Saiu no site FINANÇAS FEMININAS
Veja publicação original: Cotas para mulheres podem reduzir desigualdade de gênero no mercado de trabalho
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Por Ana Paula de Araujo
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“Ainda há dificuldade, enquanto sociedade, em discutir e combater a desigualdade de gênero de forma voluntária. Por isso, falar sobre cotas é um tema sempre delicado.” A frase é de Luana Marley, assessora de carreira da Catho, e Daniela Giugliano, gerente de Produtos da Catho – ambas membras do grupo de mulheres da empresa de recrutamento.
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Apesar da objeção de alguns segmentos da sociedade, as cotas são tidas como uma das saídas mais efetivas e rápidas para corrigir distorções sociais, e isso vale dentro do mercado de trabalho, vestibulares e outras situações.
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Por isso, tramitam dois Projetos de Lei: o PL 112/2010, aprovado no Senado, e o PL 7179/2017, agora para aprovação na Câmara dos Deputados. Em comum, eles definem um percentual mínimo de participação de mulheres nos conselhos de administração das empresas públicas e sociedades de economia mista.
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Maria Fernanda Teixeira vem trabalhado pessoalmente na aprovação destes projetos. Ela é líder do Comitê 80 em 8, do Grupo Mulheres do Brasil – que reúne mulheres em torno de questões de gênero, educação e afins. O comitê que Teixeira lidera discute, especificamente, a valorização da mulher executiva.
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“Sou a favor de cotas para cargos de liderança em geral, mas como isso é muito amplo, seria mais difícil e levaria mais tempo. Por isso, estamos focando em cargos de conselho”, diz.
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Teixeira defende que, com mais mulheres nos conselhos, elas mesmas provocariam uma mudança de cima para baixo. “Isso aceleraria, sim, o número de mulheres em cargos que chamamos de CXO, como CEO, CMO (Chief Marketing Officer, ou diretora de marketing), CFO (Chief Financial Officer, ou diretora financeira) etc.”
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De acordo com levantamento da consultoria SpencerStuart, as mulheres são apenas 10% entre titulares e suplentes de conselhos administrativos no Brasil – dado de agosto de 2018. Segundo Teixeira, o número cairia drasticamente ao excluir herdeiras. Um outro estudo, este do LinkedIn, apontou que ocupamos apenas 25% dos cargos mais altos.
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Por que precisamos das cotas para mulheres em cargo de liderança?
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“As mulheres têm uma contribuição para a atividade econômica extremamente relevante, mas ainda estão presas a transitar apenas em alguns setores e funções menos estratégicas”, pontuam Marley e Giugliano. É o chamado “teto de vidro” – uma espécie de limite velado para a ascensão de mulheres dentro das empresas.
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Este fenômeno é a expressão de diversas causas que, juntas, dificultam a chegada de mulheres ao topo das empresas. Um deles é a dupla jornada feminina, já que o cuidado com os filhos e a casa ainda recai sobre os nossos ombros.
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Há, ainda, fatores culturais, que impedem que mulheres levantem suas vozes dentro das empresas e reivindiquem melhores posições. “Aceitar o status quo desta forma, seja por timidez ou medo de perder o trabalho, faz com que muitas mulheres deixem de vocalizar e aceitem a posição que estão. Somos tão preparadas quanto os homens, ou até mais, como mostram alguns estudos”, afirma Teixeira.
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“Temos também uma representação coletiva das mulheres como pessoas mais frágeis, com dificuldades de tomar decisões e de lidar com pressão. Esses estereótipos não contribuem nos processos de seleção e promoção de mulheres a cargos de liderança”, completam Marley e Giugliano.
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Benefícios de ter mais mulheres nos conselhos administrativos
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Existem diversos estudos que mostram que ter mais mulheres em cargos de liderança traria mudanças extremamente positivas, tanto nas empresas quanto no cenário econômico mundial.
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Um deles, da consultoria McKinsey, aponta que Empresas com mulheres na liderança lucram 21% a mais. Outro, do Banco da Inglaterra, afirmou que bancos com mais mulheres na diretoria são mais rentáveis. A consultoria McKinsey também mostrou, por meio de pesquisa, que o fim da desigualdade de gêneros daria força à economia mundial – seriam injetados US$ 28 trilhões a mais no produto interno global em um cenário totalmente igualitário, em que mulheres teriam acesso às mesmas oportunidades e remunerações que os homens.
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“Aqui no Brasil, quase 80% das decisões de compra são feitas por mulheres. Então, por que não temos mais mulheres no topo? Com mulheres no topo, as empresas poderão entender melhor a cabeça dessa mulher que decide”, justifica Teixeira.
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Enquanto as cotas não entram em vigor, como levar mais mulheres à liderança?
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“É só querer”, resume Teixeira, que já ocupou até a presidência de empresas. “Quando eu chegava lá, uma das primeiras regras que implantava é de que, a partir daquele momento, metade dos candidatos para qualquer vaga de gerência ou acima teriam que ser mulheres. Isso valia tanto para novas contratações quanto promoções”, conta.
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Essa política já se mostrou muito efetiva em um levantamento realizado pela Escola de Graduação em Negócios da Stanford – veja aqui. “A partir daí, contratamos quem tiver mais competência. Mas, se houver um homem e uma mulher com competências parecidas, priorizamos a mulher”, diz Teixeira.
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Para acompanhar essas políticas, ela defende que sejam estabelecidos alguns indicadores, chamados de KPIs. “Isso deve ser incluído nas metas da empresa, junto ao lucro e afins. Para incentivar, bonifica-se os gestores que conseguirem cumprir essa meta de diversidade”, conclui.
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Fotos: AdobeStock
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