Saiu no site G1
Veja publicação original: Em ‘Ilha de Ferro’, Maria Casadevall diz que ‘machismo afeta todos os tipos de relações’
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Ao G1, atriz comenta papéis em séries no Globoplay e Netflix. Ela fala da força de seus personagens: ‘Coragem não é produto que se encontra na prateleira de supermercado’.
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Por Marília Neves
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A primeira temporada de “Ilha de Ferro” acabou de estrear, mas Maria Casadevall já está gravando cenas da segunda leva de episódios da série disponível no Globoplay.
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Nos 12 episódios já disponíveis na plataforma, Casadevall é Julia, uma estudante de Engenharia do Petróleo. Ela ingressa em uma plataforma de exploração e enfrenta um ambiente bem masculino. Com isso, Julia atrai olhares logo em sua chegada e precisa lidar com o machismo nosso de cada dia.
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“A primeira temporada tratou a questão de forma permanente, cotidiana e estrutural, revelando como o comportamento machista afeta todos os tipos de relações desde as afetivas até as profissionais, assim como ainda acontece, infelizmente, na nossa realidade contemporânea”, explica em tom de desabafo em entrevista ao G1.
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Questionada se a força e independência de Julia refletem no que Casadevall é na vida real, a atriz analisa: “Tudo é processo. Nossa personalidade, além da essência que nasce com a gente, também é fruto das nossas experiências adquiridas e da nossa busca por conhecimento”.
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“Para experimentar o destemor precisamos entrar em contato com o medo, dialogar com ele. A coragem não é um produto que se encontra na prateleira de um supermercado. Existe um processo pra cada ser humano, muitas vezes doloroso, que nos faz caminhar em direção a ela”.
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E se tem uma coisa que Casadevall tem é coragem. Ela não teme, por exemplo, dar à cara a tapa em seus posts nas redes sociais, onde aborda temas polêmicos, defende diversas causas e luta pelo o que acredita, independentemente das críticas e agressões verbais que possa receber.
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“Apenas ajo de acordo com as minhas urgências, pois os temas que abordo são aqueles que me afligem, que me preocupam e que me colocam em movimento no mundo enquanto artista”.
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“Todas as nossas escolhas são políticas, fruto da nossa percepção de mundo e de como escolhemos ocupa-lo com as outras pessoas que fazem parte dele. É uma atitude política desde o cafezinho que tomo pela manhã até as escolhas sobre os trabalhos que faço”, aponta.
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Entre posts com suas opiniões e de divulgação de trabalhos, Casadevall dispensa de suas páginas os publieditoriais, prática comum para muitos artistas.
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“É uma opção preservar o único espaço que me permite criar uma comunicação direta entre mim e o mundo quando não estou em função do meu trabalho, representando alguma personagem”.
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Série sobre feministas nos anos 50
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Antes de estrear como Julia em “Ilha de Ferro”, Casadevall também trabalhou em cima de Maria Luiza, sua personagem na série “Coisa Mais Linda”, com estreia em 2019 no Netflix.
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Protagonista da trama, Maria Luiza, uma moça conservadora e dependente do marido e do pai, vê sua vida dar uma reviravolta depois que o marido desaparece em uma viagem.
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Ela, então, passa a descobrir um novo mundo na companhia de mulheres feministas e liberais interpretadas por Adélia (Pathy Dejesus), Lígia (Fernanda Vasconcellos) e Thereza (Mel Lisboa). Isso tudo na década de 1950.
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“Para que a Julia pudesse existir, foi preciso que mulheres como Maria Luiza tivessem existido antes dela, aberto caminhos e conquistado direitos”.
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“A liberdade da mulher de hoje é fruto de um processo de luta histórico de nossas ancestrais. Assim como nós hoje estamos na luta pela garantia e pela conquista de mais direitos para as mulheres de hoje e para as que virão nas próximas gerações”.
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Apesar das décadas de diferença, Casadevall vê semelhanças entre ela e sua personagem.
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“Tenho em comum com a Maria Luiza o hábito do sonho, de achar sempre que é possível qualquer ideia que brotar na minha cabeça. Também temos em comum certo incômodo com a realidade tal qual ela nos é apresentada como sendo ‘natural’, o funcionamento normal do mundo”.
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“Mas evidentemente vivemos realidades muito distintas, em épocas diferentes, o que nos distancia em termos de atitudes e comportamentos”.
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Maria Casadevall — Foto: Thiago Duran/AgNews
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Escolha de trabalhos
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Nos papéis de Julia e Maria Luiza, Casadevall está em produções disponíveis em plataformas de streaming, cada vez mais crescentes.
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“Vejo como um novo horizonte de possibilidades para todxs que trabalham com audiovisual seja na frente ou atrás das câmeras”.
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Não há falha na grafia. Casadevall costuma usar o “x” no lugar dos artigos, defendendo assim a igualdade de gêneros. O tom político de Casadevall segue também quando ela fala do processo de escolha de seus personagens.
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“O primeiro critério é o meu papel como leitora, saber se o que leio me interessa e o que me desperta. Depois analiso a personagem e se ela tem a ver com o que quero comunicar naquele determinado momento e quem irá conduzir e contar essa história (quem será a diretora ou o diretor) e como irá conduzi-la, sob qual perspectiva, através de qual linguagem…”
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Maria Casadevall em imagem publicada em seu Instagram — Foto: Reprodução/Instagram
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