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Veja publicação original: O caso Elaine Caparroz e a violência que coloca a vítima no banco dos réus
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“A ideia de que a mulher é sempre a culpada pela violência mostra uma sociedade doente”, afirma Silvia Chakian, promotora do MP-SP.
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Por Andréa Martinelli
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O caso da empresária Elaine Caparroz, de 55 anos, que sobreviveu a uma tentativa de feminicídio na última semana, no Rio de Janeiro, chocou o Brasil. Ela foi brutalmente agredida por Vinicius Batista Serra, de 27 anos, em sua própria casa, durante 4 horas. Há 8 meses, eles mantinham contato por uma rede social.
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De acordo com especialistas ouvidos pelo HuffPost Brasil, a brutal violência a que foi submetida e, posteriormente, o julgamento moral por ter marcado um encontro com um homem que conheceu pela internet revelam o quanto ainda é preciso avançar na conscientização sobre violência contra a mulher no País.
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″Nós evoluímos, temos a Lei Maria da Penha, a Lei do Feminicídio, mas a primeira coisa que chama atenção é como ainda existe uma noção equivocada do quão grave é a violência contra a mulher”, avalia a promotora do MP-SP Silvia Chakian, que coordena do Grupo Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (GEVID). ”Vemos novamente que a vítima é colocada como o algoz. E isso é uma segunda violência.”
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A violência brutal contra Elaine Caparroz
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Elaine Caparroz foi encontrada desacordada sobre uma poça de sangue em seu apartamento no Rio de Janeiro. De acordo com Rogério Caparroz, irmão da vítima, o agressor deu um nome errado na portaria ― o que pode indicar alguma premeditação no crime.
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Ele também relata que, assim que os gritos de socorro da irmã começaram, vizinhos acharam que se tratava de uma briga de casal. A polícia foi chamada após um funcionário do condomínio, alertado sobre os gritos, passar em frente ao apartamento e ver a porta entreaberta.
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Só aí, então, o socorro foi prestado. Vinícius Batistas Serra, 27 anos, foi preso em flagrante por tentativa de feminicídio. O agressor afirmou aos policiais que dormia com a vítima, acordou e teve um surto. A polícia entendeu que a vítima foi espancada por ser mulher e levou o agressor para uma avaliação psiquiátrica.
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Internada, Elaine precisou de quase 80 pontos na boca, fraturou o nariz, os ossos que cercam os olhos, perdeu um dente e precisará por cirurgia plástica. Na manhã de quinta-feira (22), ela teve alta hospitalar, mas ainda precisa de cuidados.
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“Ele falou: deita no meu ombro para a gente dormir abraçadinho, para dormir juntinho. Aí eu falei: tá bom. Eu acordei com ele me esmurrando a cara. Ele foi tentar me dar um mata leão, coloquei as mãos para não deixar ele concluir e ele me mordeu”, relata a empresária em vídeo que circula nas redes sociais.
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Serra já havia sido denunciado pelo próprio pai, em fevereiro de 2016. Ele relatou à polícia que foi acordado por gritos de madrugada e, quando chegou no quarto, Serra estava aplicando golpes de jiu-jítsu no irmão com deficiência. A polícia quer ouvir os pais para dar continuidade à investigação.
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A culpabilização da vítima x redes sociais
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Após o caso ser divulgado e imagens do rosto desfigurado da vítima circularem nas redes sociais, manifestações de solidariedade e indignação foram publicadas.
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No Instagram, o lutador Rayron Gracie, filho de Elaine, fez uma homenagem à mãe. A lutadora Kyra Gracie pediu justiça e lamentou que ainda há pessoas que ainda culpabilizam a mulher.
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“A sociedade e a Justiça não podem mais permitir que psicopatas como esse permaneçam impunes e em convívio com a sociedade”, escreveu.
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Mas, ao mesmo tempo, “o que ela deve ter feito para fazer isso” também começou a ser questionado nas redes sociais.
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Debilitada, Elaine relata em um vídeo feito de dentro do quarto do hospital que “apanhei muito, lutei muito. Ele quase me matou. Mas sou muito forte”.
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Em depoimento para o UOL, ela pede para que todas as mulheres pensem um milhão de vezes antes de conhecer um homem pelas redes sociais. “Agora só sairei com quem conheço.”
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A promotora Silvia Chakian rechaça as críticas sofridas por Elaine e explica que ”basta um homem achar que tem poder sobre uma mulher para cometer esse tipo de violência”.
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“A violência que aconteceu com Elaine acontece com muitas outras mulheres que conhecem outros homens em outras circunstâncias. Novamente, é um caso em que temos imagens da violência, ela está comprovada, e a vítima mais uma vez é culpabilizada. É importante frisar que a culpa nunca é dela.”
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E dados mostram que casos como o de Elaine não são isolados. Só no ano passado foram registrados 288 casos de tentativa de feminicídio em todo o estado do Rio de Janeiro, segundo o Instituto de Segurança Pública. O número de tentativa de feminicídios é 16% mais alto do que o registrado em 2017, quando houve 248 ocorrências deste tipo no estado.
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Relatório mais recente da ONU detalha que os assassinatos de mulheres por parte dos seus companheiros fazem que o lar seja o “lugar mais perigoso” e que, sendo assim, ”é frequentemente a culminação de uma violência de longa duração que precisa ser combatida”. Assim, o relatório conclui que a cada 6 horas uma mulher é vítima de feminicídio no mundo.
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A psicóloga Juliana Cunha, da Safernet, ONG que trabalha para combater crimes online e presta serviços às vítimas, concorda com Chakian e descarta a ideia de que “conhecer pessoas pelas redes sociais seja uma ameaça”:
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“Essa ideia é completamente equivocada. É negar que as pessoas se conhecem, hoje, por esses meios. Muitos relacionamentos acontecem dentro das redes sociais. Ela não poderia esperar que isso ia acontecer. Ninguém está livre da violência, estando ou não em aplicativos de relacionamento ou nas redes sociais.”
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A promotora adiciona que a dificuldade de entender que casos como o da empresária não são de ordem doméstica e, sim, coletiva e principalmente de Estado dificultam o socorro e empatia à vítima.
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“Ainda existe a noção equivocada de que em briga de marido e mulher não se mete a colher. Ela teve seu rosto completamente desfigurado, houve uma manifestação clara de ódio ao feminino, portanto, feminicídio. A ideia de que a mulher é sempre a culpada pela violência mostra uma sociedade doente.”
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