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Veja publicação original: Falta de recursos, assédio e tripla jornada: As dificuldades de ser prefeita no Brasil
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Pesquisa do Instituto Alziras revela que 53% das prefeitas brasileiras afirmam ter sofrido assédio ou violência política pelo simples fato de serem mulheres.
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Por Leda Antunes
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Mais bem preparadas e com experiência na gestão pública, as mulheres ainda são subrepresentadas na política institucional e comandam apenas 11,7% das prefeituras brasileiras. Para chegar ao cargo, elas enfrentam e superam uma série de dificuldades, que vão desde a falta de recursos para campanha, à violência política e o acúmulo de tarefas profissionais e domésticas.
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A realidade das prefeitas brasileiras foi retratada em estudo inédito, feito pelo Instituto Alziras, divulgado nesta terça-feira (13), no Rio de Janeiro. O instituto leva este nome em homenagem a Alzira Soriano, primeira mulher a assumir uma prefeitura no Brasil, na cidade de Lajes, no Rio Grande do Norte, em 1928. O levantamento ouviu 314 das 649 prefeitas eleitas em 2016 e identificou os principais obstáculos que elas enfrentam cotidianamente apenas por serem mulheres e estarem ocupando espaços de poder.
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A falta de recursos para campanha foi citada por quase metade (48%) das prefeitas ouvidas pela pesquisa. “Isso reforça a importância da recente decisão do Supremo Tribunal Federal de garantir pelo menos 30% dos recursos do fundo partidário e do fundo eleitoral para a candidaturas de mulheres”, explica Michelle Ferreti, co-diretora do Instituto Alziras e co-autora do estudo “Perfil das Prefeitas no Brasil (2017-2020)”. Eleitas em 2016, as entrevistadas fizeram campanha antes da nova regra entrar em vigor.
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O assédio e a violência simbólica foram citados por 30% das prefeitas como uma das barreiras mais significativas ao longo de sua carreira política – mais da metade delas (53%) afirmou já ter sofrido algum tipo de ataque, abuso ou ameaça pelo simples fato de ser mulher. Esse percentual varia conforme a idade e a escolaridade das prefeitas. A percepção da violência é maior entre as mais jovens e mais escolarizadas.
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Ao indicarem até três principais violências e assédios sofridos, a maior parte das prefeitas (43%) afirmou já ter sido vítima de ataques verbais insinuados ou diretos e 42% declararam ter sido alvo de ataques que as tenham ridicularizado, menosprezado ou reduzido sua capacidade a partir de sua identidade como mulher.
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Falta de espaço na mídia em comparação com políticos homens (24%), desmerecimento de seu trabalho ou de suas falas pelo fato de ser mulher (23%), sobrecarga de trabalho doméstico (22%) – metade das prefeitas ainda é responsável por fazer as compras no supermercado – e a falta de apoio do partido ou da base aliada (22%) também aparecem entre dificuldades vivenciadas pelas prefeitas. Apesar das dificuldades, 56% delas pretendem concorrer a outras eleições no futuro.
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“Não adianta a gente querer garantir a participação de mais mulheres na política se a gente não pensar em mecanismos para protegê-las. O que a gente está querendo aqui não é só dar visibilidade e produzir narrativas que valorizem o trabalho das mulheres, mas também pensar o custo pessoal que elas pagam”, afirma Ferreti. “Não se trata de construir heroínas, se trata de problematizar o tamanho do esforço e da dificuldade que elas enfrentam para poder estar nesses lugares”, completa.
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Mais preparadas e com mais mulheres
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Quando chegam ao poder, as prefeitas tendem a abrir mais espaço para que outras mulheres ocupem cargos importantes na gestão dos municípios. A pesquisa do Instituto Alziras mostra que 55% das prefeitas eleitas em 2016 tem pelo menos 40% do seu secretariado formado por mulheres. “Os municípios são porta de entrada para outras mulheres na política”, comenta Ferreti.
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O levantamento mostra ainda que elas não chegam ao posto por acaso. Sete em cada dez das entrevistadas já haviam ocupado outros postos de eletivos ou de confiança na administração pública, 30% já tinham sido eleitas vereadoras e 88% tiveram atuação política, seja dentro de partidos, associações ou em movimentos sociais.
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Elas também são mais bem preparadas que os prefeitos. Enquanto 71% das mulheres possuem ensino superior completo, isso é válido para somente 50% dos homens. Apesar disso, elas ainda chefiam os menores e mais pobres municípios do país: 91% ocupam o posto em cidades com até 50 mil habitantes.
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A única capital que elegeu uma mulher à prefeitura em 2016 foi Boa Vista (RR): Teresa Surita (MDB) atualmente exerce seu quinto mandato na cidade. Palmas (TO) e Rio Branco (AC) também passaram a ser comandadas por mulheres neste ano, pois os prefeitos eleitos deixaram o cargo para concorrer nas eleições estaduais e federais. Os postos foram assumidos pelas respectivas vice-prefeitas.
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O Rio Grande do Norte, estado que elegeu a primeira prefeita do país em 1928, foi o único a eleger uma mulher governadora no pleito deste ano, a senadora Fátima Bezerra (PT). Na Câmara dos Deputados, o percentual de mulheres subiu de 10% para 15% e bancada feminina terá 77 deputadas a partir do ano que vem.
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