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Em São Paulo, ônibus lilás vira ‘QG’ antiassédio em blocos de carnaval

Saiu no site REVISTA MARIE CLAIRE

 

Veja publicação original:    Em São Paulo, ônibus lilás vira ‘QG’ antiassédio em blocos de carnaval

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Unidade móvel para acolhimento à vítimas se transformou em pit stop para as foliãs em busca de informações e da tatuagem ‘não é não’

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Por Kellen Rodrigues

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A nutricionista Raquel Ramada, de 24 anos, curtia um bloco de carnaval com a então namorada quando foi assediada insistentemente por um homem que não aceitou sua negativa. “Eu estava de mãos dadas com ela, uma mulher. Para mim estava explícito que era ‘não’ e mesmo assim o cara ficou me puxando”, contou, enquanto colava uma tatuagem provisória com a frase “não é não” no braço, próximo a um bloco na Praça da República, em São Paulo. Ela espera que a frase colada em seu corpo possa ajudar a não repetir a experiência ruim do carnaval passado. “Quem sabe assim as pessoas entendam”.

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Raquel foi uma das milhares de mulheres que pararam no Ônibus Lilás estacionado no centro da capital paulista em busca de informações e adereços da campanha Carnaval Sem Assédio. A unidade móvel da Coordenação de Políticas para as Mulheres se transformou em um verdadeiro QG de apoio às mulheres. No sábado, segundo dia de participação no carnaval de rua da cidade, não houve registro de atendimento a vítimas de abuso ou assédio. As foliãs foram mesmo em busca de prevenção. Segundo dados da Secretaria, foram distribuídos cerca de 5 mil adesivos com frases como “Sambando na cara do machismo” e “Carnaval Sem Assédio” e aplicadas mais de 10 mil tatuagens temporárias com a inscrição Não É Não.

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A reportagem de Marie Claire acompanhou quatro das sete horas de atendimento ao público para ouvir as foliãs. E o que não faltou nelas foi empoderamento e disposição para enfrentar o machismo. “Vim aqui para lutar contra a sociedade patriarcal. São tempos difíceis”, disse a advogada Renata Ribeiro, de 39 anos. “É importante quebrar o tabu do feminismo extremo, conseguir se posicionar e ter respeito dentro do carnaval sem ser julgada pela roupa ou por ser mulher”, defendeu a publicitária Giulia Gonzales, de 25 anos. “Tem que respeitar o corpo da mulher independente da roupa que ela está usando”, ressaltou a estilista Sofia Ribeiro, de 26.

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Ana Luiza Marinelli, Renata Ribeiro e Raquel Ramada (Foto: Marie Claire)

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Apesar de mais confiantes do que em outros carnavais, elas sabem que há um longo caminho a seguir até conquistar uma verdadeira sensação de segurança na folia. Para a publicitária Marcele Farran, de 29 anos, com as mulheres se sentindo mais empoderadas, as pessoas que estão à volta também se mobilizam mais. “Existe uma consciência maior. O futuro é promissor. Ainda não está no ideal, o Brasil é machista, mas estamos mudando aos poucos”, acredita. “Não sei se é por causa de medo ou de mudança de mentalidade, mas acho que as coisas estão melhorando”, avalia a estudante de medicina Júlia Rosa, de 22 anos. “Hoje as pessoas estão perdendo o medo de denunciar, mesmo que ainda seja bem desconfortável”, completa a amiga, Mariana Ferraz, 20, também estudante de medicina.

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Incentivar que as mulheres percam o medo de botar a boca no trombone é um dos objetivos do Ônibus Lilás. A primeira missão é informar e sensibilizar – o que ocorreu no pré-carnaval quando o ônibus fez sua estreia em projeto piloto em blocos na região da Avenida Faria Lima, em São Paulo. “Nosso desejo é que a gente não faça nenhum atendimento, que os direitos sejam respeitados e que o pessoal curta o carnaval numa boa. Mas se acontecer, estamos aqui para fazer a acolhida com o pessoal da Guardiã Maria da Penha e a Guarda Civil Metropolitana”, conta a Ana Claudia Carletto, secretária-executiva adjunta da Coordenação de Políticas para Mulheres da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania. “A maioria das mulheres não sabe o que caracteriza um abuso. Quando alguém passar a mão nela, dar um beijo, ou fazer qualquer coisa que ela não permita, já é um abuso”, salienta Mônica Piovezan, inspetora da Guarda Civil Metropolitana.

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Foi exatamente no pré-carnaval que algumas mulheres, até então foliãs, sentiram que precisavam fazer algo. Foi o caso da voluntária Mirian Regina de Souza Ribeiro, que trabalha como recepcionista na Secretaria de Direitos Humanos. “Vi muitas coisas, rapazes assediando, meninas que mesmo acompanhadas não pareciam seguras. Vi que precisava ajudar”, conta. Ao lado das amigas e colegas de trabalho, ela se candidatou para ser voluntária e ajudar a distribuir os adesivos no carnaval de rua. A psicóloga Ana Lídia da Cruz Cerqueira, também voluntária, quer que outras mulheres entendam o que para ela já está claro: a culpa nunca é da vítima. “Nós mulheres, de alguma maneira, já passamos por isso, já fomos assediadas e ao mesmo tempo nos sentimos culpadas. Depois que eu trabalhei essas questões eu resolvi ajudar outras mulheres. Estar aqui é tão bom quanto estar lá no bloco”.

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As voluntárias Mirian Ribeiro, Mayara Teixeira e Gabrielly Pastorelli (Foto: Marie Claire)

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O que fazer se for assediada?

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Duas viaturas da Guardiã Maria da Penha, um projeto que atende às mulheres vítimas de violência que já têm medida protetiva, acompanham o Ônibus Lilás. Voluntários também se espalharam em meio à multidão para serem “anjos da guarda” neste carnaval. “Se acontecer algum abuso, alguma coisa, eles explicam para a mulher e trazem para a gente aqui. Se houver necessidade, o pessoal da Guardiã vai lá também”, explica Ana Cristina de Souza, Coordenadora Municipal de Políticas para Mulheres. Ao chegar no ônibus, a mulher é recebida por uma equipe multidisciplinar que conta com psicólogas, assistentes sociais e advogadas. “O primeiro passo é acolhê-la, entender a dinâmica da denúncia. O próximo passo é responsabilizar agressores buscando os meios de segurança pública, abrir um processo criminal, e caracterizar a violência, fazer dela um número. Essa é a grande importância de fazer o boletim de ocorrência: quando formaliza ela vira um dado estatístico”, explica. “A importância desse trabalho é conseguir implementar uma cultura não-sexista. Muito além das políticas públicas, nós buscamos mudar a consciência das pessoas e mostrar que carnaval é tranquilidade”.

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Nos dias 4 e 5 de março, o Ônibus Lilás ficará na Avenida Tiradentes com a Rua Ribeiro de Lima.

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Veja mais fotos!

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Sofia Ribeiro: Não é Não (Foto: Marie Claire)
Sofia Ribeiro: Não é Não (Foto: Marie Claire)

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Julie Anne da Silva (Foto: Marie Claire)
Julie Anne da Silva (Foto: Marie Claire)

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Foliãs exibem tatuagem com a frase Não é Não (Foto: Marie Claire)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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