Saiu no site RFI
Veja publicação original: Festival de Cannes ainda está longe da paridade entre homens e mulheres no cinema
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O Festival de Cinema de Cannes começa nessa terça-feira (14) com a ambição de tentar equilibrar a desigualdade de gênero na 7ª arte. O número de filmes dirigidos por mulheres aumenta aos poucos e os organizadores chegaram a celebrar um “recorde”. Mas quando os cálculos são feitos, as diretoras ainda são, de longe, minoria na corrida pela Palma de Ouro.
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Enviado especial a Cannes
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Dos 21 filmes neste ano na corrida pela Palma de Ouro, o principal prêmio de Cannes, quatro são dirigidos por mulheres (as francesas Céline Sciamma e Justine Triet, a austríaca Jessica Hauner, e a franco-senegalesa Mati Diop). Já na seleção Un certain regard (Um certo olhar), dos 18 filmes apresentados, sete são de diretoras (a argelina Mounia Meddour, a canadense Monia Chokri, a marroquina Maryam Touzani, as americanas Pippa Bianco e Danielle Lessovitz e as francesas Zabou Breitman e Éléa Gobbé-Mévellec).
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Para os otimistas – entre eles os organizadores –, a seleção deste ano já é um bom primeiro passo. Mas na edição passada três mulheres já concorriam à Palma, o que representa uma progressão mínima. Por enquanto, o único lugar onde a paridade é respeitada é no júri da competição principal, com quatro homens e quatro mulheres. Mesmo se presidência ficou nas mãos do mexicano Alejandro Gonzalez Iñárritu.
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Fotomontagem com as quatro diretoras que estão na corrida pela Palma de Ouro: Céline Sciamma, Mati Diop, Jessica Hausner e Justine Triet.Fotomontagem RFI
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Protestos e pressão de associações
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Há quem diga que o protesto realizado em 2018, quando 82 mulheres, diretoras, produtoras e atrizes subiram a escadaria do Palácio dos Festivais para chamar a atenção para a desigualdade entre homens e mulheres na 7ª arte, tenha sido o estopim da transformação, na esteira da mobilização pós #metoo. Elas eram 82 para lembrar o número de diretoras que tiveram seus filmes selecionados na Croisette, contra 1645 homens.
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Mas as mudanças são também fruto de ações da sociedades civil, com projetos como Time’s Up, nos Estados Unidos, e Collectif 50/50, na França, entidades que pressionam produtores e grandes estúdios a reverem seus cálculos, aumentando o número de mulheres, diante e atrás das câmeras. O ministério da Cultura francês chegou a se comprometer com um bônus para os filmes que levem em conta a paridade entre homens e mulheres.
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O mundo do luxo tenta se engajar
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Além disso, antes mesmo de se falar em #metoo, o grupo de luxo Kering – proprietário de marcas como Saint Laurent e Balenciaga – já vinha se mobilizando pela causa com o projeto Women In Motion. Parceira oficial do Festival de Cannes desde 2015, a empresa renovou neste ano a colaboração e vai continuar organizando conferências com mulheres de peso na indústria de cinema.
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Já passaram pelos “talks” nomes como Agnès Varda, Jodie Foster, Isabelle Huppert ou ainda Juliette Binoche. “Apesar do longo caminho percorrido, e mesmo que as línguas estejam começando a se soltar, a igualdade entre homens e mulheres ainda deve ser conquistada”, defende François-Henri Pinault, CEO do grupo Kering. A declaração do marido da atriz e produtora Salma Hayek faz referência ao projeto de seu grupo, mas também às diversas denúncias de sexismo que impedem muitas diretoras de ultrapassar o teto de vidro da 7ª arte.
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Por essa razão, Kering organiza um prêmio para jovens diretoras, que recebem € 50 mil para investir em projetos. Esse ano a escolhida foi a alemã Eva Trobisch, que receberá a homenagem no domingo (19), em um dos jantares mais concorridos do festival de Cannes.
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Quanto à corrida pela Palma de Ouro, todos apostam nos novos nomes que surgem entre as diretoras na competição principal. A expectativa é que, talvez neste ano, a neozelandesa Jane Campion deixe de ser a única mulher a ter conquistado a Palma de Ouro de Cannes, em 1993, com o filme “O Piano.
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