Saiu no site TORCEDORES
Veja publicação original: “Isso é jogo de homem”: Jogadoras denunciam machismo e assédio em jogos eletrônicos
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Os jogos eletrônicos tem se tornado cada vez mais populares no Brasil. Segundo dados do portal e-Comerce, os games movimentaram R$ 3 milhões de reais e geraram cerca de 300 mil empregos somente em 2014.
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Por conta da popularidade, que alcança a casa de centenas de milhões de jogadores pelo globo, alguns jogos como Counter Strike (CS), Dota2, League of Legends (LoL) e Rainbow Six Siege (R6) estão sendo alçados a categoria de e-Sport (ou esporte eletrônico). Tendo atletas e equipes profissionais, competições e grandes premiações em todo o mundo. Além de serem transmitidos por canais de televisão como ESPN e SporTV.
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O mundo digital está aberto para todos que tenham um celular, computador ou tablet com acesso à internet, não importando a idade, cor, credo, classe social ou gênero do indivíduo. Porém, as mulheres tem se deparado com um ambiente bastante sexista. Muitos homens se escondem atrás do anonimato de apelidos e avatares para assediar ou cometer atos machistas.
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“Ser mulher não é xingamento, não é uma ofensa, não é para ser usado para diminuir ninguém. Porque ser mulher não é ser menor”
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No dia 09 de Setembro, a jogadora de R6, Laura Lauer, 20, conhecida pelo apelido de “LittleVelma” estava fazendo um streaming (mostrando ao vivo sua partida), quando, ao ser descoberta como mulher, foi morta no game por um membro de sua própria equipe. Incrédula, a gamer logo começou a chorar e abandonou a live.
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O caso de “LitleVelma” teve ampla repercussão nas comunidades de e-Sports do Brasil. Algumas das maiores ciberatletas do país, como a streamer Malena, gravaram vídeos em apoio a gamer e condenando o machismo nos jogos online.
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“Não fiquem quietos diante desse tipo de comportamento, galera. Ser mulher não é xingamento, não é uma ofensa, não é para ser usado para diminuir ninguém. Porque ser mulher não é ser menor. Ser mulher também não é ser maior. Ser mulher é ser igual a qualquer outro homem, qualquer mina trans, qualquer homem trans. É ser humano”, disse Malena, no vídeo publicado em seu canal no Youtube.
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“Se não existe diferença entre homens e mulheres jogando, por que precisamos criar um time feminino?”. Entrevista com Isabella Capistrano
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“Sou Isabella Capistrano, mais conhecida como kpis ou também como a menina murloc. Sou administradora da pagina Kpis em Azeroth e do site MurlocNews. Ambos são do universo Blizzard Enterntainment (produtora de jogos como Word of Warcraft e Overwatch). Sou gamer desde os 4 anos e super apaixonada pela blizzard.
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Tenho 24 anos. Sou bióloga e faço mestrado em ensino de Ciências pela Unicamp. Sou jogadora de Overwatch , manager de HS e diretora de e-Sport da Unicamp Tritons, um dos principais times universitários, e estou me preparando pra assumir a presidência do time no ano que vem.
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Os principais jogos que fazem parte da minha vida é o World of Warcraft, o qual jogo há 11 anos e meio, e o Overwatch. O meu tipo de jogo favorito e RPG. Gosto da ideia de criar um personagem e fazer as aventuras. Vivenciar tudo que o jogo proporciona. Nunca fui muito de FPS até a Blizzard lançar o Overwatch.”
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“Na época que comecei a fazer stream, passei algumas vezes por situação de caras chegarem ‘AMOSTRA AS TETA!’ ou mandando mensagens vulgares e coisas assim”
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Você já se escondeu nos jogos com medo de mostrar que era mulher?( usar nick masculino ou neutro, não falar, não se identificar como mulher)
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“Nunca fiz questão de mostrar que sou mulher por dois motivos: Um: para mim não faz nenhuma diferença homem ou mulher jogando; Dois: por insegurança. Kpis é um nick (apelido) neutro. É um nick que veio do meu sobrenome e por isso não dá para saber se é uma mulher ou homem. No geral, eu evito falar que sou mulher, mas não escondo propositalmente e nem sempre dá, porque na hora de digitar as vezes pode sair um pronome feminino e logo percebem né? Eu herdei a conta do meu pai do World of Warcraft e continuei jogando com os personagens dele. Por isso tenho três personagens masculinos e eles já me ‘salvaram’ nessas situações por conseguir esconder mais”.
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Qual a frequência que você joga? E qual a frequência de algum comentário ou ataque machista?
