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Veja publicação original: Como a amizade de duas mulheres deu origem à pílula anticoncepcional
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Margaret Sanger e Katharine McCormick se uniram na luta pelo controle de natalidade e planejamento familiar.
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No início do século 20, enquanto a Europa se preparava para embarcar em duas grandes guerras, nos Estados Unidos, as mulheres lutavam uma batalha bem diferente.
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Elas conquistaram o direito de votar em 1920, mas havia chegado a hora de uma nova forma de política: a sexual.
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Uma das principais figuras dessa luta é Margaret Sanger, mulher ruiva e radical que trabalhava em bairros humildes de Nova York.
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O centro de Manhattan era um lugar tradicionalmente pobre, com edifícios abarrotados de novos imigrantes.
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Nessa região, algumas mulheres estavam desesperadas para evitar gestações não desejadas e só contavam com duas opções: um perigoso aborto autoinduzido ou um aborto realizado em locais clandestinos, tão perigoso quanto.
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Vício, pecado e literatura obscena
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Enfermeira, Sanger testemunhou as piores situações ligadas à saúde pública e concluiu que todas as mulheres deveriam ter direito à contracepção segura.
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“Decidi fazer algo para mudar o destino dessas mães, cujas misérias eram tão vastas quanto o céu”, disse.
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Por meio de publicações, Sanger foi a primeira a popularizar o termo “controle de natalidade”. Seus escritos foram a semente do movimento em favor do planejamento familiar e conectaram seu trabalho com os de outros ativistas.
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Naquela época, os contraceptivos eram um tabu. Aqueles que os vendiam foram classificados de fornecedores de vício e pecado.
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Apesar disso, Sanger abriu em 1916 a primeira clínica de controle de natalidade nos Estados Unidos em um bairro pobre do Brooklyn.
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No dia da inauguração, mais de 100 mulheres fizeram fila para pedir ajuda e conselhos.
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Mas os panfletos que Sanger distribuiu foram taxados de literatura obscena e, nove dias depois, ela foi presa sob as leis rígidas contra a obscenidade dos EUA.
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Depois de pagar fiança, retornou à clínica e continuou cuidando das mulheres até que a polícia a impediu novamente.
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Sanger foi considerada culpada por um juiz que afirmou que as mulheres “não tinham o direito de copular com uma sensação de segurança que não haveria nenhuma concepção resultante”.
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Ele então ofereceu à mulher condenada uma sentença mais branda se ela prometesse não violar a lei novamente, mas ela respondeu: “Não posso respeitar a lei como existe hoje”.
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“Satânico”
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A clínica foi fechada pelas autoridades, mas, apesar de sua curta existência, permitiu que o movimento ganhasse apoio e atenção nacional, dando a Sanger uma plataforma para organizar a primeira conferência de controle de natalidade dos EUA.
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Ele ocorreu em novembro de 1921, e incluiu discussões e discursos sobre a moralidade do controle de natalidade, a probabilidade de contraceptivos de confiança, e os movimentos de controle de natalidade fora dos EUA.
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Infelizmente, o último dia de conferência foi suspenso pela polícia, e Sanger foi presa a pedido do líder proeminente da arquidiocese católica de Nova York, o arcebispo Hayes.
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Embora Sanger muitas vezes convencesse aqueles que se opunham aos anticoncepcionais de sua conveniência, ela não conseguiu ter sucesso com a Igreja Católica.
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O arcebispo Hayes argumentou:
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“Tirar a vida depois de seu início é um crime horrível, mas impedir a vida humana que o Criador está prestes a realizar é satânico.”
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“No primeiro caso, o corpo é morto, enquanto a alma vive; no último, não apenas a um corpo, mas a uma alma imortal é negada a existência no tempo e na eternidade.”
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A oposição da Igreja Católica levou muitos a acreditarem que o controle da natalidade era imoral, o que dificultou ainda mais a aprovação de leis que favorecessem a disseminação de informações e contraceptivos.
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Nem tudo estava perdido
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Com a ajuda de pessoas com fortunas privadas que tinham coragem suficiente e estavam dispostas a investir seu dinheiro, os ativistas pró-controle de natalidade poderiam contra-atacar.
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E Sanger tinha uma amiga que atendia a esses requisitos: uma rica herdeira americana chamada Katharine McCormick.
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Ela era uma glamourosa da alta sociedade que, ao contrário de muitas mulheres de sua classe, foi encorajada pelo pai a estudar.
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Em 1904, ele obteve um diploma de bacharel em biologia pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Além disso, fez campanha para obter o direito das mulheres de votar.
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Uma vez que as americanas ganharam o direito de votar, como os escandinavos e os britânicos, elas procuraram uma nova causa pela qual lutar.
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McCormick optou pelo controle de natalidade, acreditando fortemente que o direito de uma mulher de controlar seu corpo era tão importante quanto participar de eleições.
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É por isso que essa improvável amizade foi formada entre a rica herdeira e a ativista.
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Contrabando de contraceptivos
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Os contraceptivos não podiam ser importados para os Estados Unidos, mas na Europa eram fáceis de serem obtidos.
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Em suas viagens à Europa, McCormick comprou vestidos elegantes e pediu que centenas de diafragmas fossem costurados nas bainhas.
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Os produtos eram contrabandeados e entregues em Nova York a Sanger, que abrira uma nova clínica.
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Foi uma grande vitória. Anos depois, McCormick teve possibilidade de fazer muito mais do que contrabando.
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Uma grande fortuna
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Quando o marido de McCormick morreu em 1947, ela herdou sua fortuna: cerca de US$ 15 milhões (o equivalente a US$ 169 milhões em valores atuais).
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Tinha 75 anos e bastante desejo acumulado de contribuir para a realização do sonho do controle de natalidade.
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Sanger lhe contara sobre seu desejo de encontrar um contraceptivo seguro e fácil de usar. Depois de décadas, chegou a hora em que os cientistas acreditavam que isso seria possível.
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Mas na década de 1950, o governo dos EUA, as instituições médicas e a indústria farmacêutica não queriam ter nada a ver com pesquisa contraceptiva.
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Foi assim que o financiamento para o desenvolvimento da pílula anticoncepcional veio de uma única benfeitora: Katharine McCormick.
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Quase todo dólar necessário para desenvolver o contraceptivo oral foi doado por ela.
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O direito de decidir
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A estrada tinha sido longa, mas em 1960 a pílula contraceptiva chegou ao mercado e revolucionou o controle da natalidade.
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Meio século depois, a pílula tornou-se o anticoncepcional de escolha para mais de 100 milhões de mulheres em todo o mundo.
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O impacto social foi enorme. A Clínica Sanger em Nova York acabaria se tornando a sede da American Birth Control League, que Sanger fundou e se converteu na Federação de Planejamento Familiar dos Estados UnidosImagem: Getty Images”> pílula e outros métodos de controle de natalidade ajudaram a reduzir a mortalidade infantil e permitiram planejar o tamanho das famílias para garantir a provisão de sustento.
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Os casais passaram a ter a possibilidade de adiar o momento em que teriam filhos ou de decidir não tê-los. As mulheres conseguiriam decisões sobre suas formações, suas carreiras, suas vidas.
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Juntamente com o direito de voto, foi uma das maiores mudanças sociais do século 20.
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De fato, há quem diga que foi a maior mudança de todas.
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