Saiu no site MÁXIMA – PORTUGAL
Veja publicação original: Os documentários sobre assédio sexual para ver agora
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De hashtag a movimento, o #MeToo ressoou muito além das redes sociais e chegou à realização de vários documentários.
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Por Rita Silva Avelar
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Ninguém conhece R. Kelly por Robert Sylvester Kelly, mas é esse o verdadeiro nome do cantor de hip-hop e R&B de Chicago que tem sido alvo de acusações de assédio sexual ao longo de mais de duas décadas. Acabado de estrear em Londres, Surviving R Kelly(2019) divide-se em seis episódios que detalham as sérias e alegadas acusações de abuso sexual feitas ao cantor de 53 anos, negadas sempre pelo próprio. No documentário testemunham produtores, outros cantores (como John Legend), a ex-mulher de R. Kelly, ex-namoradas, membros da família, a fundadora do movimento #Metoo Tarana Burke – além de um sem número de alegadas vítimas de R. Kelly. Só pelo facto de ter feito vídeos pornográficos em 2002, tem pelo menos 21 acusações. Condenado? Nunca.
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Em 2017, o jornalista do site Buzzfeed Jim DeRogatis que investigou os crimes de R. Kelly por duas décadas, apontou para a bem possível existência de uma seita organizada nas várias casas do cantor em Atlanta, onde mantém adolescentes, menores, retidas contra a sua vontade. Depois de o documentário ter estreado, já várias vozes se levantaram contra R. Kelly, como Lady Gaga, que tem uma música em parceria com o cantor, e a própria produtora musical de R. Kelly parece ter removido todas as alusões ao próprio (embora ainda não tenha anunciado uma cessão de contrato).
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A par deste, a BBC Three lançou o documentário R Kelly: Sex, Girls and Videotapes (de Joyce Trozzo, 2018) em que Kitti Jones, que começou a namorar com R.Kelly em 2011, conta, entre outras atrocidades, como após dois anos o cantor lhe apresentou o seu “brinquedo”, uma mulher que alegadamente “treinou sexualmente” desde os 14 anos para o satisfazer.
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Felizmente, a indústria cinematográfica está cada vez mais alerta para expor estes casos, sendo que nenhum dos documentários estreia a categoria “assédio sexual”. Nos últimos meses têm estreado outros. É o caso de Untouchable (2019), sobre o caso que levou ao movimento #Me Too, onde a personagem principal é Harvey Weinstein, o ex-produtor acusado de assédio e abuso sexuais a dezenas de mulheres. Neste documentário é retratada a ascensão e a queda de um dos maiores produtores de Hollywood, com entrevistas a ex-colegas e a mulheres que o acusaram – Rosanna Arquette, Paz de la Huerta, Hope Exiner D’Amore ou Ronan Farrow estão entre os narradores. Realizado por Ursula Macfarlane, e estreado no Festival de Cinema de Sundance a 25 de Janeiro, Untouchable responde à pergunta que Harvey fazia às suas vítimas, sempre que renunciavam aos seus pedidos sexuais. “Sabe quem eu sou?”. Hoje o mundo sabe que Harvey Weinstein não é intocável.
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Apresentado no mesmo festival, o documentário Leaving Neverland (de Dan Reed, 2019) dá voz a dois rapazes que, aos 7 e 10 anos, alegadamente começaram a sofrer abusos sexuais por parte do sempre controverso Michael Jackson. Hoje na casa dos 30 anos, Wade Robson e Jimmy Safechuck contam como puseram termo a estes abusos ao fim de anos de sofrimento. Este documentário, não menos polémico do que os outros, foi considerado tão chocante que durante a sua exibição, também durante o Festival de Cinema de Sundance, havia apoio profissional para os membros da audiência, segundo o site da revista NME (New Musical Express).
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Apesar de o início do ano ficar marcado pela estreia de documentários como Surviving R Kelly, Untouchable ou Leaving Neverland, há espaço para testemunhos mais positivos. A Netflix acaba de revelar o documentário Seeing Allred, um retrato da vida pública e privada da advogada feminista Gloria Allred, que enfrentou algumas das principais figuras do mundo político e empresarial. Neste documentário são narrados os episódios em que a advogada levantou a voz acerca de temas como os direitos das mulheres ou a comunidade LGBT. Uma mulher à frente do seu próprio tempo, Allred defendeu dezenas de mulheres que a procuravam porque sofriam de discriminação no local de trabalho. Seeing Allred estreou a 8 de fevereiro.
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