Saiu no site G1
Veja publicação original: ‘O final de um relacionamento abusivo é o feminicídio’, diz Luiza Brunet sobre violência contra a mulher
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Em visita ao Recife, onde ministra uma palestra sobre os direitos da mulher, ela conta como se engajou nessa causa após sofrer agressão do ex-companheiro, em 2016.
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Por Pedro Lins
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“Liberdade e autoconfiança” são as palavras escolhidas pela modelo, empresária e ativista Luiza Brunetpara resumir sua experiência no combate à violência contra a mulher. Em entrevista ao Bom Dia Pernambuco desta quinta-feira (4), ela falou sobre sua história como vítima de violência doméstica.
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Ela veio ao Recife para ministrar uma palestra no I Café Com Conteúdo, evento que discute os direitos da mulher, realizado na Zona Sul. Engajada em pautas sociais e em prol dos direitos humanos, ela se envolveu ainda mais com o empoderamento feminino depois de sofrer uma agressão de seu ex-companheiro, em 2016.
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A modelo conta que, apesar de ter se envolvido politicamente com o assunto nos últimos anos, sua história com a violência vem desde muito cedo.
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“Venho de um lar onde sofri violência doméstica quando criança. Faz mais de 50 anos e, nessa época, não existia uma configuração de violência contra a mulher. Aos 54 anos, sofri violência e era o momento de tomar uma atitude, me colocar como uma pessoa que teve coragem de falar sobre o tema e dizer o quão é importante é a mulher denunciar e sair do relacionamento abusivo, que você nem percebe que está”, diz.
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Luiza Brunet palestra sobre violência contra mulher no Recife — Foto: Reprodução/TV Globo
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Em 2017, o empresário Lírio Albino Parisotto, ex-companheiro de Luiza Brunet, foi condenado pela Justiça a um ano de prisão em regime semiaberto pela agressão à modelo. O crime ocorreu em maio de 2016, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, quando chegou a ter costelas quebradas.
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Depois do ocorrido, a empresária e ativista pelos direitos humanos ampliou a lutar pelo enfrentamento da violência contra mulheres, encorajando-as a denunciar os agressores.
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“Liberdade e autoconfiança é você empoderar outras mulheres, fazer com que elas acreditem nisso contando a nossa própria história. Eu acho que isso, de uma certa forma, toca o coração das mulheres. Elas falam ‘isso é possível. Se a Luiza fez isso, uma mulher que é conhecida e tem um poder aquisitivo razoável, eu vou fazer também'”, declara.
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Para ela, mesmo com a maior visibilidade dada ao tema, os números de agressões ainda impressionam. Em Pernambuco, durante o mês de maio, a Secretaria de Defesa Social registrou 3.439 casos de violência contra a mulher.
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“Toda mulher pode ser uma ativista porque, a partir do momento que você sente a dor do próximo, do seu vizinho, ou na rua, você tem que tomar uma atitude. A sociedade civil precisa se envolver nesse tema, porque está se falando bastante, mas os números ainda são terríveis”, diz Luiza Brunet.
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Ainda de acordo com ela, a violência atravessa mulheres de diferentes classes e ciclos sociais, independente da idade. Mesmo assim, Luiza reforça a importância de denunciar o tema.
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“É muito difícil [denunciar] para qualquer mulher. Independente da classe social, se ela está em qualquer situação de vulnerabilidade, ela fica receosa por várias razões: medo, insegurança, dependência financeira e emocional. São vários fatores que fazem com que você demore um tempo para tomar essa atitude, mas é muito importante, porque o final de um relacionamento abusivo, infelizmente, é o feminicídio”, afirma.
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Regina Célia Barbosa é vice-presidente e diretora pedagógica do Instituto Maria da Penha — Foto: Reprodução/TV Globo
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Políticas públicas
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É importante que as mulheres saibam que existe uma legislação que garante seus direitos, de acordo com a vice-presidente e diretora pedagógica do Instituto Maria da Penha, Regina Célia Barbosa. Ela, que é mestra em Ciência Política, doutoranda em Direito, Justiça e Cidadania e professora universitária há 22 anos, lembra que há diversas formas de uma mulher sofrer violência.
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“Precisamos trazer a sensibilidade e gerar uma consciência sobre o dano que provoca no ser humano uma violação, seja na fala, no diálogo, seja física. Não é à toa que o artigo 7º da Lei Maria da Penha trata dos cinco tipos de violência contra a mulher, que é a sexual, física, moral, psicológica e financeira. Algumas ainda estão imperceptíveis, que é a moral, a psicológica e a financeira”, declara.
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Ainda segundo Regina Célia, o silêncio é a pior atitude. “Isso acaba dominando a mulher porque ela fica sem um parâmetro, uma saída para a situação que ela está vivenciando. A dependência financeira, juntamente com a situação psicológica, impede que a mulher ouse ou até possa acreditar na sua capacidade de ser autônoma, de ser empreendedora, e que ela possa ir para um caminho de liberdade”, diz.
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