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“Atualmente eu jogo umas quatro, cinco vezes por semana. Mas não mais do que três horas por dia. Por questão de que eu tenho meus outros compromissos. Meu mestrado, pratico karatê, saio com o namorado (que também joga, nos conhecemos porque ele era meu do time do Inatel), administro meu time, dou aula. Quando eu era mais nova ,eu jogava todos os dias por pelo menos dez horas. Lembro que, nessa época, eram quase todos os dias um comentário desagradável. Agora a frequência dessas situações está menor. Tenho duas hipóteses. Uma: como eu estou jogando menos, isso significa menos tempo ‘sujeita’ a receber esse tipo de assédio; Dois: sinto que a comunidade está amadurecendo, principalmente no caso do Overwatch que é um dos jogos no qual você encontra mulheres com muita frequência. A comunidade da Blizzard, em geral, é mais velha e o Overwatch é um jogo lançado recentemente e logo foi ‘invadido’ pelo público feminino, o que pode fazer com que esse jogo seja mais agradável para nós”.
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Já deixou de jogar algum jogo, por algum período ou permanentemente por causa dessas situações?
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“Já parei de jogar por alguns períodos por esse motivo. Com 14 anos, eu parei de jogar por causa do meu ex que não aceitava ter uma namorada gamer. Em 2013, parei de jogar por ter sido expulsa de uma página que eu administrava e o machismo era um dos argumentos que usaram pra justificar. E agora, no começo de Setembro passei por uma situação bem chata que me deixou sem jogar por um mês”
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Você se sente confortável jogando? Ou joga já esperando ou com medo de comentários ou situações machistas?
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“Hoje eu me sinto mais confortável jogando, principalmente porque no WoW (World Of Warcraft) eu jogo muito com meu namorado ou com amigos de longa data. No OW (Overwatch), quase sempre estou jogando com meu namorado ou com alguém do time o que torna um ambiente mais ‘seguro’ pra mim”
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Pode me contar alguns casos que já sofreu?
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“Viish, foram tantos. Vou comentar os mais marcantes. Já aconteceu de eu entrar em um grupo no WoW e comentarem que expulsaram a antiga ‘tank’ do grupo porque estava ‘tankando’ mal, até ai ok. Então, justificaram que era por ser mulher, mas eles estavam felizes que eu estava ‘tankando’ bem. Agradeci e comentei que então era uma prova de que mulher pode “tanka”r bem. Não passou nem 5 segundos, eles me expulsaram do grupo. Na época que comecei a fazer stream, passei algumas vezes por situação de caras chegarem ‘AMOSTRA AS TETA!’ ou mandando mensagens vulgares e coisas assim. Eu ficava surpresa porque eu estava fazendo live com agasalho super fechado, nem tinha peito para falar ‘ah mas você tava provocando né?’. E mesmo se eu estivesse, isso não dá a liberdade pra esse tipo de comentário. Já perguntaram no meio de campeonatos se algum time tinha mulher jogando, falaram de mim, começaram a fazer comentários apenas sobre mim. Também já me perguntaram se meu time tem algum tipo de conta pra mulher pra justificar eu estar no time”.
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Como isso impacta na sua vida? Considerando que você joga desde muito cedo e isso faz muito parte da sua vida, como essas cenários tóxicos para mulheres fazem você se sentir?
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“Desde criança eu lido com isso. Comentários das pessoas falando que mulher não pode jogar, que é feio mulher jogando, que mulher deveria ser cuidadosa e se arrumar (nunca entendi a relação, tem muita mulher gamer que super se produz). Por um tempo eu tentei parar de jogar porque o ‘mundo’ dizia que não era o meu lugar, até hoje eu escuto alguns comentários ‘nossa mas você joga? É difícil ver mulher jogando’. Será que é tão difícil? Cinquenta por cento do público de games são mulheres, cadê elas?”
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Como as pessoas nos jogos agem nessas situações? Ajudam? Ajudam a xingar? Dão suporte? Como se comportam de acordo com suas experiências?
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“No geral eu não vejo o pessoal dando muito suporte. Às vezes apenas dá risada ou te manda mensagem no privado te dando apoio. Mas não enfrenta o cara no grupo, nem sempre reporta para a empresa”
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Você como alguém envolvida não só em jogar mas no competitivo, é tratada diferente por ser mulher? Acha que esse universo competitivo e tão ou até mesmo mais machista do que a comunidade normal dos jogos?
