Saiu no site FINANÇAS FEMININAS
Veja publicação original: A importância da presença de pessoas trans nas universidades
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Por Karoline Gomes
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Ano passado a transfeminista Maria Clara Araújo ficou conhecida pelo ainda inédito feito de conseguir uma vaga em uma Universidade Federal e ainda com o direito de usar seu nome social. Em 2016, o cenário é ainda mais positivo.
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Nas redes sociais, pessoas trans e travestis têm compartilhado suas histórias e alegrias de também terem conquistado a oportunidade de cursar o ensino superior. Uma dessas histórias é de Amanda Palha, que passou em 1° lugar no curso de Serviço Social na UFPE.
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Ana Flor, Amanda Palha e Maria Clara Araújo, estudantes da UFPE / Reprodução do Facebook.
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Depois que falamos sobre os custos da transição e a dificuldade de ingressar no mercado de trabalho que esta minoria enfrenta, o debate continua e chega ao meio acadêmico. Confira o depoimento de Ana Flor Fernandes Rodrigues para o Finanças Femininas, que fará companhia a Maria Clara no curso de pedagogia da UFPE:
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“Eu sempre gosto de começar falando de que nunca me vi numa universidade federal. Porém, logo em seguida, me questiono por qual motivo eu sempre falava isso. E mais à frente me vem a resposta: referência.
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Se eu não me vejo, ou não vejo pessoas iguais naquele espaço, como poderei adentra-lo?! Essa reflexão sempre esteve presente para lembrar o formato estrutural, excludente e universal das federais.
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Adentrar esse espaço é me colocar enquanto corpo e pessoa política. É saber que mesmo sempre existindo um boicote do Estado na vida de pessoas trans e travestis, eu pude criar mecanismos para dribla-lo e conseguir entrar no ambiente acadêmico.
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Sempre faço questão de falar que moro no mesmo bairro onde a UFPE se encontra. Fui aprovada no curso de Pedagogia, estudarei no Centro de Educação, prédio que fica mais ou menos 10 minutos da minha casa. Mas, sempre ressalto que: a UFPE está no bairro da várzea, mas as pessoas que moram no bairro da várzea não estão na UFPE.
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Acredito que eu deva ser a primeira pessoa da rua onde moro que consegue passar numa Federal. Logo, torna-se possível perceber o quão excludente é esse espaço. Além de travesti, preta, pobre e da periferia, moro no mesmo bairro onde está essa universidade e nunca a enxerguei como possibilidade. Como isso pode acontecer, sabe? Reflitamos.
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Ana Flor. Foto: Arquivo pessoal
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Mas agora eu entrei, estou na universidade com novas e variadas óticas. Quero pintar de povo, e quero que além de negro esse povo seja travesti. Quero que essas pessoas consigam me ver enquanto possibilidade de empoderamento e resistência dentro daquele espaço que sempre fez questão de nos mostrar um “não-lugar”.
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Eu quero ver senzala tocando fogo nos engenhos. Podendo ver, ouvir e ler travestis, negras, pobres e da periferia sendo donas das suas próprias narrativas. Contando suas próprias trajetórias. E para, além disso, deixar ciente: isso é só o começo. Sigamos!”
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*Ana Flor Fernandes Rodrigues, travesti aprovada no curso de Pedagogia da UFPE.
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Fotos: Arquivo Pessoal
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