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Veja publicação original: “Nas últimas 72 horas recebemos 78 queixas de violência doméstica”
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“Nas últimas 72 horas recebemos 78 queixas de violência doméstica“. A contagem é feita desta segunda-feira, 19 de novembro, para trás e apresentada pelo Tenente-Coronel da GNR, Paulo Poiares, no painel “A Invisibilidade da Violência no Namoro”, uma das conversas da VIII Conferência Corações Capazes de Construir, que se realizou esta tarde, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
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Os números ficam acima da média do fim de semana anterior, como acrescentou ao Delas.pt, o militar da GNR, no final do debate, e não detalham, ainda, os referentes à violência no namoro, que atualmente, se cifram, em termos de média anual, em “duas queixas por dia”. E os casos que envolvem menores, nem sempre chegam às autoridades.
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A conferência promovida pela associação Corações Com Coroa, presidida por Catarina Furtado, realiza-se a pouco menos de uma semana de se assinalar mais um Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, a 25 de novembro. E a data que remete para um problema que a maioria dos jovens ainda sente tão distante de si – uma coisa que só afeta os adultos – existe por causa de um comportamento que se eterniza e começa na infância e na primeira socialização de rapazes e raparigas, como foi sendo sublinhado ao longo do painel sobre violência no namoro.
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“87% das crianças, quando a mãe é vitima de violência, assistem aos atos, 70% destas crianças são elas próprias vitimas”, lembrou Dalila Cerejo, socióloga do Observatório Nacional para a Violência e Género, abordando dados de um estudo regional mas que lança pistas para o que a psicóloga Milice Ribeiro Santos define como “os modelos de identificação”, sejam familiares, de base, ou de círculo de amigos, “que podem ser estruturantes ou não” e que são um “fator de risco para exercer ou sofrer de violência”.
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É preciso, por isso, defende Dalila Cerejo ” olharmos para os contextos emocionais”. “O contexto emocional para que a menina, desde muito pequenina, é socializada potencia a violência e a aceitação dessa violência”. Seja sob a forma de violência física, seja sob a forma de subjugação, humilhação ou controlo, estes comportamentos começam a evidenciar-se desde cedo, reforçando-se na adolescência, entre pares, sem que, muitas vezes, os jovens se deem conta disso.
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Como explica o professor de português do Ensino Secundário e Presidente da Associação de Professores para a Educação Intercultural, Paulo Feytor Pinto, atitudes como controlar o telemóvel da namorada ou namorado e aceitar isso como algo normal, são vistas pelos jovens como fruto da idade e não como um comportamento que também se reproduz na vida adulta e que pode agravar-se com o passar dos anos.
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Da mesma forma que algo que parece uma prova de amor no começo de um relacionamento nem sempre o é. Como Dalila Cerejo sublinha, “a violência doméstica começa precisamente no namoro. Começa no ciúme, que no início parece lisonjeiro, mas que depois começa a escalar” e “o que os dados mostram desde 1995 é a transversalidade da violência no contexto da intimidade, da faixa etária ao estrato social”.
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Por essa razão, considera que”a prevenção começa na educação e deve começar logo no pré-escolar (…) É o tempo fundamental para começarmos a atacar o poder assimétrico entre homens e mulheres”, acrescenta, referindo-se ao que considera ser um momento de retrocesso mundial em matéria de igualdade, sobretudo, ao nível do discurso político, carregado de retórica misógina, por parte de alguns líderes mais populistas.
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Paulo Feytor Pinto também põe a tónica na importância da educação para uma sociedade com maior igualdade de género, mostrando a relação entre a qualidade do sucesso escolar e o insucesso escolar, a violência e o género.
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“A generalidade dos processos disciplinares são de rapazes”, ilustra. No terceiro ciclo, que leciona, a qualidade do sucesso escolar, que associa à aprendizagem das disciplinas tradicionais outras como as da cidadania, os números também são expressivos: “99% dos alunos que têm negativa são rapazes e os que têm 4 e 5 são predominantemente raparigas”.
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A escola é, por isso, um dos eixos de intervenção da associação Corações Com Coroa que levou ao auditório da Gulbenkian também a partilha de experiências das jovens bolseiras da associação e dos atores que integram o projeto ‘CCC vai à Escola”.
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A conferência serviu ainda para lançar o vídeo da campanha contra a violência no namoro, “O que é ser Normal? Apontar o dedo ao Mal”, com música de Tiago Bettencourt e letra de Catarina Furtado.
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