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“Acho que essa pergunta pode ser respondida com: você já observou a quantidade de times femininos que existem? Atualmente vemos um crescimento desses times, mas já pararam para pensar o porquê? Se não existe diferença entre homens e mulheres jogando, por que precisamos criar um time feminino? A resposta mais comum é questão de mulheres se sentem mais confortáveis jogando com mulheres. Mas também tem a questão que times femininos podem aumentar a segregação, já que podem pensar ‘nossa tem time feminino porque mulher não pode jogar contra homem’. Então é bem difícil. Se você pesquisar no Google rapidinho, você encontra várias notícias de machismo no e-Sport. Por exemplo: campeonato feminino tem premiação cerca de cinco vezes menor’. E o problema pode estar muito mais acima, como a própria empresa de desenvolvimento do jogo ter essa situação, como o caso da Riot Games”
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Machismo no ambiente profissional
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Jogadora “LittleVelma” e “Krips” não estão sozinhas. Os acontecimentos envolvendo as gamers foram só mais alguns exemplos em meio ao mar de casos de machismo que ocorrem diariamente no ambiente virtual.
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Em 2016, a RIOT Games, empresa responsável pela criação do LoL, lançou a campanha #FlightLikeAGirl. A proposta da produtora era ironizar a preconceituosa frase “você joga como uma mulher”.
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“A ideia do projeto [Fight Like a Girl] surgiu como um desabafo pela falta de mulheres protagonistas fortes (e não sexualizadas) em games e filmes e com as ilustrações, homenageá-las”, comentou a ilustradora brasileira Carolina Porfírio, mais conhecida como a Kaol, em entrevista ao portal IGN. A desenhista foi a responsável por fazer as ilustrações utilizadas pela RIOT no Brasil.
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Galeria
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Crédito: Ilustrações feita pela Kaol Porfírio para o projeto “Fight Like A Girl” (Foto: Reprodução)
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Crédito: Ilustrações feita pela Kaol Porfírio para o projeto “Fight Like A Girl” (Foto: Reprodução)
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Crédito: Ilustrações feita pela Kaol Porfírio para o projeto “Fight Like A Girl” (Foto: Reprodução)
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Crédito: Ilustrações feita pela Kaol Porfírio para o projeto “Fight Like A Girl” (Foto: Reprodução)
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Crédito: Ilustrações feita pela Kaol Porfírio para o projeto “Fight Like A Girl” (Foto: Reprodução)
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Crédito: Ilustrações feita pela Kaol Porfírio para o projeto “Fight Like A Girl” (Foto: Reprodução)
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Quando entro no jogo, sempre me pedem para adicionar no Facebook ou mandar ‘nudes’. Eu só quero jogar!
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Cansadas de sofrerem assédio e de terem que conviver com um ambiente tóxico, um grupo de mulheres tem se organizado para promover torneios exclusivos para o público feminino. O coletivo “Rexpeita Elas” já organizou duas edições do torneio. A primeira em 2016 com 23 equipes e a segunda com 21.
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“Quando entro no jogo, sempre me pedem para adicionar no Facebook ou mandar ‘nudes’. Eu só quero jogar! Quando converso com outras mulheres, elas sempre relatam assédio e xingamentos. Dizem que a gente não deveria estar jogando, que lugar de mulher é na cozinha lavando louça. Xingam de vadia, de vagabunda… Essas coisas vão afastando as garotas”, disse a jogadora Julia Gandra Neves, 28, criadora do grupo “Rexpeita Elas”, em entrevista ao O Globo.
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“Não queria ter essa fama. Não quero ser a coitadinha do prêmio. Quero ser uma jogadora que merece estar lá”
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Mais recentemente, a última a sofrer com o machismo foi a jogadora de Rainbow Six Siege, Danielle “Cherna”, 18. A ciberatleta é a única mulher entre os indicados em sua categoria ao Prêmio eSports Brasil, uma das maiores premiações da América Latina. Porém, depois de sua indicação, “Cherna” passou a ser alvo de diversas mensagens preconceituosas em redes sociais.
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“Eu estou jogando, e as pessoas estão desmerecendo. Os que me prejudicaram muito meu psicológico foram os que disseram: ‘Você não sabe jogar, você está aí há três anos aí porque é idiota, não merece nada do que está tendo’. Eu vejo todo meu trabalho, desde o começo do Rainbow Six. As pessoas não estão nem aí, e isso me prejudica muito. Não queria ter essa fama. Não quero ser a coitadinha do prêmio. Quero ser uma jogadora que merece estar lá”, contou Cherna em entrevista ao canal de tevê por assinatura SporTV.
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Machismo de cada dia
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Para além das jogadoras profissionais, que possuem maior visibilidade, muitas meninas sofrem, diariamente, com o preconceito em jogos online. São comentários machistas, ofensas, assédio e todo tipo de depreciação que as gamers são obrigadas a vivenciar apenas por estarem tentando fazer algo que gostam.
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Nossa equipe de reportagem colheu alguns depoimentos sobre casos de assédio e machismo que aconteceram na vida de algumas jogadoras amadoras e como elas se sentiram com isso. Confira no vídeo abaixo. A locução é de Maria Clara Ferreira e Thays Aguiar:
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