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Veja publicação original: A lesão, a chuteira, o recorde e o apelo: a Copa de Marta, uma rainha coroada mesmo sem título
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Camisa 10 da seleção faz avaliação positiva. Na França, supera dores e levanta a voz como poucas vezes havia feito na carreira. Na despedida, diz temer por seu legado
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Por Amanda Kestelman
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Ao acompanhar a passagem de Marta por uma Copa do Mudo dá para se ter uma dimensão que, talvez, nós brasileiros demoramos para ter. Uma real noção do quanto a brasileira representa para o futebol mundial. A camisa 10 é alvo de interesse da opinião pública de diversos países e respeitada como poucas pelas adversárias, que muitas vezes fazem fila para cumprimentá-la.
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Menos de um ano depois de ser eleita a melhor do mundo pela sexta vez, ela disputou sua quinta Copa. Segue faltando, de fato, o título. Mas na França ficou evidente que ela já foi coroada pelo mundo do futebol há muito tempo.
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Não foi a melhor atuação que vimos da Marta em campo. Tampouco foi tão decisiva como em outras oportunidades com a camisa da Seleção. Mas sua passagem foi histórica, marcante e um divisor de águas também no âmbito individual.
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– Avaliação é positiva da Copa para a Seleção. Nunca me coloquei à frente de nada. Sempre falo que é um recorde para nós mulheres – disse após o jogo, complementando:
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“Devido a tudo que falavam, o Brasil juntou a garra, vontade e a coragem”
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– Sempre queremos disputar uma final, mas o jogo é jogado. Não faltou garra e vontade. Mas elas foram melhores nas finalizações (…)
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“Acho que tudo que fiz e falei aqui nesses dias foi bem aceito pelo Brasil”
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Marta marcou dois gols em sua quinta Copa — Foto: Reuters
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Desde a primeira Copa da craque, 16 anos se passaram. Tinha 17 de idade no começo e ali chamava a atenção do mundo pela primeira vez por seu talento genuíno. Sim, porque com a estrutura que se tinha no futebol feminino do país naquela época, Marta, por tudo que conquistou, pode ser considerada uma ”força da natureza”.
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Foram cinco edições com emoções distintas. O Mundial mais intenso foi em 2007, com o vice-campeonato e uma atuação brilhante da camisa 10. Mas, em 2019, Marta surgiu na Copa de outra forma. Era uma postura diferente da que o Brasil estava acostumado.
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Entre emoções e dores que também fugiram do seu controle, o adeus foi cedo, nas oitavas de final, com a derrota para a França na prorrogação. Mas a Rainha não passou despercebida.
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As dores e o desfalque
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Um banho de água fria logo nos primeiros dias da preparação para a Copa. Ainda em Portugal, local da pré-temporada, uma lesão na coxa esquerda a tirou por quase 15 dias do treinamento em campo. Foram até quatro sessões diárias de fisioterapia e um esforço enorme para manter o astral da equipe – que vinha de nove derrotas antes do Mundial e temia perder sua maior estrela.
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Na estreia contra a Jamaica, Marta ficou no banco de reservas — Foto: Reuters
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O processo demorou mais do que Marta queria. Ficou inquieta no banco de reservas na estreia diante da Jamaica e jogou apenas 45 minutos diante da Austrália. Contra a Itália, saiu pouco mais de 10 minutos antes do fim. Mas foi nas oitavas, contra a França, que surpreendeu. Jogou os mais de 120 minutos de prorrogação.
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Bem marcada pela defesa anfitriã, não conseguiu usar de toda sua genialidade e brilhantismo na partida. Mas ajudou o time com uma vontade incansável e superou dores e desconfianças.
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O recorde: dividido com todas as mulheres
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Marta desembarcou na França com a expectativa de quebrar mais recordes. E o fez em dois pênaltis cobrados na primeira fase da Copa – diante de Austrália e Itália. Chegou ao seu 17º gol na história dos Mundiais, o que a fez superar o recorde do alemão Klose. No discurso, dividiu os méritos:
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– Esse recorde representa bastante, porque não é só a jogadora Marta, mas as mulheres, num esporte que ainda é masculino para muitos, temos uma mulher como a maior artilheira das Copas. É para todas elas – disse a camisa 10 na ocasião.
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Marta celebra o gol que lhe rendeu o recorde — Foto: AFP
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A chuteira
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Marta jogou o Mundial com uma chuteira sem patrocínio de marca esportiva. No lugar, colocou o símbolo da campanha que pede igualdade de gênero. E essa foi uma bandeira levantada pela brasileira ao longo das últimas semanas.
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Ela está sem contrato com qualquer empresa de material esportivo desde julho de 2018. Nos gols marcados, apontava para o símbolo em seus pés.
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– O que foi proposto foi bem abaixo do que eu recebia, bem menos, menos da metade. A gente achou por bem não renovar. Muito abaixo do que a gente vê no futebol masculino. Resolvemos fazer isso então. Mais uma oportunidade de lutar pelos nossos direitos. Há uma diferença muito grande em relação a salários, e a gente tem que estar sempre lutando para provar que é capaz – disse a única atleta eleita seis vezes a melhor do mundo ao explicar seu gesto.
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Marta mostra o símbolo da igualdade de gênero na chuteira durante a comemoração do gol do Brasil contra a Austrália na Copa do Mundo Feminina — Foto: REUTERS/Jean-Paul Pelissier
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Além disso, chamou atenção vê-la jogando os dois últimos confrontos usando batom. Contra a França, num tom vermelho. A atleta tem contrato com uma marca de cosméticos.
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O apelo por seu legado
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Marta não era a mesma de anos atrás. Havia subido o tom no discurso por igualdade e exposto o incômodo. Na saideira, usou de sua voz para fazer outro apelo. Logo após a eliminação, direcionou as palavras para a nova geração de atletas que, em pouco tempo, terá de substituir a sua.
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Ela, Cristiane e Formiga eram as únicas remanescentes do grupo que conquistou medalhas na década passada. Emocionada, ela mostrou preocupação com a continuidade de seu legado.
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– A gente pede tanto, pede apoio, mas a gente também precisa valorizar. A gente está sorrindo aqui e acho que é esse o primordial, ter que chorar no começo para sorrir no fim. Quando digo isso é querer mais, treinar mais, estar pronta para jogar 90 e mais 30 minutos e mais quantos minutos forem necessários. É isso que peço para as meninas. Não vai ter uma Formiga para sempre, uma Marta, uma Cristiane. O futebol feminino depende de vocês para sobreviver. Pensem nisso, valorizem mais. Chorem no começo para sorrir no fim – afirmou Marta, olhando para câmera, e com lágrimas nos olhos.
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Mas nem só de lágrimas e apelos foram feitas as aparições da Rainha. A Copa de 2019 nos mostrou uma Marta irreverente. Fez piada e caras e bocas na entrevista coletiva que concedeu antes do jogo da Itália. Com a companhia inseparável de seu cavaquinho, fez esforço para manter o astral do time.
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Foram dois gols. Um recorde. E uma eliminação cedo demais. Marta ainda não decidiu seus planos para o novo ciclo, mas sonha com uma nova Copa. Isso é para daqui a quatro anos. Mas mesmo passando pela França mais rápido do que se queria, ela deixou a sua marca.
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