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A solidão da mulher negra

Saiu no site CORREIO

 

Veja publicação original:  A solidão da mulher negra

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Por Flavia Azevedo

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E quando a interseção de duas condições (ser mulher E negra) traz uma realidade específica? E quando se é mulher trans e negra? Hoje, psicólogas negras da Bahia falam sobre A SOLIDÃO DA MULHER NEGRA. Vivência e estudo resultando em olhares diversos. Solidão como imposição ou resistência e protagonismo? Estão aqui umas pílulas, provocações de reflexão pra você.

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Deise Monteiro (psicóloga e psicoterapeuta sistêmica) 
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“Desde a infância, a menina negra sofre para encontrar amigos e sentir-se aceita nos grupos. E mesmo no século XXI, muitas delas ainda seguem excluídas em diversos contextos. Quando adolescentes, adultas, a solidão segue presente na escola, nas amizades, nas baladas, nas universidades e no trabalho. (…) Falar sobre a solidão da mulher negra é trazer à tona temas historicamente negligenciados. (…) A desvalorização social da população negra no Brasil, de longa data, também tem estimulado os jovens negros a procurarem “clarear a família”. Esse é mais um contexto que evidencia a vantagem para o homem negro, diante da possibilidade de uma ascensão social, mas de muita desvantagem para a mulher negra, uma vez que o seu preterimento culmina na humilhação e solidão”.

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Naira Cardoso (psicóloga infantil)

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“Todos os dias rompemos com paradigmas existentes no imaginário social, que normalmente não nos colocam como sujeitos produtores de saber. Na minha história de vida a “solidão da mulher negra” sempre ocupou um lugar de resistência e protagonismo.
Resistência por ser a única motivadora das minhas escolhas e protagonismo por ser a única dentro da simbologia de MULHER e NEGRA a conquistar meu espaço dentro do meu contexto”.

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Juliana Santos (psicóloga clínica especialista em terapia familiar)

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“A solidão da mulher negra está em ser selecionada para uma vaga de emprego e ouvir, no primeiro dia, do supervisor, que ele tem preferência pela outra candidata (branca), entre um sorriso de cinismo. Você apenas sorri, lembra do seu potencial, do quanto aquela oportunidade é importante para sua carreira e promete, internamente, que vai provar sua capacidade. Meses depois, conquista um cargo superior”.

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Ariane Senna (psicóloga, mulher trans, ativista social e secretária de juventude da Associação Nacional de Travestis e Transexuais – ANTRA)

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“A solidão da mulher trans, negra e periférica é a vivência de mulheres que existem em um não lugar do não lugar que as mulheres negras e cissexuais ocupam. É a solidão de ter que conviver o tempo inteiro com a negação da afetividade em seu âmbito afetivo e sócio-familiar. É a solidão de não pertencer a uma família, de não ter uma rede de amigos, de ser excluída de diversos espaços só por serem quem são. É ter que aceitar isso, na maioria das vezes, como uma condição “normal” da sua existência”.

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Samai Cunha (psicóloga, gestalt-terapeuta, mestra em psicologia pela Ufba)

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“A solidão da mulher negra  reside no fato desta ser vista, notada e desejada, mas não ser assumida. Homens brancos e negros aprenderam que, para terem status, devem apresentar uma mulher branca. Negras são apenas para entreter e dar prazer. Nos dias de hoje, com a emancipação do feminino, estar só é a saída para se autovalorizar numa sociedade onde o valor ainda está na cor e num padrão estético que anula todo e qualquer mérito de uma mulher “de cor””.

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Monica Daltro (psicóloga, psicanalista, doutora em Medicina e Saúde Humana)

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“Quero destacar a dimensão da  solidão como ato de resistência, não de insuficiência. Como compreendo, a solidão não é isolamento, não é um uma fuga do desprazer ou atitude individualista, pode ser, mas serve também como tentativas de criação de um espaço de proteção, de afirmação de suficiência. Uma escolha de quem não aceita qualquer coisa, qualquer amor, qualquer humor. Na dimensão amorosa, a solidão pode emergir para uma mulher como resistência ao imperativo “submeta-se”, “ aceite esse homem “; “caiba numa calça 36”, “alise o cabelo” , “ seja sempre gostosa”, “ a culpa é sua”. E porque temer a solidão? Afinal, na história, muitas  mulheres negras  sempre  estiveram sós e isso necessariamente não tem a ver com o amor. Acho até que a possibilidade de vivenciar a condição de solidão é um bom fertilizante para as possibilidades de encontros de amor em formatos mais éticos”.

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