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Os relatos ouvidos pela reportagem apontam que o uso de chás e ervas abortivas ainda são utilizados pelas indígenas. Mas não só. Em aldeias e comunidades localizadas mais perto das cidades, há acesso fácil a medicamentos como o misoprostol.
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“Somos de um município fronteiriço com a Bolívia e lá medicamentos abortivos são vendidos em farmácia. Então, o aborto acontece ou com remédios da floresta ou com os da cidade”, afirma Clarice.
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A educadora Claudia Baré, moradora do Parque das Tribos, em Manaus (AM), conta que os casos de aborto na comunidade não são muitos, mas eles existem, e que o uso de ervas tradicionais para a prática é o método mais comum. Mesmo vivendo em uma capital, não é fácil falar sobre o assunto com as mulheres – ela credita à religião uma parte dessa dificuldade.
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“Apesar de estar nesse contexto urbano, as mulheres ainda são bem fechadas quando o assunto é aborto. Mas a gente entende e não julga. Porque elas têm medo das pessoas ficarem comentando”, afirma.
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Para Raial Puri, antropóloga do DSEI-ARJ (Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Rio Juruá), alguns povos conseguem se blindar do que ela chama de “mundo cristianizado”, o que é a realidade em muitas aldeias, mas para muitos o aborto é considerado um pecado, o que torna a questão mais complexa. “Isso causa problemas maiores que antes não existiam, além da questão social ainda vai entrar uma culpa cristã. Espero que vocês, mulheres brancas, tenham algum dia o nível de controle de liberdade que a mulher indígena teve em algum momento, mas que em muitos casos não é mais possível”, afirma.
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Do encontro da Agir, um documento foi elaborado para que o assunto possa ser discutido nas próximas conferências de saúde. Entre as reivindicações, a realização nas aldeias de palestras e trabalhos com foco na violência contra a mulher, o uso de drogas e álcool e o aborto. “Visto que os temas estão sendo debatidos de maneira ampla em toda a sociedade, nós queremos discuti-los também”, afirma Puri.
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