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Combate ao assédio sexual no Brasil exige debate sobre educação e masculinidade, dizem colunistas

Saiu no site FOLHA DE S.PAULO

 

Veja publicação original:   Combate ao assédio sexual no Brasil exige debate sobre educação e masculinidade, dizem colunistas 

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Segundo Ilona Szabó, sem dados confiáveis, não dá para desenhar políticas públicas

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Por Bianka Vieira

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Para combater assédio e violência sexual, é preciso abrir espaço para que as mulheres se sintam seguras para denunciar e para que os homens possam discutir seu papel na sociedade. As duas frentes passam pela educação, dentro e fora da escola.

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Essa foi uma das conclusões do debate “Ser mulher em tempos de #MeToo”, que reuniu as colunistas da Folha Ilona Szabó e Katia Rubio, nesta quinta-feira (21), no auditório do jornal em São Paulo.

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“É fundamental a criação de um ambiente onde a gente possa falar e compreender melhor o que está acontecendo. Sem dados confiáveis, não dá para desenhar políticas públicas”, disse Ilona, ao citar, para além do #MeToo, movimentos espontâneos de outros países, como Meu Primeiro Assédio (Brasil) e Ni Una Menos (Argentina).

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Katia Rubio, que há mais de 20 anos pesquisa histórias de vida dos atletas brasileiros, afirmou já ter tido contato com inúmeros relatos de assédios e abusos cometidos por técnicos. “As vítimas se calam por medo. No Brasil, a denúncia é associada a uma agressividade que, culturalmente, não pega bem. E o abuso não é só contra menina, é contra menino também”, disse.

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Ela contou que certa vez reagiu a uma investida na rua. De minissaia e salto alto, subia uma ladeira no bairro do Paraíso (SP), quando cruzou com um homem que vinha em sua direção. “Percebi que ia dar problema. Quando ele virou para me pegar, desferi um golpe que o levou ao chão. Eu fazia aikido na época. Quem gritou por socorro foi ele”, disse, arrancando risos da plateia.

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Com mais de 50% da população composta por mulheres, a representação é uma chave importante para políticas em prol dos direitos femininos, apontaram as colunistas. “Precisamos lutar para que a política, que é a única maneira de mudar o que a gente quer, seja um negócio limpo”, afirmou Ilona, que dirige o Instituto Igarapé, instituição sem fins lucrativos de pesquisas e soluções inovadoras para segurança, justiça e desenvolvimento.

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Em 2018, o percentual de mulheres eleitas para a Câmara dos Deputados cresceu de 10% para 15%. “Mulheres na política inspiram outras mulheres e inspiram homens, o que é fundamental”, complementou.

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Também deve ser pleiteada, pelas mulheres, representação no âmbito dos esportes, afirmou Katia, que é professora na Escola de Educação Física e Esporte na USP. “Há cada vez mais mulheres ocupando esses espaços, mas no campo de gestão e lideranças técnicas ainda é um tabu. Basta ver quantas mulheres brasileiras são técnicas das equipes de ponta ou quantas estão no conselho do COB [Comitê Olímpico do Brasil]. Nenhuma.”

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Rubio, que é autora do livro “Atletas Olímpicos Brasileiros”, lembrou que a modalidade de maratona feminina só passou a existir nos Jogos Olímpicos em 1984, enquanto salto com vara entrou apenas em 2000 e o boxe, em 2012.

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Em um país com tantos registros de crimes de estupro e feminicídio, é preciso mudar “modelos tóxicos de masculinidade”, afirmou Ilona Szabó. Nesse sentido, destacou que, ainda hoje, meninos são ensinados a não demonstrar sentimentos e a reagir com agressividade.

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“A gente tem que saber que homem também sofre e, muitas vezes, perpetua um comportamento que é esperado dele. Quando a gente pensa no assassinato de homens, que é brutal e gigantesco, também passa por esse modelo de masculinidade, de achar que tem que resolver com força bruta”, disse.

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Outra via para a redução da violência praticada por homens contra mulheres, lembrou Ilona, está na educação. “Nossos jovens não são preparados para lidar com situações de violência, de drogas ou de gênero. A gente prefere punir em vez de falar a verdade antes e ajudar as pessoas a fazerem melhores escolhas.”

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Katia concordou. “Educação sexual tem que estar na escola, sim. Todo ato de convivência é um ato político, e isso a gente aprende na escola.” Ainda sobre educação, Ilona destacou o alto índice de abusos sexuais contra crianças cometidos por familiares, daí a importância de a escola tratar esses temas.

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Na plateia lotada do evento, havia alunos da escola São Domingos, de São Paulo, e estudantes universitários da Uninove e da ECA-USP.

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O debate integrou a programação de eventos nesta semana em comemoração dos 98 anos do jornal. Na sexta-feira, às 11h30, acontece o último debate, “Dá para ter orgulho em ser brasileiro?”, com os colunistas Contardo Calligaris e Nizan Guanaes. A mediação será da repórter especial Patrícia Campos Mello.

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O evento acontecerá no auditório da Folha (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar – Campos Elíseos). As inscrições podem ser feitas no site Folha Eventos. ​

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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