% de toda a biodiversidade terrestre. A cegueira é tanta que achamos que desmatar para criar gado é garantir o PIB do país. O Produto Interno Bruto deveria ser medido não pela rendas de poucos que dominam muitos, mas pelo bem-estar da maioria

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Não chegaremos na solução dos problemas usando o mesmo raciocínio que o causou. E não vamos chegar a uma nova forma de vida em sociedade acreditando em supremacias. Se não entendermos que somos codependentes, que somos um coletivo, e que dividimos a nossa casa com outros seres e que eles nos mantém vivos, não temos chance de sobreviver. Mas para isso precisamos mudar o mindset dos nossos valores.  É preciso suprimir, sim, o patriarcado e substituí-lo por uma cultura de regeneração . É fundamental buscar o equilíbrio e combater a dominação; colaborar e não oprimir; e saber que o direito à vida é muito superior aos interesses dos ruralistas e mineradores.

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É por isso que os homens não estarão à frente da mudança da cultura que destrói pra a que regenera. E é por isso que me engajei para viabilizar que mais lideranças indígenas mulheres estivessem em Brasília lutando não só pelos seus direitos, mas pela sobrevivência de todos. Os povos indígenas e suas mulheres guerreiras merecem toda a nossa celebração e as honrarias máximas de um Estado . São elas que estão lá na linha de frente, lutando, inclusive, por quem historicamente contribuiu para a sua destruição: o homem branco. Vencer a luta da demarcação das terras indígenas e da garantia do direito à vida dessas populações não é uma luta só das lideranças dos 120 povos lá representados, é uma vitória da humanidade, que vai garantir mais resiliência e alguns graus a menos na temperatura global.

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E é por isso que eu afirmo que essa é uma luta de todos. Dessa vez, com o feminino à frente.

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É dia de celebrar, pois Empieza el Matriarcado!

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Fe Cortez é ativista ambiental e idealizadora da plataforma de educação ambiental Menos 1 Lixo. No Insta @fecortez

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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