Saiu no site O GLOBO
Veja publicação original: Nova série do GNT vai da Islândia ao Paquistão para discutir igualdade de gênero
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Por Luiza Barros
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A primeira mulher a virar presidente no mundo, Vigdís Finnbogadóttir, a documentarista paquistanesa duas vezes ganhadora do Oscar Sharmeen Obaid-Chinoy e a lendária ativista do feminismo negro Angela Davis. Essas são algumas das mulheres ouvidas pelas jovens jornalistas Claudia Alves, Fernanda Prestes e Bárbara Bárcia em “O futuro é feminino”, nova série documental do GNT que estreia dia 6 de março, às 23h30, às vésperas do dia internacional da mulher.
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— Esse não é um programa em que falamos que vamos dar voz para as mulheres, porque isso já está posto. A gente tem voz. O que temos é o privilégio de estender essas vozes para outros lugares — resume Claudia Alves.
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No projeto produzido pela BASE#1 (mesma produtora de “Que mundo é esse?”, da Globonews), Claudia, Fernanda e Bárbara, além da diretora Luiza de Moraes, viajaram para a Islândia e o Paquistão, além do Brasil, para entender melhor o estágio da luta das mulheres pelo mundo.
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Os dois países foram escolhidos a partir do último resultado do ranking de igualdade de gênero, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial anualmente— com pouco mais de 300 mil habitantes, a Islândia é o melhor país para se viver se você é uma mulher, enquanto o Paquistão ocupa o penúltimo lugar, na frente apenas do Iêmen, que desde 2015 enfrenta uma guerra civil. Já o Brasil caiu cinco posições em 2018, e ocupa no momento um decepcionante 95º lugar em uma lista de 149 países.
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— Queríamos mostrar os extremos e fazer uma comparação com o Brasil — conta Fernanda Prestes, ao revelar que a maior surpresa veio após a visita ao Paquistão.
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— Achávamos que iríamos encontrar uma realidade muito mais opressora para as mulheres do que no Brasil, mas quando a gente chegou lá vimos que a semelhança com o que acontece aqui era muito grande. A essência do machismo é a mesma em qualquer lugar do mundo: é a mentalidade de que a mulher é um ser inferior que pertence ao homem e que, por isso, ele pode fazer o que quiser com ela — defende a jornalista, ao ressaltar que a visita ao Paquistão também derrubou o preconceito de que o islamismo necessariamente estivesse por trás dos casos de violência contra a mulher no país, como os casos de ataques com ácido denunciados pela diretora Sharmeen Obaid-Chinoy no filme “Saving face” (2012).
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—Não é o Islã que permite que homens sejam violentos, e sim o patriarcado. Enquanto isso, no Brasil, que é um estado laico, a religião é quem decide quais pautas serão postas à frente, como no caso do aborto. Não usamos véu, mas muitas vezes somos controladas pela religião de forma velada — considera.
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No entanto, segundo o trio, o encontro mais emocionante das gravações não aconteceu no exterior, e sim no Brasil. Foi quando as jornalistas se encontraram com a promotora de justiça Gabriela Manssur, durante o período em que ela trabalhava no caso do médium João de Deus, que, conforme O GLOBO revelou em dezembro, é acusado por diversas mulheres de abuso sexual.
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— Foi um momento muito forte. Tivemos uma conversa não como uma promotora dando uma entrevista formal, mas como uma mulher em uma luta — lembra Bárbara Bárcia.
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Feminismo na prática
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Para Claudia, “O futuro é feminino” mostra que, mesmo em pequena escala, é possível contribuir para o fim das injustiças.
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— Tem a coragem da Malala e tem a coragem da mulher da favela que já tem sete filhos e ajuda a cuidar da criança de outra mãe para que esta consiga um emprego — diz ela, para quem a série consegue se aproximar do público ao explicar ao explicar a pauta feminista com atitudes.
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— Conversamos com uma indígena que não sabia o que era feminismo. Quando explicamos, ela disse que isso para ela se chamava respeito. Às vezes, você não sabe o que é feminismo, mas sabe o que é respeito. Quando uma mulher defende outra que está apanhando do marido, isso é uma desconstrução do machismo — defende.
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Já Fernanda espera que o programa possa ajudar a derrubar a noção de que “feminismo é mimimi”, que costuma ser roboticamente repetida nas redes sociais.
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— Algo que a primeira-ministra da Islândia (Katrín Jakobsdóttir) diz no primeiro episódio da série para a gente é que a igualdade de gênero não tem que ser uma pauta só da esquerda, mas da direita também. Existem dados que comprovam como melhoraríamos economicamente se houvesse mais equidade entre homens e mulheres.
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Embora “O futuro é feminino” ainda não tenha tido uma segunda temporada confirmada, as criadoras dizem que já tem ideias de como dariam continuidade ao projeto. Dois países na mira são Ruanda e Japão, justamente por suas contradições — devastado por um genocídio na década de 1990, o empobrecido país africano ocupa a sexta posição no ranking do Fórum Econômico Mundial, a mais alta de seu continente. Já no país asiático, a força econômica e o desenvolvimento tecnológico não impedem que mulheres continuem a sofrer fortes resistências quando tentam ascender na carreira, entre outros desafios — ainda de acordo com dados de 2018, o Japão está em 110º lugar na lista, atrás do Brasil.
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— Em Ruanda, o genocídio fez com que as mulheres precisassem assumir cargos importantes, e desde então entraram a fundo na politica. Já o Japão, que costumamos ver como uma sociedade tão avançada, em questões de gênero está bem atrás de outros países — aponta Bárbara.
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