Saiu no site UNIVERSA
Veja publicação original: “Assédio destruiu meu 1º dia de bloquinho”: publicitária relata agressão
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Terminado o Carnaval, não são poucos os relatos de agressões e episódios de assédio nos blocos e demais festas da folia. No primeiro ano em que importunação sexual é crime, no entanto, mais e mais mulheres estão com coragem para denunciar.
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Este é o caso de Cristiane Rubim, publicitária de 26 anos que vive em Vitória (ES). Nesta segunda (4), a jovem foi ao Instagram contar um caso de assédio que quase terminou em agressão física grave.
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Ao final, a capixaba conta o sentimento comum de muitas das vítimas desse tipo de violência: impotência.
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Leia o relato na íntegra:
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“Morei 25 anos no Centro e sempre fugi quando chegava o carnaval. Deus me livre todo aquele barulho, sujeira, bagunça… pela primeira vez, este ano, aceitei o convite dos meus amigos e fui. A companhia era tão boa que eu quis experimentar, mesmo não sendo minha vibe.
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Fomos no Antimofolia e foi maravilhoso! Pensei que seria assim novamente, fui animada…vestia a fantasia de “natureza” que fiz e tava me sentindo linda. Dá pra ver pelas fotos no início, né?
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Lá pelas 19h, quase entrando no ônibus, um cara, de mãos dadas com a namorada, aperta e esfrega a mão na minha coxa. Gritei com ele, xinguei muito. Eles seguiram como se não fosse com ele. Ela nem viu. Ele seguiu de mãos dadas.
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Virando a esquina olhou pra mim e riu da minha cara. Nos primeiros segundos fiquei triste. Quando ele riu, subiu uma revolta/ódio e eu fui correndo atrás dele. Meus amigos já tavam com o pé dentro do ônibus e voltaram. Eu corri até achar ele.
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Cutuquei a menina e perguntei se eles namoravam. Ela disse que sim, desconfiada. Falei que ele passou a mão em mim no ponto de ônibus. Ela ficou surpresa e desconfiada. Ele disse que eu era louca. Na raiva, bati nele. 2 tapas e um soquinho no peito/ombro. Ele era bem grande e forte, bati fraco.
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Ele me deu um chute na perna (agressão física 1) e continuou gritando que eu era louca. Eu disse a eles que não iria correr tudo que corri do ponto até eles pra inventar uma história. Ele colocou sua bolsa no chão e veio pra cima de mim (tentativa de agressão 1).
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Ela perguntou “você vai bater em mulher?”. Ele hesitou. Dava pra ver que ficou confuso, queria me bater mas também não queria fazer algo que ela reprovou. Ela não fez nada além de falar isso, acho que ficou confusa se acreditava em mim ou não. Quando ele ameaçou vir pra cima, eu corri.
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Algumas pessoas perto gritaram pra ele não fazer nada, que não valia a pena porque eu era louca. Quando já estava mais afastada olhei e ele vinha atrás (tentativa 2). Eu tava com MUITA raiva, muita mesmo, tremendo. Continuei xingando ele, disse que queria ver ele vir atrás de mim agora que eu estava perto de muita gente (no ponto). Ele não veio.
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Peguei o ônibus… que sentimento de impotência, revolta, tristeza… eu ia direto pro Fluente, mas quis ir pra casa trocar de roupa.
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Meus amigos tentaram me convencer de que eu não era o problema e não deveria me trocar por isso.
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Mas eu me sentia suja… é bizarro como durante todo o dia as pessoas me olharam como se eu fosse um pedaço de bife… elogiaram meus peitos, falaram coisas sobre o meu corpo… eu estar com uma roupa curta, de alguma forma, fez as pessoas acharem que poderiam consumir meu corpo de alguma forma. Tocando ou encarando.
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Eu precisei tomar banho e me trocar porque um cara me APERTOU como se eu fosse algo público. Como se não tivesse problema algum ele fazer isso ao lado da própria namorada, sem ela ver. Claramente ele não esperava que eu já estivesse farta e me deixasse levar pela revolta.
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Eu poderia ter apanhado, poderia nem estar aqui contando isso… mas eu explodi. É assim que vai ser? Ou nos calamos pra preservamos nossa vida ou nos sentimos um lixo? Na verdade não existe “ou”, porque reagindo ou não, me sinto um lixo. Me sinto impotente. Me sinto mal. Me sinto com vergonha de usar roupas que “exponham meu corpo”, porque não quero passar por isso de novo. Joguei minha hot pants no lixo.
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Ser prisioneira no meu próprio corpo aos 26 anos… não estou pronta pra isso. Ninguém deveria estar. Eu não pensei quando reagi, eu apenas não aguentei mais e tive um momento de revolta que poderia ter me custado caro.
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Mas não é certo que a outra opção seja apenas me calar, me sentir mal quietinha no meu canto. Só deixar passar e esperar pra que ele faça com várias outras, sabe? Não devemos nos submeter a isso, não somos públicas, não estamos ali pra servir a falta de escrúpulos dos homens. Hoje me senti muito mal.
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Semanas atrás foi uma outra menina. Semana que vem será outra? Não!!!! A nossa voz importa. E não vai ser calada por esse (ou qualquer outro) tipo de lixo humano.”
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